Veja histórias de luta e resistência no Dia do Orgulho LGBT
Seja na igreja, nas ruas, nos palcos, nas avenidas ou no dia a dia, a comunidade LGBT luta pelo fim da homofobia, para a construção de uma sociedade livre de preconceitos
Hoje, 28 de junho de 2017, comemora-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTI (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Pessoas Intersex), ou simplesmente Dia do Orgulho Gay. Esta data tem o principal objetivo de conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia, para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independente do gênero sexual de qualquer cidadão.
Na capital maranhense, lésbicas, gays, transexuais, travestis, pansexuais, bissexuais, assexuais, dentre outros, lutam a cada dia contra o preconceito escancarado nos olhares, nas agressões, nos homicídios e em todo ato homofóbico culminando na crueldade humana. Em homenagem ao Dia do Orgulho Gay, O Imparcial realizou entrevistas exclusivas de membros dessa classe, que amanhecem sempre com o sorriso no rosto, a cabeça erguida e a determinação de quem não irá se deixar abalar pela crueldade, mostrando o orgulho de terem a sua orientação sexual definida todos os dias.
Mulher trans, jogadora de voleibol e estudante de Psicologia, Larissa Dominici, de 20 anos, se descobriu desde cedo. Segundo ela, por algum tempo na sua infância chegou a pensar que seria um homem gay cisgênero, mas aos 12 anos se libertou e descobriu-se, passando a tomar a sua identidade de gênero. “Cada pessoa sabe o momento de se perceber diante de uma sociedade. Sempre tive vontade de pôr essa pessoa que sou hoje pra fora. Sempre pareci muito feminina, então foi meio que fácil. Eu não me sentia bem com a minha aparência”. Desde os 15 anos, Larissa Dominici passa pelo processo hormonal: “Eu comecei a tomar hormônios para me adequar ao padrão de feminino da sociedade”, disse.
Desde então, a identidade de gênero de Larissa nunca lhe foi ponto de questionamento. “Eu nunca me questionei enquanto minha identificação. Desde pequena, eu me sinto Larissa. A autorrecusa é uma violência sem explicação, simplesmente escondendo quem somos. Quando me assumi trans, foi um peso tirado das minhas costas. Quando menino, eu não passava apenas de um personagem”. Segundo Larissa, os desafios no mercado de trabalho são massacrantes. “Uma vez, fui a uma entrevista de emprego. Fiz a prova e passei em primeiro lugar. Fiz a entrevista, falei que sou uma mulher trans, e parecia que eles estavam aceitando, mas, quando me chamaram, eles falaram que eu não poderia exercer a vaga com farda feminina e nem usar meu crachá com meu nome social, pois, segundo eles, eu não era uma ‘mulher’. Eu, linda e maravilhosa, jamais iria aceitar ser desrespeitada”.
Diante dos preconceitos, Larissa se supera a cada dia e uma de suas conquistas é o uso do nome social. “Foi burocrático, mas consegui. A Justiça tem facilitado a cada dia e hoje sou mulher trans, sou linda e sou livre, estou cercada de pessoas que me amam e isso que importa”, concluiu Larissa Dominici.
Assessor de supervisão e articulação institucional, Enzo Amorim, de 24 anos, é um homem trans. Segundo ele, as suas primeiras mudanças foram no estilo. “Mudei minhas roupas e meu corte de cabelo. Agora estou providenciando oficialmente a mudança para o nome social, também a realização do processo cirúrgico”. Enzo conta que, a princípio, foi um choque para a família quando se assumiu transexual. “Eles não entendiam e não aceitavam e se afastaram de mim. Hoje, temos uma relação mais saudável, mas ainda há preconceito. Antes de me assumir trans, era uma inquietação sem fim, eu não era satisfeito com meu corpo, eu sentia que tinha algo errado. Foi daí que eu comecei a ler e entender sobre transexualidade, e isso me acalmou”. Para Enzo, viver é um grande desafio. “O desafio que eu enfrento é viver. O ou a trans vive muito à mercê da violência e da discriminação. Espero que, no futuro, possamos viver em uma sociedade onde as pessoas trans, ou qualquer designação de gênero, possam ser respeitadas e ter direito a políticas públicas”, conclui Enzo Amorim.
O nome social: uma luta conquistada
O uso do nome social nas escolas, ambiente de trabalho e documentos é fator crucial para garantir efetivo acesso à educação e respeito da população transexual e travesti brasileira, como aponta a Defensoria Pública de São Luís. Esse direito está garantido desde o ano de 2015, quando resolução da Secretaria de Direitos Humanos foi publicada no Diário Oficial da União, assegurando aos cidadãos trans e travestis o uso do nome social, respeitando a identidade de gênero.
Os juízes da Vara de Registros Públicos de São Luís decidiram a mudança do nome social para transexuais e travestis com base na lei de registro público, na Constituição Federal e com base no Tratado Internacional dos Direitos Humanos, onde toda pessoa tem direito ao nome e ao prenome, de acordo com a sua realidade. “Seria um ato atentatório à dignidade da pessoa humana o Estado impor à pessoa usar um nome com o qual não se identifica. Por isso, estamos atendendo ao direito das pessoas que buscam essa mudança, uma vez que o nome é a parte mais íntima da dignidade da pessoa humana”, disse o juiz Clésio Cunha, da Comissão Sentenciante Itinerante da 2ª e da 3ª Vara de Registros Públicos da Capital.
Segundo o juiz, o Projeto Cidadania e Justiça vem aproximando os cidadãos dos serviços judiciários e, nos últimos anos, mais de 20 casos já foram julgados no Fórum de São Luís e mais de 10 outros casos tramitando na segunda, na terceira e na oitava Vara Civil. “Estamos atendendo, principalmente, às pessoas que são tratadas de forma discriminatória. Se existe uma minoria discriminada, cabe ao Judiciário ajudá-la”. Segundo o juiz, a procura ainda é pouca aqui no estado. “Ainda falta atingir cada vez mais essa classe e mostrar que a Justiça está do seu lado. E a Defensoria Pública está trabalhando a cada dia sobre isso. Estando cada vez mais preparados para cuidar desses eventos”, concluiu o juiz.
Drag Queen
Enmerson Paixão, ou Elektra Fierce, drag queen e publicitária, vem espalhando por onde passa a militância e a representatividade LGBT e negra. Segundo ele, sua drag é construída desde a infância, uma vez que sempre foi figurada pela representatividade da mulher em sua casa, além de seus ídolos serem mulheres. A família foi o problema desde quando Enmerson se assumiu homossexual, e mais ainda quando se assumiu drag queen. “Quando criança, eu já pegava saltos, alguns acessórios e desde lá construía a Elektra. Quando resolvi me montar, tive que bloquear minha mãe das redes sociais, para ela não descobrir. Mas foi inevitável. Foi um choque pra eles, ainda temos embate, mas essa é uma parte de mim. Lembro quando minha mãe falou: você é preto, pobre, favelado e ainda gay? Você não terá nada no mundo. Foi aí que mostrei que teria tudo”. Para ele, ser drag é uma obra de arte: “É como uma tela em branco, onde você pinta e você coloca seus sentimentos, algumas pessoas conseguem admirar e outras não”, disse, depois de toda a caracterização de Elektra Fierce.
Panssexualidade e Bissexualidade
O casal Andrezza Ferreira, de 20 anos, Pansexual, e Gustavo Natan, de 19 anos, bissexual, irão fazer sete meses no dia 12 julho. Para Gustavo, ambos os sexos sempre sofrem por não seguir a sexualidade “padronizada”. “Sempre há o pudor em relação à mulher que ela não pode e nem tem liberdade pra ser o que ela quer. Da mesma forma, esperam isso dos homens, quando se definem como homossexual, bissexual, transexual, pansexual e afins.
Para Andrezza, conversa e respeito são fundamentais para a estabilidade do relacionamento. “Respeitar a individualidade do outro é um grande fator pra o crescimento enquanto casal, sabemos lidar bem com a sexualidade de cada um. E mesmo sexualidades não “padrões” e uma distinta da outra, pretendemos construir uma família juntos”, concluiu Andrezza.