Entrevista

Othelino Neto critica senador Roberto Rocha: “não tem sido útil”

Aliado do governador Flávio Dino em 2014, senador Roberto Rocha (PSB) é alvo de críticas por parte do deputado estadual do PCdoB: “Esse voto não valeu a pena”

Reprodução

Presidente interino da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), o deputado estadual Othelino Neto (PCdoB) é hoje uma das forças do grupo político do governador Flávio Dino. Sua atuação na presidência do parlamento na ausência do deputado Humberto Coutinho (PDT) vem sendo considerada equilibrada. Apesar de defender a importância da heterogeneidade nos debates da Alema, Othelino fala sobre os desafios do relacionamento com a oposição e já projeta o cenário político das eleições de 2018 com uma postura crítica quanto ao que ele classifica de “aventura” da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) em pleitear a volta ao Palácio dos Leões. Em entrevista a O Imparcial, o deputado comunista se mostra magoado e não esconde a frustração do PCdoB para com o senador Roberto Rocha (PSB), antes um aliado e, hoje, um agente político “isolado” e “egocêntrico”.

O Imparcial – Como é lidar com a heterogeneidade da Assembleia?
Othelino Neto – É preciso entender que o parlamento precisa ser plural, não pode ter uma voz única. A essência do parlamento é esta diversidade de opiniões. É ter aqui pensamentos diferentes. Essa heterogeneidade é uma marca que não podemos tirar do parlamento. O nosso cuidado é para que os deputados tenham um tratamento igual no que diz respeito ao exercício do mandato. É preciso ter equilíbrio para interferir o menos possível.

IM – Como é a sua relação com a oposição?
Othelino – A oposição me trata com muito respeito até porque eu sempre prezo por garantir e estimular o debate aqui dentro. O debate é fundamental na Assembleia. Eu diria que eles se sentem à vontade para tratar dos assuntos de seus interesses dentro de suas prioridades políticas. Eu já fui deputado de oposição e tinha uma atuação muito aguerrida ao governo anterior e fazia com muita veemência porque o governo era muito ruim. Apesar de eu ser um político de posições muito claras, minha relação com os deputados de oposição é boa com todos.

IM – O governo anterior era tão ruim assim?
Othelino – O governo passado era como um navio cujo comandante ficou em terra firme. Era um governo desgovernado, onde tinha várias ilhas, vários governadores dentro de um só governo e que, na prática, ninguém governava nada. Era natural e responsável que fizéssemos oposição. Pelo fato de o governo ser muito ruim, facilitava o nosso trabalho.

IM – E quem seriam os outros comandantes?
Othelino – Na Secretaria de Saúde era uma ilha. Lá, o então secretário Ricardo Murad exercia um governo aparte. O hoje deputado Hildo Rocha fazia um governo aparte de acordo com a lógica política eleitoral dele. O ex-secretário de Segurança e hoje deputado federal, Aluísio Mendes, também tinha um governo paralelo com objetivo mais imediatos e eleitoreiros. Assim era o governo: cada pedaço com um interesse específico. E detalhe: nenhum deles com o interesse de trabalhar pelo povo do Maranhão.

IM – Seria bom Roseana Sarney disputar as eleições de 2018?
Othelino – Eu não gosto de desprezar nenhum candidato. Acredito que a candidatura da ex-governadora Roseana, se ela vier a acontecer, seria bom porque seria uma oportunidade do povo do Maranhão comparar dois momentos. E aí, neste caso, eu tenho a pretensão de dizer que teremos grandes vantagens porque o que eles tiveram a capacidade de destruir nesses governos, Flávio Dino está liderando um governo para reconstruir e colocar as coisas no lugar. Eu, particularmente, não creio que a ex-governadora venha a ser candidata.

IM – Ela sente algum receio para concorrer?
Othelino – Acredito que para quem foi governadora por quatro mandatos, um por via judicial e três por via eleitoral, ela não teria mais razão para uma aventura. Acho que hoje, qualquer adversário, do governador Flávio Dino teria dificuldades de vencer a eleição, quanto mais alguém cuja experiência no governo foi muito ruim para o Maranhão.

IM – E a disputa pelo vice de Flávio Dino?
Othelino – Acho muito cedo para especularmos o vice, mas acredito que o atual vice-governador [Carlos Brandão] é um candidato forte a continuar como vice. Ele é um bom vice, tem uma relação muito boa com o governador, colabora com o governo. Ele tem características que o credencia para ser vice. O que precisa ser visto é o que vai acontecer com o PSDB do Maranhão, que é um aliado nosso importante, mas que nacionalmente temos posições antagônicas. Se o PSDB maranhense tiver a liberdade de escolher seu próprio caminho é quase certo que ele esteja conosco, até porque as lideranças políticas do partido defendem a aliança com o PCdoB.

IM – E quem o governador vai apoiar para o Senado?
Othelino – O governador não vai se manter afastado dessa discussão. Como líder do nosso grupo político, ele vai participar ativamente disso. Isso é um xadrez político que, no momento certo, vai ter que ser montado. Temos diversas forças políticas e partidos no nosso campo político, e esses agentes políticos é que vão decidir quem será vice-governador, candidato a senador, os dois suplentes. Na minha avaliação, tem um candidato que está consolidado que é o deputado federal Weverton Rocha (PDT). Acho que ele está conseguindo agregar as mais diversas forças do Maranhão. Ele está consolidado como um dos candidatos.

IM – E os demais pré-candidatos?
Othelino – A população vai ter seu momento para fazer o seu julgamento. Eu acredito que o governador Flávio Dino será reeleito e o nosso campo político elegerá os dois senadores. Temos tempo para definir quem será o segundo candidato. Espero que não tenhamos, em 2018, a experiência ruim que tivemos com a eleição de um senador em 2014, porque nós ganhamos a eleição de senador, mas não levamos, não serviu para o Maranhão.

IM – O senador Roberto Rocha era aliado a Flávio Dino em 2014 e agora pode se candidatar ao governo. Ele é uma persona non grata?
Othelino – O governador Flávio Dino cumpriu o compromisso político com o PSB e fez todo o esforço para a eleição do então candidato e hoje senador Roberto Rocha. Do nosso campo político, o único que saiu foi o senador Roberto Rocha. Ele não é uma persona non grata, mas não valeu a pena. Não costumo me arrepender dos meus votos, mas esse voto não valeu a pena porque não tem sido útil para o Maranhão. Tem, na prática, sido um senador que em nada ajudou o Maranhão. Nas oportunidades que teve não o fez. E com relação ao PCdoB, um partido que foi importante na eleição dele, ele divergiu do partido o que é normal e saudável. Mas ele tem feito comentários preconceituosos com relação ao PCdoB o que nos faz ficar distantes dele. Não admito é tratamento desrespeitoso e preconceituoso, e é assim que o senador Roberto Rocha trata os comunistas.

IM – O senhor se sente traído por ele?
Othelino – Eu, como cidadão, não repetirei o voto. E, como agente político, acho que, pelo comportamento que ele tem tido, ele não deverá estar conosco. Mas, o senador Roberto Rocha, como tem muita dificuldade de agregação política, dada a sua postura egocêntrica, ele até agora não conseguiu liderar nada. Ele é um agente político isolado que, na minha avaliação, tem muito pouca liga com o povo. Não vejo com preocupação [sua candidatura]. Não subestimo nenhum candidato, mas acho que, no cenário de hoje, o senador Roberto Rocha não tem serviço prestado ao Maranhão que possa servir de instrumento para apresentar para um candidato a governador. Ele não tem alianças políticas em torno dele que viabilizem uma chapa. A menos que ele repense muito a postura dele, tem a tendência de ser um agente isolado em 2018.

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