Recessão

Vendedores apontam problemas no comércio do São Francisco

As principais reclamações feitas pelos comerciantes são a redução na clientela e apontam recessão, falta de segurança e problemas de estacionamento

Honório Moreira

O bairro São Francisco, em São Luís, teve sua ascensão comercial na década de 1980 com a presença de hotéis, padarias, lojas, pizzarias, lanchonetes e construção de prédios. A inauguração, mais tarde, do Cine Colossal e a abertura de grandes lojas de eletrodomésticos consolidaram o bairro como um dos principais centros comerciais da capital.

Segundo registros públicos, o São Francisco surgiu entre 1960 a 1965. O nome foi dado em homenagem ao santo protetor da comunidade de pescadores que deu origem ao local.

A construção da Ponte José Sarney, na década de 1960, ligando o Centro Histórico ao bairro, foi o pontapé inicial para a evolução do São Francisco. Na década de 1970, o bairro foi ligado à Ponta d’Areia, o que facilitou o acesso às praias e, consequentemente, a expansão turística e imobiliária da capital.

O processo de urbanização acelerou-se com a construção da ponte que passou a ser popularmente conhecida como “Ponte do São Francisco”. O processo natural de expansão imobiliária para os bairros próximos com mais espaço para estacionamento cobrou seu o preço. A Avenida Marechal Castelo Branco não teve estrutura para comportar a demanda crescente criada pelo aumento da frota de veículos.

“A cidade caminhou na direção dos bairros Renascença I e Renascença II. No São Francisco, a estrutura de estacionamento é prejudicada também pelo fato de não ter, nos prédios mais antigos, espaço como hoje os mais novos disponibilizam. Isso acentua ainda mais o fato do bairro, que foi no passado o ponto mais nobre e hoje não é mais”, apontou Cláudio Calzavara, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi­-MA).

Outro problema levantado por comerciantes e especialistas e que compromete o comércio do São Francisco é a falta de segurança pública. “Você tem, também, uma região prejudicada pela área de invasão com o índice de criminalidade alto, sendo um local perigoso para circular à noite. Somando à falta de estacionamento, isso se torna um problema sério. Nos Estados Unidos tem um ditado que diz ‘No parking, no business’, ‘Sem estacionamento, não tem negócios’”, avalia o presidente da Ademi-MA.

O mercado imobiliário do local também sente os efeitos da retração econômica, que tem nos imóveis usados maior dificuldade de negociação. Nota-se grande parte dos pontos mais próximos à cabeceira da ponte fechados. “Como estamos vivendo um momento de uma economia recessiva, se tem certa quantidade de imóveis disponíveis para aluguel. Os preços da Avenida Marechal Castelo Branco com os da Avenida Colares Moreira já foram bem próximos, hoje não são mais. Contudo, para o mercado, não existe aluguel caro, existe aluguel que não se viabiliza”, relata Calzavara.

Resistência

Mesmo com a decadência do comércio do bairro São Francisco, ao longo das últimas décadas, negócios tradicionais se mantêm ativos mesmo com as dificuldades recorrentes destacadas pelos proprietários.
Quem frequentou a Avenida Marechal Castelo Branco, no São Francisco, no auge da década de 1990, deve ter saboreado as pizzas da Bella Nápoli e os sorvetes e hambúrgueres da Windy.

Empresas familiares com 30 a 40 anos de existência seguem abertas superando o tempo e as mudanças. Apesar da queda na movimentação, elas continuam por causa da clientela fiel e da dedicação dos funcionários.
É o caso da lanchonete Windy, que este ano completa 30 anos no mesmo endereço no São Francisco. No início, o local inovou oferecendo sorvete de fabricação própria e hambúrguer de pão de batata. Na época, isso garantiu o sucesso do negócio, que já teve cinco lojas e 113 funcionários.

A Windy resiste hoje apenas com a loja do São Francisco. Há cerca de quatro anos, a lanchonete tinha 24 funcionários, mas hoje possui 13, podendo diminuir para 11 com a demissão de mais dois colaboradores. “Não atribuo a queda no rendimento do negócio à atual crise, pois antes de 2014 já havia enfraquecimento nas vendas, quando tive que reduzir drasticamente o quadro de funcionários”, relata o proprietário John Murray Melo, de 54 anos.

Para o empresário, que hoje vive em Fortaleza, no Ceará, a falta de segurança pública e mudanças no trânsito do São Francisco prejudicaram o negócio. “A falta de segurança, no bairro e a linha exclusiva de ônibus, que, aliás, não funciona, também contribuíram para a queda na movimentação na loja. Fora isso, o local tem muitos pedintes, e o prédio Balança, Mas Não Cai sempre foi um problema crônico”, analisa John Murray.
Nos últimos anos, a Windy teve redução de 40% na clientela. O proprietário atribui a queda na receita, 80% em razão da falta de segurança e 20% a problemas com estacionamento.

O empresário, que vem a São Luís periodicamente, dedica a resistência do negócio aos colaboradores. “O local permanece aberto pela tradição, mas, principalmente, pelos funcionários, uns têm mais de 20 anos de casa e dão o sangue por aquele lugar. São 20 famílias que vivem do negócio”, completa John Murray.

Outro negócio que resiste, apesar de ser localizado próximo à Ponte do São Francisco, onde existem mais imóveis fechados, é a pizzaria Bella Nápoli. Com mais de 40 anos, no local, funcionando em ponto alugado, a pizzaria segue aberta.

Magno Fontinelle, de 51 anos, dono da Bella Nápoli, há quatro anos contratou segurança particular para o estabelecimento, que funciona à noite, e segundo ele, não foi tão prejudicado pela faixa exclusiva de ônibus, tanto quanto os outros negócios que funcionam durante o dia. “Temos dificuldade de manter a loja aberta. Apesar de o policiamento ter melhorado e a insegurança ter diminuído, o longo tempo marcado pela fama de área perigosa afastou muitos clientes. Hoje, é perigoso em todo lugar”, alega.

O empresário informa que, nos últimos anos, houve queda de 30% na clientela, mas não demitiu nenhum funcionário. Para ele, a recessão vem acontecendo mesmo antes do auge da crise econômica. “O comportamento das famílias vem mudando há algum tempo devido à queda no poder aquisitivo. A recessão não veio com essa crise, vem de muito tempo”, avalia Fontinelle.

Karlos Geromy

Reavivamento do comércio

Para especialistas do comércio imobiliário, o São Francisco deixou de ser o comércio de muitos, para ser comércio de bairro. Persiste o questionamento se é possível reativar a área do comércio ao longo da Avenida Marechal Castelo Branco. Se há alternativas para reavivar o movimento nas lojas e incentivar a abertura dos pontos fechados.

Para os comerciantes do local, existe o consenso de que é fundamental melhorar a parte de segurança pública. “Uma das saídas para recuperação do comércio local, para mim, seriam mudanças pontuais na segurança, com melhora na iluminação pública, policiamento ostensivo a pé e de motocicleta”, alerta proprietário da Windy, John Murray.

Outra opção apontada é encontrar atividades comerciais que se ajustem à realidade do bairro e se voltem mais para a população local. “O São Francisco tem uma população grande, mas com renda mais baixa, e deve-se pensar em negócios voltados para esse público consumidor”, ressalta o presidente da Ademi-MA, Cláudio Calzavara.

De acordo com Calzavara, o estacionamento é um problema de difícil solução. “A saída são negócios que façam menos pressão naquela via principal de estacionamento, onde é inconveniente parar. Não tem condição de ter muita gente naquela avenida. Um exemplo é o Centro Elétrico, que viabilizou um terreno para oferecer estacionamento. Essa foi a solução encontrada por eles”, completa.

Sobre os problemas de segurança apontados pelos comerciantes, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP-MA) informou que o patrulhamento no bairro do São Francisco e regiões adjacentes é feito pelo 8° Batalhão da Polícia Militar, sendo que duas viaturas realizam o policiamento na área diuturnamente. De acordo com a SSP, operações frequentes são realizadas com o apoio das equipes de motocicletas, que realizam abordagens rotineiramente no local.

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) não se pronunciou sobre a interferência da faixa exclusiva de ônibus no estacionamento dos pontos comerciais do São Francisco.

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