SAÚDE

Cresce a procura por ervas medicinais em São Luís

Por causa desse aumento, profissionais de saúde alertam para riscos de automedicação com remédios naturais

Reprodução

É verdade que algumas pessoas se preocupam bem mais com a saúde que outras, mas ninguém, em sã consciência, quer ficar doente. Enquanto alguns procuram a orientação médica para saber como tratar uma gripe ou uma determinada dor com medicamentos vendidos em farmácias, outros buscam alternativas nas ervas e plantas medicinais vendidas em quiosques espalhados pela cidade. E esta procura por tratamentos alternativos tem crescido nos últimos anos no país. Em São Luís, não é diferente.

No Centro da capital, é possível encontrar estabelecimentos que vendem estas ervas a preços populares. Alguns destes produtos tão cobiçados pelos consumidores prometem resolver os mais diversos problemas de saúde: de uma simples tosse até doenças mais sérias. E a mistura de ervas com outras substâncias atrai quem precisa de uma cura com certa urgência.

Em um destes quiosques montados na Praça Deodoro, a venda destes produtos medicinais vai a todo vapor. Com um microfone na mão, Ualas Brito Pataxó faz a propaganda de suas “ervas milagrosas”. E ele pergunta a quem passa pelo local: “qual o seu problema? É colesterol, sinusite, gastrite, próstata, hipertensão ou impotência sexual?”. Para todo tipo de doença, existe um remédio “ideal”. Pelo menos é isso o que o vendedor garante sem desmerecer os medicamentos vendidos nas farmácias tradicionais.

“As vendas só aumentam, porque a televisão ajuda na medicina natural. Não temos preconceito com os remédios de farmácia, porque eles vêm das plantas. O nosso é natural e dá resultado”, explicou Ualas Brito Pataxó.

Ao comprar um determinado tipo de erva, o consumidor ganha explicação do vendedor sobre a posologia e o modo de preparo. Um dos argumentos para o aumento do consumo destes produtos está na descrença da população para com os remédios vendidos em farmácias. Alguns consumidores entrevistados por O Imparcial têm a plena convicção de que os medicamentos naturais possuem um efeito muito melhor.

“Não costumava comprar essas ervas, mas a maioria dos remédios de farmácia não surte efeito como antes. E estes naturais têm dado mais resultado. Mas, temos que usar com cautela”, afirmou o eletricista Cledinaldo Silva, que procurava medicamento para hipertensão ao lado da esposa e do filho.

Riscos

Apesar do crescimento de consumidores dos produtos naturais, a prática não é aconselhada por médicos e farmacêuticos, principalmente quando essas ervas são “receitadas” pelos próprios vendedores. A promessa em conseguir curar doenças pode acabar prejudicando ainda mais a saúde das pessoas.

“É um engano achar que essas ervas não causam problemas. O engano que a gente vê é quando há a interação entre medicamentos. Às vezes, você toma o medicamento da farmácia e toma também o chazinho e começa a passar mal. Aí você acha que está passando mal pelo medicamento que comprou na farmácia, mas você pode estar passando mal por causa do chazinho que pode ter potencializado o efeito do remédio”, afirma a farmacêutica Melissa Marisol.

Ela ainda explica que alguns medicamentos naturais podem ser usados em tratamentos de doenças, mas lembra a necessidade de ter orientação médica. “Eu sempre oriento o cliente a procurar um médico. Há organismos e organismos. Alguns medicamentos naturais fazem efeitos, tanto que existem medicamentos fitoterápicos. Mas, tem que haver estudos sobre aquela medicação, se aquela folhinha que aquele moço está vendendo é mesmo a folhinha que ele está dizendo que é. É preocupante o aumento do consumo sem a orientação especializada”, disse Melissa.

Alerta

A médica clínica-geral Graziela Medeiros, do Hapvida Saúde, faz um alerta sobre automedicação. Segundo ela, os pacientes precisam se conscientizar de que qualquer remédio, seja ele natural ou não, pode causar sérios efeitos colaterais. “As pessoas devem ter cuidado com os efeitos colaterais. O mesmo potencial que o remédio tem para curar, ele também tem para prejudicar o nosso organismo. E a intoxicação é uma das principais causas. A automedicação deve ser cautelosa, porque, de alguma forma, a medicação pode não fazer efeito para melhorar o quadro clínico do paciente. Em decorrência disso, muitas pessoas também estão buscando alternativas para melhorar a sua saúde”, destacou a médica.

Sem efeito

Nem todos os profissionais de saúde são favoráveis ao uso de ervas medicinais no tratamento de doenças. O médico hebiatra Antônio César Vieira dos Santos é contrário a estes medicamentos e rechaça a automedicação.
“Na verdade, não é bom para nada. O pessoal vende muita porcaria, muita baboseira. Esses chás não têm efeito nenhum. Nessa nossa medicina, muitos dos medicamentos já não têm tanto efeito devido muito à automedicação, onde os germes e bactérias vão criando resistência”.

TRÊS PERGUNTAS // Graziela Medeiros

O que é automedicação e por que acontece?

É a prática de ingerir medicamentos sem o acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Os principais fatos que levam a pessoa a se automedicar são: dificuldade de acesso à consulta médica, necessidade de imediatismo em conseguir uma melhora no quadro clínico, dentre outros fatores.

Plantas medicinais são remédios fitoterápicos?

Uma confusão muito comum e que precisa ser desfeita é usar os termos plantas medicinais e fitoterápicas como sinônimos. Os fitoterápicos são remédios que passam por uma rigorosa avaliação de segurança e eficácia em seres humanos, com uma concentração de ativos padronizados, o que nem sempre ocorre com plantas medicinais, com folhas para uso de chás. É preciso fazer essa distinção.

O que uma pessoa doente não deve fazer?

O mais importante de tudo é ressaltar a importância do indivíduo em buscar sempre a orientação de um profissional de saúde. Ficar atento aos efeitos colaterais quando está usando uma medicação e, em hipótese alguma, administrar uma dosagem maior ou menor do que foi prescrito para si. Isso com certeza causará prejuízos e danos para sua saúde.

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