Maranhenses que dançam no São João comentam preparação física
A rotina puxada das apresentações em arraiais demanda um bom preparo para que índios e índias aguentem o pique. Confira os preparativos!
O período de junho é o mês em que todos os olhos estão voltados para o Nordeste, em especial o Maranhão, um estado rico em cultura, herdada em razão de inúmeras práticas realizadas ao longo dos séculos. Um período em que ocorrem algumas das manifestações culturais mais ricas do território maranhense são as festas juninas, impregnadas pela crença católica e que celebram São João. São danças e apresentações em locais específicos, criadas para valorizar a tradição e para facilitar o acesso do público ao lazer e à fruição cultural.
Até chegar às apresentações, existe uma preparação dos índios e índias, como adianta o dançarino Carlos Eduardo, integrante do Boi Pirilampo. “As apresentações começam no turno da noite e viram as madrugadas, uma rotina muito puxada. Pra isso, exige uma boa preparação, alimentação adequada, uma boa suplementação pra conseguir segurar o pique das noites nos arraias, pois tem muita perda calórica devido às apresentações serem em grande quantidade. O número de apresentações varia, mas, geralmente, são três a seis eventos por noite e cada dança tem duração de uma hora. Também fazemos ensaios direto e eles começaram logo após o carnaval”, comenta Carlos.
É válido lembrar que o bumba meu boi é apresentado de uma forma diferente, quando comparamos com outros estados, principalmente pela diversidade de seus sotaques e pelo período de festejo. Em outros locais do país, a brincadeira acontece no mês de novembro e vai até a noite do Dia de Reis, em 6 de janeiro. No Maranhão, ela se manifesta nesse mês de junho. Para ter mais energia, é necessária uma boa hidratação. “A minha hidratação, particularmente, é contínua, até porque trabalho com ginástica e zumba. Sou professor de educação física, então, o ritmo pra mim não muda muita coisa, mas é essencial a hidratação durante as apresentações e após também, caso contrário, o corpo não aguenta o número de apresentações”, afirma o dançarino e professor de dança.
O conjunto de personagens que compõem um boi no São João varia de acordo com os sotaques de cada grupo e são estes também que definem a indumentária utilizada. O universo dos personagens é amplo e diversificado, apresentando características específicas em cada microrregião maranhense. “No Boi de Axixá, as indumentárias são criadas por mim mesma, eu não desenho o croqui, acho que as roupas precisam ser sentidas. Vou criando de acordo com a minha inspiração e meus colaboradores. Com certeza, nesse São João, vamos surpreender bastante”, conta Leila Naiva, presidente do Boi de Axixá.
CURIOSIDADE
Nos terreiros de culto afro-brasileiro, existem vários grupos de bumba meu boi que também se apresentam e homenageiam entidades ligadas à brincadeira (Légua Boji-Buá, Dom Sebastião), caboclos e encantados presentes nos terreiros de Tambor de Mina e de umbanda maranhenses.
VALE LEMBRAR
A história começa quando Mãe Catirina, grávida, que mora nas terras de um rico fazendeiro e é mulher de Pai Francisco, vaqueiro da fazenda, tem o desejo de comer a língua do boi mais famoso do lugar. Para realizar o desejo de sua mulher, Pai Francisco resolve furtá-lo. O boi é morto e o desejo atendido. Após se descobrir que o casal é culpado pela morte do animal, é chamado um pajé, que ressuscita o boi. Então, é dada uma grande festa que reúne todos os moradores da fazenda e das redondezas.