TUSILA

Juiz Federal Ney Bello lança sua terceira produção literária

A pretensão do autor é de divertir os leitores em nove contos escritos entre a leitura de um processo e outro

'Tusitala' será lançado hoje, a partir das 19h, na Livraria e Espaço Cultural da Associação Maranhense dos Escritores Independentes (Amei), no São Luís Shopping, no bairro do Jaracati

Uma volta ao mundo em nove histórias. É dessa forma que o escritor, professor da pós-graduação da Universidade de Brasília (Unb) e juiz federal do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região Ney de Barros Bello Filho apresenta aos leitores a sua mais nova obra literária: Tusitala. O livro – que será lançado hoje, a partir das 19h, na Livraria e Espaço Cultural da Associação Maranhense dos Escritores Independentes (Amei), no São Luís Shopping, no bairro do Jaracati – reúne nove contos que foram escritos em locais e épocas diferentes. A edição contou com projeto gráfico do escritor Bruno Azevêdo e ilustrações do paulista Caeto Melo, que deu às histórias um tom forte em preto sem meios tons, construindo dinamismo às cenas construídas nos nove contos.

Segundo o escritor, as histórias geralmente são escritas a partir da observação de um detalhe do cotidiano, sejam dois desconhecidos conversando em um café, como no conto em Outra vida em Paris ou como em uma forma de entretenimento sui generis como em O boa-hora. Como define o próprio Ney Bello Filho na introdução da obra: “é apenas um livro de contos que pretende divertir, contar histórias, e nada mais!”.

Ney Bello Filho já havia publicado antes uma coletânea de crônicas escritas ao tempo em que eu era colunista Sacadas do Jornal O Imparcial. Segundo ele, Oitenta Semanas de Prosa são o fruto do período quando era cronista semanal do jornal. Como gênero genuinamente brasileiro suas crônicas falam muito do cotidiano ludoviscense. Logo após, publicou o livro de ensaios, em que expôs seu pensamento à época acerca da sociedade e do modo de viver nos tempos que correm. Como o próprio autor disse, Interlúdio “é o momento do ensaísta e pensador social”. Em seguida veio à lume um livro de poesias: Cartografias Heréticas no qual Ney Bello Filho fazia às vezes de repositório de singelas incursões suas na poética esquadrinhada. Agora, em Tusitala, um livro de contos, o escritor faz mergulho na total ficção em que ele se arrisca a mais pura literatura, sem muitos lampejos de análises ou recolhas de casos cotidianos. “É meu primeiro livro de contos, mas não a primeira ficção! Até a ciência é ficcional! Direito é ficção, por qual razão poesias, ensaios e crônicas também não seriam?”, indaga o escritor.

Na nova obra, Ney Bello Filho aposta na diversidade de personagens e cenários. O intrigante título Tusitala é uma homenagem ao escritor Robert Louis Stevenson, um dos vários escritores referendados em Tusitala. Foi este o apelido que o autor de A Ilha do Tesouro, Raptado e O Médico e o Monstro recebeu dos habitantes da ilhas dos mares do sul onde passou a residir por ordens médicas. “Tusitala é contador de histórias populares, como aqui os são os cordelistas”, explica Ney Bello Filho.

Sobre quanto tempo que levou para escrever Tusitala, Ney Bello Filho revelou durante entrevista a O Imparcial que não é “muito organizado” no exercício do personagem escritor. “Não sei ao certo! Escrevo por prazer, por destino e por compulsão. Todo leitor frenético torna-se-á um escritor por necessidade. Então, virei escritor! Talvez a primeira das minhas linhas escritas, no mais antigo destes nove contos tenha chegado ao papel há dez anos! Mas de fato eu não sei!”, disse ele tentando mensurar o tempo.

O que tem de real e o que tem de ficção em Tusitala? Segundo o próprio Ney Bello Filho, nada de concreto, como uma teoria. Apenas muito do real, como uma arte que não se afasta do mundo. “Só histórias abstratas e, exatamente por isso, bastante reais! A vida imita a arte e a arte copia a vida! Inevitável! Tusitala é uma obra de ficção e só existe para divertir! Não há intenção moral ou descritiva da realidade! Só quero arrancar do meu leitor avisado ou desavisado, risos e felicidades! Mas da mesma maneira que o garoto do subúrbio de São Luís pode se ver em Shakespeare – que é inglês e não alemão, e nunca foi filósofo -, é provável que muitos leitores se vejam refletidos nos personagens que eu criei”, acrescenta Ney Bello Filho.

Sobre o processo de criação, o escritor revelou que foi desafiador se deparar com personagens tão diferentes e com características tão próprias. E para explicar emendou: “Acho que foi Solinka que disse certa vez que escrevia para se confundir com Deus. Escrevia para ter a sensação de fazer nascerem e permitir morrerem pessoas, fatos e realidades!”, disse ele. De acordo com Ney Belo Filho, o autor cria os personagens e em um dado momento parece que eles têm vida própria. “Não somos nós, os escritores, que os guiamos, mas eles é que direcionam nossa criação! Foi delicioso escrever e inventar mundos e realidades! O processo de criação meu sempre foi um ato de pura diversão! Só escrevo feliz! Nunca escrevo triste. Poesia se deve escrever triste, dizia Tribuzzi. Contos não! Os contos são a arte da ficção feliz!”, pontuou o escritor. O lançamento de Tusitala contará ainda com apresentação musical, cocktail e palestra do autor.

Três perguntas/ Ney Belo Filho

O senhor sentiu algum tipo de dificuldade para escrever o livro?
Todas e nenhuma! Sinto-me livre quando escrevo e escrever é um ato de libertação. Uma aventura da criatura que vira criador e também uma espécie de Noé que recolhe personagens e fatos e os coloca numa arca sua, bem particular! Neste aspecto, dificuldade alguma: só prazer e facilidade! Por outro lado, quando se lê compulsivamente a comparação é desumana! Eu queria ser Borges, eu desejava ser Bioy, em tinha a aspiração de ser um Llosa! Impossível, inimaginável e escatológico! Logo, o rigor de conhecer quem realmente sabe escrever me comprime a uma estética que não possuo, e me obriga a um rigor de revisão que cansa e magoa! De fato, em matéria de literatura há uma certa felicidade na ignorância! Se eu não conhecesse Funes, o Memorioso e não houvesse lido A Casa Tomada, Tusitala me seria icônico! Como não é o caso, ele é só o sacudir da varinha de um aprendiz de feiticeiro que leu os bruxos do fim do mundo!

O que a literatura de Robert Louis Steven-son acrescentou na sua?
Somou na vida, acrescentou no caráter, adicionou na literatura! A Ilha do Tesouro, Raptado e O Médico e o Monstro foram clássicos que adquiri na minha pré-adolescência! Ele era um genial contador de histórias! O que tento em Tusitala é contar histórias, e nada mais! Daí a homenagem! Um pequena faísca fazendo homenagem a um vulcão da arte de contar histórias!

Qual a sua próxima produção? E quando pretende lançá-la?
Tenho um romance que precisa ser morto! Personagens que precisam sumir, morrer, cumprir seus destinos! Preciso fazer como Aluísio de Azevedo e descer as escadas de casa gritando e chorando: “eu matei Raimundo… matei Raimundo.” Américo Azevedo Neto conta isto com primor! E eu digo a você: quando matar Raimundo, quando tiver a honra e a glória de matar Raimundo meu romance terá chegado ao fim, e eu o publicarei! Não que meu romance seja O Mulato, longe disso, mas porque é assim a criação: paixão, amor, felicidade e dor! Terminarei em breve!!

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