Sônia Almeida lança duas obras na AML
Sônia faz um mergulho sobre a importância do ensino da língua portuguesa fora do Brasil
A língua é um organismo vivo que se modifica ao longo do tempo. Palavras novas surgem para expressar conceitos igualmente novos; outras deixam de ser utilizadas, sendo substituídas. Aqui no Brasil, o português é a língua oficial do país. O idioma foi trazido por colonizadores de Portugal e deixado como herança ao povo brasileiro. Com o passar dos anos, modificou-se e ganhou identidade própria: o português brasileiro.
A redescoberta e a importância do português brasileiro estão presentes nos livros A língua e a árvore: uma herança com chão e tempo e Palavras herdadas: sobre o Português como língua de herança, da escritora Sônia Almeida, professora do Departamento de Letras. Na última obra, ela divide a autoria com Andréa Menescal. Ambos os livros foram editados pela Editora da UFMA – EDUFMA, e serão lançadas amanhã (22), às 19h, na Academia Maranhense de Letras – (AML), no Centro. As obras poderão ser adquiridas no dia do lançamento por R$ 50 cada. Para os alunos de Letras, os livros terão desconto de 50%.
Os livros são resultados do pós-doutorado que Sônia Almeida fez pela Ruhr Universitat Bochum, na Alemanha, onde a pesquisadora passou um ano realizando um mergulho sobre o ensino da língua portuguesa fora do Brasil, sob a supervisão do professor-titular Dr Roger Friedlein, com ênfase no português como língua de herança. “Quando eu fui para Alemanha fazer o meu pós-doutorado, eu não tinha pretensão de escrever nenhum livro. Posso afirmar que eles brotaram naturalmente. O texto de A língua e a árvore: uma herança com chão e tempo nasceu, eu diria, paralelamente a Palavras herdadas: sobre o Português como língua de herança. Além disso, morar na Alemanha foi uma experiência inesperada para mim. Até mesmo porque eu nunca poderia imaginar na minha vida viver em um país daquele para estudar e pensar língua portuguesa da forma que pensei”, disse Sônia Almeida.
A escritora revelou durante entrevista a O Imparcial que foi durante esse tempo de um ano que pensou estudar o português brasileiro. A autora foi percebendo a oportunidade de trabalhar os conceitos linguísticos da língua portuguesa em uma experiência que ela descreve como uma existência brasileira em novo processo de identificação. “Foi curiosamente diante da possibilidade de ver um jardim, que eu vi uma árvore através do tempo em outro chão. E só assim eu pude pensar a língua portuguesa brasileira. Dessa árvore, desse jardim, manifestaram-se outras árvores de diferentes formas durante a travessia das estações. E, diante de mim, conseguiram ser várias árvores em uma única árvore. Assim nasceu o livro A língua e a árvore: uma herança com chão e tempo”, contou Sônia Almeida.
A pesquisadora afirmou que durante todo o tempo que esteve na Alemanha, um país com um idioma totalmente diferente do seu, pensou diariamente na língua portuguesa brasileira. “Quanto mais distante fisicamente dela eu estava, cada vez mais próxima eu me sentia. Mesmo a saudade de minha terra me fortalecia diante desse chão. E assim eu consegui escrever. Se eu tivesse no Brasil, eu jamais conseguiria escrever sobre isso, com esse olhar observador sobre o português brasileiro fora do Brasil”, contou Sônia Almeida, contextualizando sobre os conflitos que encontrou para colocar o assunto que povoa a sua mente para o papel.
Titular da cadeira nº 20 na AML, Sônia Almeida ressaltou aspectos relevantes das obras para o entendimento da língua portuguesa. “Agregar a informação do português brasileiro como língua de herança, trazendo para o aluno, em especial para os estudantes do curso de Letras, a relação entre língua e sociedade. E fazer, também, uma reflexão linguística acessível sobre o que é a relação do homem com essa língua, possibilitando a difusão do português brasileiro”.
Sobre as escritoras
Sônia Almeida
Possui graduação e mestrado em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Ruhr Universitat Bochum (Alemanha). É professora permanente do Mestrado em Letras da UFMA. Foi pró-reitora de Ensino da mesma universidade, de 2011 a 2013, é poetisa e membro da Academia Maranhense de Letras e do Conselho Estadual de Educação do Maranhão. Tem publicações poético-literárias e científicas.
Andréa Menescal
É formada em Relações Internacionais, com especialização em Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília. É criadora e coordenadora da Mala de Herança, um projeto de ensino e fortalecimento do Português como Língua de Herança e cocriadora do Centro de Informação e Apoio sobre Educação Bilíngue – Português como Língua de Herança (CIAEB-POLH) e do Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança.
Três perguntas// Sônia Almeida
Como você consegue realizar uma pesquisa sobre o português brasileiro em uma universidade na Alemanha, um país que tem uma língua totalmente diferente da sua?
Eu tive muita sorte porque eu fui parar com meus estudos no Departamento de Línguas Românicas da Ruhr Universitat Bochum onde todos os funcionários, estudiosos e pesquisadores falam português, o que facilitou muito o meu trabalho. Eu também tive a sorte de ser orientada pelo Dr Roger Fridelei que me deixou completamente a vontade para realizar o trabalho. Ele, que sempre morou e estudou na Alemanha, fala português, francês, espanhol, inglês e um pouco de árabe. O que também facilitou a minha comunicação com ele.
O livro Palavras herdadas: sobre o Português como língua de herança tem como coautora Andrea Menescal. Fale um pouco sobre esta parceira literária em prol do português…
Eu conheci Andrea Menescal durante um encontro em Munique, que discutia a importância e o fortalecimento da língua portuguesa no mundo. Ela é formada em relações internacionais e se especializou em cooperaçãointernacional pela Universidade de Brasilia e mora na Alemanha desde 2002. Andrea Menescal é uma das líderes do Movimento pelo Português como Língua de Herança no Mundo. E foi a partir dos estudos que surgiu a ideia do livro. Eu jamais poderia de compartilhar esse conhecimento com outras pessoas que tem interesse em reconhecer a língua como suporte de identidade e cultura.
Como foi a experiência de escrever dois livros sobre um tema ainda pouco estudado no Brasil?
Escrever pressupõe duas coisas fundamentais: angústia e implicações. Esses livros foram escritos pela angústia de vivenciar como imigrante brasileiro a diluição de nossa língua em uma nova língua em uma outra cultura. Outra coisa que eu pude constatar é que a língua de herança não é uma escolha, é uma questão de saúde mental. Lacan [psicanalista francês] diz que todos nós somos constituídos do simbólico. E que a linguagem é do imaginário, e a cultura é o real insondável. E que em algum lugar do nosso inconsciente, as raízes dessa língua vão ficar cristalizadas e isso vai acabar sendo tamponado pela nova língua e uma nova cultura que jamais vai conseguir excluir o que originalmente nos constitui.