Festa do Divino é destaque no Rio de Janeiro
A beleza e a riqueza cultural dos festejos em homenagem ao Divino Espírito Santo na cidade de Alcântara, revelados pelo fotógrafo Marcio RM, estão em exposição no Rio de Janeiro
A festa do Divino Espírito Santo, criada no início do século XIV em Portugal, introduzida no Brasil por colonizadores no Século XVI e trazida para o Maranhão e outros estados, recebe o destaque merecido no Rio de Janeiro. Em sua sexagésima primeira exposição individual, o fotógrafo carioca Márcio RM, que comemora 35 anos dedicados à fotografia, revela, por meio de suas lentes, os bastidores e a riqueza dos figurinos da festa de Alcântara, que se diferencia de outras comemorações em louvor ao Divino Espírito Santo pelo resto do país. Realizada no Dia de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa, a Festa do Divino é uma homenagem à terceira pessoa da Santíssima Trindade: o Espírito Santo.
Intitulada Ponte para o Passado, a exposição conta com 24 fotos coloridas da festa do Divino de Alcântara, aberta ao público até 3 de julho, na Galeria de Arte do Centro Cultural Cândido Mendes, na Praça XV, no Rio de Janeiro. Esta é a décima sétima exposição individual de Márcio RM na cidade na Cidade Maravilhosa. “Alcântara é o cenário de uma das maiores festas do Divino Espírito Santo do Maranhão, tendo um ciclo que dura o ano inteiro, iniciando-se com o ritual da leitura do pelouro e terminando no Domingo de Pentecostes do outro ano, no mesmo ritual de leitura do pelouro da festa seguinte.
Durante o período da Festa do Divino, Alcântara é tomada pelo clima das festividades, o que inclui a realização de missas, hasteamento do mastro, ladainhas, alvoradas das caixeiras e cortejos que percorrem ruas, ladeiras, becos e a casa dos moradores do município. Um dos pontos altos da festa acontece no salão nobre do Palácio Imperial de Alcântara, local onde é montado um altar para apresentação dos membros da corte.
O primeiro registro da festa do Divino realizado pelo fotógrafo Alcântara foi no ano de 2006, que era o ano dedicado à Imperatriz e que para realizar um trabalho mais completo sobre a homenagem ao divino seria interessante também registrar em ano ímpar, que é dedicado ao Imperador. “Eu tinha que retornar a São Luís no ano do Imperador porque só assim eu poderia ter uma noção maior sobre o sentido da festa em si. Também descobri que havia a procura do mastro que faz parte da tradição. Acabei voltando em 2013 para realizar este registro que faltava e aproveitei para fotografar outras situações que se referiam à festa. Ainda flagrei a procura do mastrinho feita por crianças da comunidade que em suas brincadeiras simulam a busca do mastro feita por adultos para a festa”, explicou Márcio RM, que para conseguir tal façanha contou com o apoio de Karina Valeska, então diretora do Museu de Alcântara.
Em entrevista a O Imparcial, Márcio RM, acrescentou que fotografias realizadas na Festa do Divino de Alcântara estão fazendo parte do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O fotógrafo revelou que o colecionador de artes Gilberto Chateubriand, que tem exemplares que passam pelos primórdios modernistas, na alvorada do século passado, aos desdobramentos mais recentes da produção contemporânea, cedeu a sua coleção pessoal em regime de comodato para o Museu de Arte Moderna em 1993. A coleção tornou-se permanentemente acessível ao público brasileiro e aos visitantes de outros países e nelas constam a Festa do Divino de Alcântara.
“Recentemente eu tive 41 fotografias adquiridas pelo colecionador Gilberto Chateaubriand, dono da maior coleção de arte privada do país para integrar o seu acervo da arte brasileira, no MAM do Rio de Janeiro. Oito delas tinham relação com a Festa do Divino de Alcântara. Nesta exposição, três fotos inéditas que hoje fazem parte da coleção de Gilberto Chateubriand e que nunca foram expostas fazem parte desta mostra”, revelou o fotógrafo.
Márcio RM afirmou que pensa em trazer a exposição para São Luís e consequentemente para Alcântara, mas tudo vai depender de recursos que pretende levantar tanto para a itinerância das fotografias quanto para a publicação de um livro sobre a festa, que já faz parte do calendário cultural do Brasil.
SOBRE A FESTA DO DIVINO EM ALCÃNTARA
Relatos históricos dão conta de que moradores da cidade de Alcântara esperaram a visita de Dom Pedro II em meados do século XIX, chegando a levantar as paredes de dois casarões para hospedar o visitante e sua comitiva. As ruínas dos casarões existem até hoje em dia, apesar dos nobres nunca terem pisado no local A comunidade tenta reproduzir nas ruas o que não está registrado em nenhum livro de história: a visita do imperador à cidade que tem seu sobrenome: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. Os festejos giram em torno de um grupo de jovens, o império. Eles acompanham o imperador (ano ímpar) ou a imperatriz (ano par) com roupas de época, combinando a cor de acordo com o dia da festa. Nos primeiros dias a cor é branca, no domingo do meio pode ser verde ou azul (por exemplo) e no último domingo, dia de Pentecostes, a cor é o vermelho. O império e as caixeiras se vestem com a cor própria do dia. Além das caixeiras, senhoras que cantando e tocando seus tambores são a alma desta magnífica festa. Um dos significados da palavra Alcântara é ponte, sendo que as imagens deste ensaio nos apresentam o nosso passado e a nossa história, ou seja, a nossa cultura.
SOBRE MÁRCIO RM
Márcio RM é fotógrafo profissional desde 1982, tem fotos veiculadas nas principais publicações brasileiras e trabalhou para as revistas Isto É e Veja e os jornais O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Folha de S. Paulo, além de empresas como a Petrobras. Ele vem há vários anos se dedicando à elaboração e execução de projetos documentais, tendo participado de mais de 110 exposições, entre individuais e coletivas pelo Brasil e no exterior (Japão, Qatar e Portugal), que lhe rendeu a sua primeira exposição individual (galeria de arte do Centro Cultural Cândido Mendes-Ipanema / Rio de Janeiro, em 1994), a participação no livro e exposição Memórias de Ipanema e a sua escolha como um dos sete fotógrafos brasileiros no Projeto Editorial M.I.L.K. (Nova Zelândia), que selecionou 300 fotógrafos a partir das 40 mil fotos enviadas por 17 mil fotógrafos de 164 países. O ensaio Ponte para o Passado faz parte do Recorte Popular, um mapeamento de festas populares que Márcio está realizando pelo Brasil. Para conhecer mais sobre o trabalho de Márcio acesse: marciorm.com.br .