Festival de bois de zabumba ocorre no sábado no Monte Castelo
Festival realizado há mais de duas décadas para preservar e resgatar as tradições do bumba-meu-boi de zabumba será realizado com a presença de grupos da capital e do interior do estado
O boi de zabumba, considerado um dos mais tradicionais sotaques do bumba meu boi do Maranhão, receberá mais uma vez um homenagem devido a sua importância. Acontece neste sábado (15), a partir das 18h, a 23ª edição do Festival de Bumba Meu Boi de Zabumba, na Avenida Newton Belo, no bairro do Monte Castelo, no mesmo local onde havia a antiga barrigudeira.
Abertura será feita pela Quadrilha Estrela do Sertão, por volta das 20h, e o Cacuriá Assa Cana. Em seguida, começam os desfiles dos bois de zabumba: Boi Brilho de São João da Liberdade, Boi Capricho do Oliveira, Boi Laço de Amor, Boi da Ivar Saldanha, Boi da Vila Passos (Canuto), Boi Brilho da Paz, Boi Bairro de Fátima (Dona Zeca), Boi Anjo do Meu Sonho, Boi Novo Capricho, Boi Unidos Pela Fé, Boi da Areinha, Boi Sempre Serremos Unidos, Boi Brilho de São João, Boi da Liberdade, Boi Unidos Venceremos, Boi de Guimarães e Boi da Fé em Deus.
Segundo Seu Basílio Costa Durans, que é coordenador do festival, presidente do Clube Cultural de Boi de Zabumba e Tambor de Crioula do Maranhão, os homenageados deste ano do festival são Marcelino Azevedo, do Boi de Guimarães, e Antonio Ribeiro, do Boi da Fé em Deus. Basílio Durans revelou a O Imparcial que o evento, que começou em 1994, tem como objetivo principal a preservação e o resgate das raízes do bumba meu boi de zabumba, que esteve em declínio nos últimos anos e quase entrou em extinção.
Realizado tradicionalmente em todo segundo sábado do mês de julho, este ano, o festival vai reunir 18 grupos culturais para essa festa da cultura popular. São 17 grupos de zabumba de São Luís e um do interior. “Este ano, apenas 18 grupos vão participar da festa. No ano passado, foram 23, mas, por falta de incentivo, muitos não foram convidados para fazer nenhuma “brincada” [apresentação], outros desistiram de sair neste São João. Por isso, mais uma vez, estamos realizando este festival para chamar a atenção das autoridades e do poder público para a importância da preservação do boi de zabumba, que está ameaçado de sumir daqui algum tempo, caso não se faça algo”, alertou Basílio Durans.
O Mestre Basílio, que hoje está com 68 anos, conta que brinca o bumba meu boi desde criança. Quando tinha 10 anos, ficou doente e sua avó fez uma promessa. Se ele ficasse curado, passaria a brincar o boi anualmente. Foi o que aconteceu, tanto que Mestre Basílio não parou mais. “Comecei como vaqueiro ainda menino no bumba meu boi Capim Seco no município de Peri Mirim. Gostei tanto que não me vejo hoje sem fazer parte desta brincadeira que tornou-se a razão do meu viver”, disse ele, lembrando ainda suas passagem por 36 anos no Boi da Fé em Deus e há três no Boi Brilho de São João da Liberdade II, do qual é o organizador.
Basílio Durans ressaltou ainda que, no início dos anos de 1990, o boi de zabumba passou por uma séria crise. As brincadeiras estavam desestimuladas com a falta de recursos e espaços para realizar apresentações. Quando isso ocorria, o público se afastava e não prestigiava a brincadeira. “Foi a partir dessa situação que surgiu a ideia de fazer um festival fora do período junino. Conversei com outros representantes da brincadeira para fazermos alguma coisa pelo boi de zabumba. Daí surgiu a ideia que originou o festival. Nós queremos incentivar os grupos existentes e continuar a ‘resgatar’ os grupos que foram esquecidos”, contou ele.
O mestre acrescentou que, assim como no ano passado, nesta edição do festival não haverá a encenação da “Comédia”, como ocorria em anos interiores, por falta de recurso. Em 2014, foi a primeira vez que ela aconteceu no festival com grupos dos municípios de Santa Helena e Pinheiro. O Festival de Comédias é uma das ações do Plano de Salvaguarda do bumba meu boi, registrado em 2011 como Patrimônio Cultural Brasileiro e que agora está na lista de candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade. “Não basta termos só este título se nós que fazemos a brincadeira não recebemos a atenção que merecemos. Até o momento não mudou muita coisa, é preciso que haja uma conscientização maior por parte das autoridades da importância do bumba meu boi. Precisamos ser valorizados. Somos nós que representamos a cultura do nosso estado”, disse Basílio Durans.
Sobre o sotaque de zabumba
A manifestação é tão importante que hoje integra a coleção de imagens produzidas pela equipe do projeto Diversidade Cultural e Identidade: Estudo Sobre Bumba Meu Boi de Zabumba em São Luís, da Universidade Federal do Maranhão, para o registro audiovisual do boi de zabumba no período de 2002 a 2007. A pesquisa foi desenvolvida com 15 grupos de boi de zabumba em São Luís.
Reconhecido popularmente como um dos estilos mais tradicionais do bumba meu boi maranhense, o sotaque de zabumba é originário da região do Litoral Ocidental Maranhense, mais especificamente o município de Guimarães. Caracteriza-se pelo uso do tambor de zabumba, instrumento que dá nomeação ao sotaque, coberto com couro de animais dos dois lados, o qual possui um som agudo e é tocado por uma baqueta grossa. Tem como personagens os rajados ou caboclos de fita, que vestem um saiote bordado com canutilhos, miçangas e paetês, por cima da calça, cujos chapéus são em forma de cogumelo, todo enfeitado com fitas. As tapuias, tradicionalmente, vestem-se com uma saia de ráfia, fibra desfiada dos sacos utilizados para transporte de cereais. Participam adultos, idosos e crianças. O auto é apresentado, sobretudo, nos rituais de batismo e da morte do boi, principalmente nas festas do interior. Os brincantes dividem-se nos papéis de amos, índias, rajados, vaqueiros, palhaços, pais Francisco, Catirinas e outros cômicos, assim como o próprio boi.
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFMA (Neab) também produziu o documentário audiovisual Ritmos da Identidade Afro-Maranhense: Boi de Zabumba para estudantes e pesquisadores sobre a manifestação.
Sobre Basílio Durans
Basílio Durans criou o Festival Bumba Meu Boi de Zabumba que, desde 1994, acontece todos os anos em São Luís. Por conta desse trabalho, ele foi um dos vencedores da 29ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Categoria I – Iniciativas de excelência em técnicas de preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural. Além de levar às ruas este saber popular e estas tradições, o festival procura fórmulas para transmitir o conhecimento com foco, principalmente, nos jovens.