Morre Mestre Patinho aos 64 anos
O capoeirista estava internado com sérias complicações na região da coluna cervical. Mestre Patinho, além da capoeira, praticou ginástica olímpica e judô
A cultura popular do Maranhão amanheceu de luto. Faleceu ontem (11) Antônio José da Conceição Ramos, conhecido carinhosamente como Mestre Patinho, uma referência em capoeira no estado. Segundo um comunicado na página na rede social do Centro Cultural Mestre, o capoeirista, que tinha 64 anos, encontrava-se internado em uma unidade hospitalar da rede estadual com comprometimento seriíssimo da sua coluna, na região lombar, e estava aguardando ser transferido para o Hospital Carlos Maceira ou Hospital Universitário Presidente Dutra para que iniciasse tratamento.
Considerado uma referência na arte da capoeira dentro e fora do Maranhão, Mestre Patinho teve como sua grande referência Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo. Patinho, além da capoeira, praticou ginástica olímpica e judô. Seus ensinamentos foram passados para vários discípulos e encontra-se eternizado no DVD O novo no velho sem molestar raízes, lançado em 2013 pela Associação Cultural NZambi Capoeira Angola, em parceria com o Centro Cultural Mestre Patinho, onde ele ensinava vivenciar os fundamentos da peculiar metodologia do mundo da capoeiragem que deu seguimento à linhagem dos mestres Sapo, Canjiquinha e Aberrê, com quem ele conviveu.
Aos 9 anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre – um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões, no ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos.
Dizia ele para seus alunos: “Capoeira é um jogo corporal, é um diálogo – a rasteira é um choque, é preciso um corpo rítmico para ser bem dada”. Ou ainda: “Hoje, a Capoeira é uma mesmice, se transformou em uma ginástica coreografada – vi um aulão, com mais de 500 alunos, todos repetindo o movimento… lembra aquelas aulas de calistenia, aquelas apresentações de ginástica, de antigamente? As aulas de educação física do Exército? Isso não é capoeira …”, dizia ele criticando a prática da arte sem o fundamento.
Sobre a capoeira, Patinho ressaltava que no jogo estratégico não podia baixar a guarda; e sempre devia respeitar o oponente, mesmo que o adversário não saiba jogar, pois o bom capoeirista, segundo ele, joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar. “Não consigo sobreviver da capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre. Hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses – o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um doutor … e acrescentava: “ O verdadeiro mestre aprende com seus discípulos, com seus alunos, a cada aula…”. O velório de Mestre Patinho está acontecendo na Pax União, localizada próxima à Praça Santo Antônio, no Centro.