Astro de Ogum está de olho na Prefeitura
Vereador desde 2000, Astro de Ogum (PR) se respalda em seu trabalho para conseguir se tornar o próximo prefeito de São Luís: “o povo avança comigo”.
De menino de rua, criado sem pai e nem mãe e que passou fome, a uma figura política importante em São Luís. Seu nome é Generval Martiniano Moreira Leite, mas certamente você o conhece apenas como Astro de Ogum. Eleito em cinco oportunidades seguidas vereador da capital maranhense, tornou-se presidente da Câmara Municipal e tem o trabalho reconhecido por seus pares e pelo povo por quebrar tabus, intolerância e preconceitos. Em entrevista exclusiva ao jornal O Imparcial, Astro de Ogum (PR) demonstra estar disposto a mudanças e explicita todo seu desejo em se tornar o próximo prefeito de São Luís.
Concorrer novamente à presidência da Câmara não faz parte dos planos de Astro de Ogum, que afirma ter entrado na política para trabalhar pelas comunidades. “Eu não gosto de me perpetuar em poder. Acho que perpetuação de poder é a maior burrice que pode ter. Isso aqui é transitório”.
Sem demagogia, analisa a relação entre os poderes Legislativo e Executivo e revela a existência de uma lacuna prejudicial à população. E é exatamente esse distanciamento entre poderes que atrapalha a entrada de recursos nas comunidades de São Luís. Apesar desta situação, mostra-se otimista com a aproximação entre o governo do estado e a prefeitura.
Astro de Ogum destaca ainda as prioridades da Câmara Municipal para o segundo semestre do ano. Algumas das discussões prometem ser polêmicas, como a elaboração de um novo Plano Diretor, a regulamentação do Uber e a análise das contas de ex-prefeitos de São Luís.
Qual é o fenômeno da trajetória do homem Gerneval, que se tornou essa figura política Astro de Ogum?
É uma dádiva de Deus tudo o que acontece na minha vida. Não me considero uma pessoa incomum. Me considero uma pessoa comum dentro da realidade. Acho que é isso que me constrói. Eu respeito primeiro a Deus e depois a humanidade.
Antes de ser político, como o senhor via a relação dos poderosos com a população?
Sempre achei uma diferença essencial muito forte. A avaliação que eu faço agora já é um pouco diferente. Hoje, acho que os governos estão se aproximando mais da população. Eles estão vendo que essa fórmula de gabinete não funciona mais. Hoje, o povo vai às ruas e fala alto. A coisa foi mudando.
Por isso que sua gestão quer ser marcada por trazer o povo para perto da Câmara?
Eu vim das minorias. Eu fui menino de rua. Fui criado sem pai nem mãe. Eu sei o que é fome, o que é dificuldade, o que é falta de moradia. Eu não fui criado em berço de ouro. Hoje eu busco exatamente não fugir da minha origem, não deixar que pode me envaideça, ou me transforme diante daquele povo que mudou a minha vida. Então, a minha obrigação com o povo que mudou a minha vida é tentar, pelo menos, retribuir uma recíproca verdadeira. Aqui quebrei tabus, intolerância e preconceitos. Eu fui eleito por unanimidade duas vezes aqui nesta Casa a qual agradeço a Deus e aos pares. Aqui na Casa eu não conheço oposição contra mim.
Hoje, especula-se um novo mandato seu. Como seria isso?
Eu sempre pautei minha vida com conjunturas. Primeiro, vou olhar como estão as coisas porque a gente tem outras coisas para frente. Eu não gosto de me perpetuar em poder. Acho que perpetuação de poder é a maior burrice que pode ter. Isso aqui é transitório. Eu olho muito por esse aspecto. Tenho ainda um ano e meio de presidência e dois anos como vereador normal, então há muita coisa para se pensar. E no que depender da conjuntura e o que Deus determinar, assim será.
Então, o próximo passo do Astro seria pensar na disputa pela Prefeitura de São Luís?
Não nego que penso na prefeitura. Não vou negar até porque o trabalho que tenho me respalda a isso, principalmente com esse povo humilde de São Luís. Não vou negar que penso nisso. Sou vereador em cinco mandatos. Cada vez mais votado. Sou o único político aqui da Câmara do ano 2000 para cá. Só resta eu. Do ano 2000, sou o último dos moicanos. A gente vê que o povo avança comigo. E isso eu sou muito grato a esta população maravilhosa.
O senhor entende que o Poder Executivo entende a prioridade da população?
Esse entendimento do Executivo é muito complexo, porque a gente da Câmara não está lá dentro do alto clero. O vereador é porta-voz da população. Passamos essa mensagem para o Executivo e aí é complicado, porque o Executivo sempre está dizendo não. A casa do povo mesmo, que eu considero, é a Câmara Municipal. Não estou querendo menosprezar as outras casas, mas onde o povo tem mais contato é com o vereador. O prefeito Edivaldo está no segundo mandato, e a gente sempre busca um entendimento com ele ou pelo menos estamos aguardando um entendimento melhor do Executivo, não para tirar proveitos, mas sim para fazer nossa obrigação.
A relação institucional com a prefeitura é uma relação sadia ou poderia ser melhor?
Eu não sou demagogo. Acho que deveria estar melhor. O Legislativo, para mim, ainda é o coração da população. Acho que a pessoa que está num poder desse e já passou por esta casa aqui tem mais consciência. O vereador é o porta-voz do povo. Acho que falta um pouco mais de entendimento. Espero que agora, com a parceria do governador com a prefeitura, que as coisas caminhem mais ainda e realmente mude a situação.
Como está a sua relação com o governador Flávio Dino?
Eu via o Flávio com outro olhar. Com o tempo, eu fui mudando, vendo que ele é uma pessoa popular. A gente vê pelos últimos Carnavais. Ele estava lá na passarela, desceu do camarote e não era ano eletivo. Ele gosta de estar com o povo e isso me faz bem. Hoje vai os meus aplausos para ele.
Ele consegue se reeleger? Como administrador, o senhor o considera competente?
A gente não pode subestimar ninguém. A gente está vendo tanta surpresa acontecendo. O Flávio está bem. Tem visão. Ele é uma pessoa preparada em tudo. E, na parte administrativa, acho que ele está também preparado. Tenho hoje o respeito pelo Flávio Dino sem demagogia. Não é uma relação de amizade, mas tenho respeito por ele.
Haverá uma ampla discussão sobre o Plano Diretor?
Com certeza com a iniciativa privada e sociedade civil. Essa participação tem que ser recíproca. É uma coisa muito decisiva para o desenvolvimento da nossa cidade.
Depois da licitação do transporte, o serviço melhorou?
Acho que sim. Só não gostei muito, porque ficaram as mesmas empresas. Deu uma melhorada, mas precisamos do transporte alternativo, porque o ônibus deixa o passageiro no terminal, não o deixa em casa. Então, temos que ter um transporte complementar. É complicado. Nós temos aí o Uber chegando, e eu tive falando para os taxistas, na semana passada, para adequar um pouquinho o preço, porque senão vão ficar para trás. Eu não sou contra o Uber, sou contra da maneira clandestina do trabalho. A gente tem que, pelo menos, identificar com quem você está andando. Tem que ter uma identificação, uma placa. Não sou contra o que a população quer.
Como está andamento do projeto do vereador Paulo Victor para regulamentar o Uber?
O processo está aí, agora tem que ver que lá na Câmara dos Deputados está tramitando a questão do Uber. Logicamente, deve ser aprovado, mas pela legalidade e com as ressalvas das placas. O taxista não é regulamentado? Por que o Uber não vai ser regulamentado também? Quer dizer que uma empresa americana chega aqui, invade, faz tudo o que quer e fica por isso mesmo?
O Uber não cria emprego?
Não acho que o Uber cria emprego. Ele desafoga. Ele é uma espécie de álibi financeiro. Ele ajuda o dono do veÍculo a pagar a prestação dele, a gasolina. É um paliativo agradável e ajuda muito, mas sendo legalizado.
Essa discussão já vai entrar em pauta na Câmara no segundo semestre?
Sim, mas o primeiro pai-nosso agora será votar as contas de todos os ex-prefeitos. Fiz um TAC com a Promotoria Pública e, então, nós vamos votar. São coisas que têm que vir à tona e serem votadas. A essência da Câmara e fiscalizar o erário público do Executivo Municipal.
O senhor acha que essa votação e a questão do transporte serão os temas mais polêmicos?
Acredito também que o Plano Diretor é uma questão muito significativa. Fazendo essas coisas todas acontecerem, acho que marca uma gestão.
O senhor já começou as conversas sobre quem apoiar nas eleições de 2018?
Eu sempre fui uma pessoa com a posição no peito bem definida, mas eu tenho em mente hoje, mais ou menos, quem será meu candidato. Praticamente eu estou definido. Para a conjuntura ser completa, vou ter de conversar com meus amigos vereadores para saber quem quer seguir comigo. Cada um tem seu voto.
Como o senhor observa a vinda da ex-governadora Roseana Sarney para a disputa do governo?
Não tenho, ultimamente, falado com a Roseana. Mas, a eleição com a Roseana é uma e sem ela é outra. Temos Roberto Rocha e Maura Jorge que já se apresentaram e que não podemos subestimar. Acho que a Roseana vindo ela consegue aglutinar uma boa votação.