Assassino confesso de maranhense pode pegar 30 anos de prisão
O estudante de direito Lucas Albo será indiciado por ameaça, injúria, homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e por impossibilitar a defesa da vítima
Assassino confesso do DJ Yago Sik, 23 anos, o universitário Lucas Albo, 22, será transferido nesta quinta-feira (6) para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Ele passou a noite nas dependências do Departamento de Polícia Especializada (DPE), após ser preso em casa. Ele decidiu se entregar depois de uma longa negociação do advogado com o delegado Rogério Oliveira, chefe da 5ª Delegacia de Polícia. Em depoimento, o estudante de direito disse que não tinha a intenção de matar, mas apenas “dar um susto”. No entanto, os investigadores trabalham com a teoria de crime premeditado.
A tese é reforçada pelas circunstâncias do crime — ocorrido no início da manhã de domingo (2), no Conic, após uma festa — e por provas colhidas nos últimos três dias. “Houve uma briga na festa e o Lucas foi retirado da boate. Ele foi em casa e, horas depois, regressou ao Conic. Lá, ficou esperando, na espreita, a vítima. A principal motivação, até agora, é o ciúme. Não trabalhamos com outra hipótese”, detalhou o delegado-chefe. Antes de matar Yago com dois tiros à queima-roupa — um deles na cabeça —, Lucas mandou dezenas de mensagens, via WhatsApp, à então namorada, com xingamentos e ameaças de morte. Os envios aconteceram entre 3h27 e 5h51. Em depoimento, o acusado confirmou a autoria: “Enviei, sim”.
Enquanto mandava as mensagens, Lucas aguardava por Yago do lado de fora da festa, no corredor frontal do Conic. Assim que o DJ deixou o local, tornou-se alvo de dois tiros, sem direito à defesa. No momento, ele estava de mão dada com a namorada, Bárbara Rodrigues, que também chegou a ser agredida por Lucas naquela noite. Ela levou dois socos do universitário. Câmeras de segurança do prédio gravaram a tocaia e o exato momento do assassinato.
Lucas Albo será indiciado por ameaça, injúria, homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e por impossibilitar a defesa da vítima. Se condenado, pode pegar de 15 a 30 anos de prisão.
Após o crime, que ocorreu às 6h de domingo, Lucas teria se escondido na casa de conhecidos em São Sebastião, onde esteve até a noite de terça-feira. Ao ser apresentado à polícia, ele chorou muito e negou o uso de qualquer tipo de entorpecente. Porém, não soube explicar como saiu do local do crime e disse não saber do paradeiro da arma.
Parado em blitz
A prisão decorreu a partir de negociação entre a Polícia Civil e o advogado de defesa de Lucas, que pediu que o acusado não passasse pela imprensa. O pai dele, Pedro José de Oliveira Neto, chegou a falar do crime com policiais militares, após ser parado aleatoriamente em uma blitz de rotina. “Ele chorou diversas vezes. Disse que estava negociando com a Polícia Civil a entrega do filho na presença de um advogado. Nós o levamos para a 5ª DP, onde foi constatado que dizia a verdade”, relatou o tenente Isaildo Cury Belino, coordenador de policiamento.
Sabendo que o pai havia sido levado para uma delegacia, enquanto policiais civis já estavam a caminho da casa onde ele mora com a família, no Jardim Botânico, Lucas teria fugido, mas, minutos depois, voltou à residência e se entregou.
Essa não foi a primeira prisão do agora assassino confesso. Tem sete passagens policiais depois de adulto (duas por porte de drogas, uma por furto em comércio e outras por disparo de arma de fogo, ameaça, corrupção de menores, porte ilegal e furto de arma). O delegado Rogério Oliveira disse que a família dele se mostrou extremamente chocada com o brutal assassinato de Yago e ajudou na negociação que resultou na nova prisão.
Protestos
Na entrada da 5ª DP, amigos e familiares do DJ aguardavam o acusado. Após a constatação de que Lucas Albo havia sido preso, o sentimento era de alívio. “A gente só quer Justiça. A prisão dele acalenta nosso coração. Que ele (acusado) não consiga fazer isso com mais ninguém. Lucas acabou com uma família sem motivo; como se a mulher fosse propriedade dele”, mencionou Cristine Rodrigues Martins Sik, madrasta de Yago. Abalado e muito emocionado, o pai do jovem não quis gravar entrevista.
Tia e madrinha da vítima, Karine Camargo segurava uma foto do sobrinho. “Um crime bárbaro, por motivo torpe. Não foi legítima defesa. Ele teve duas horas para pensar. Foi para casa, pegou uma arma, voltou e matou meu sobrinho. Meu sobrinho só estava tentando defender uma amiga. Ele nunca aceitaria uma coisa dessas”, ressaltou Karine.
Quem conheceu Yago se refere a ele como uma pessoa de “muita luz e boa energia; amigo e ótimo filho”. O DJ morava em Brasília havia três meses, após passar uma temporada em Pipa, no Rio Grande do Norte. O maranhense tinha o sonho de ser um DJ famoso e veio para a cidade na intenção de tocar nas maiores festas candangas. No dia da sua morte, no entanto, Yago estava apenas se divertindo com os amigos. O corpo dele foi enterrado terça-feira, no Maranhão. A missa de sétimo dia deve acontecer no fim da semana, na igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul.
Picos de violência
A ex-namorada do acusado contou que, no início do relacionamento, o rapaz a tratava como “rainha”. “Era bonito e conquistador”, comentou. O comportamento, porém, mudou após o primeiro mês de namoro. “Comecei a ver que ele apresentava picos de agressividade. Era violento e, depois, voltava a ser um príncipe”, contou.
Após a morte de Yago Sik, a ex-namorada de Albo entrou com um pedido de medidas protetivas de urgência — ocorrência de Maria da Penha — no Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). O processo tramita no Primeiro Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Brasília.