Estudantes de teatro apresentam clássico
O Rinoceronte de Eugène Ionesco, pai do teatro do absurdo, será encenado hoje (16) por estudantes do Cacem
Num dia comum, irritantemente comum, de uma cidade comum onde nada acontece a não ser um diálogo estúpido entre os homens que não sabem o que fazer de suas vidas um rinoceronte enche de poeira uma rua. O Epílogo acima dá a ideia do que promete ser a peça teatral O Rinoceronte, do dramaturgo romeno Eugène Ionesco, que será apresentada, hoje (16), às 19h no Teatro da Cidade, antigo Cine Roxy, no Centro.
O texto será encenado por estudantes do Cacem (Centro de Artes Cênicas do Maranhão) como conclusão do curso técnico em arte dramática. De acordo com Josimael Caldas diretor do Cacem, o texto faz uma crítica a alienação que a sociedade vive. “Esta é a obra mais famosa de Eugène Ionesco, que é conhecido como o “pai” do Teatro do Absurdo, e o texto foi escrito logo após a 2ª Guerra Mundial. O texto quebrou todos os paradigmas de se fazer teatro, pois criticavam os regimes governamentais vigentes na época como o totalitarismo, o nazismo e outros que sempre colocaram a essência humana em segundo plano, de forma passiva, e porque não dizer conformista. E esse texto é bastante atual e nos remete a realidade brasileira da qual estamos passando e vivemos hoje”, explicou o diretor do Cacem.
Josimael Caldas acrescentou que o espetáculo é um modo de provocar o público sobre de que forma ele se comporta hoje diante da realidade dos fatos. A obra O rinoceronte é uma das mais conhecidas do dramaturgo Ionesco. O texto é muito divertido e muito visual. Segundo ele, o ambiente do espetáculo passa-se em uma pequena cidade do interior, em uma praça, onde os personagens são: A Dona da casa, A Merceeira, Jean, Bérenger, A Garçonnette, O Merceeiro, O Senhor Idoso, O Lógico, O Patrão, Daisy, Senhor Papillon, Dudard, Botard, Madame Coeuf, Um Bombeiro, Senhor Jean, A Mulher do Senhor Jean, Várias Cabeças de Rinocerontes.
A peça é dividida em três atos. E desenvolve-se a partir da movimentação normal da cidade, onde dois amigos conversando e ouvem um ruído ensurdecedor, mas não sabem de que se trata. O barulho vai ficando mais forte e… passa correndo um rinoceronte! A partir daí vários fatos vão se sucedendo como o rinoceronte que esmaga o gato da personagem Dona de Casa que fica inconsolável. E que em seguida por conta disso promove uma discussão continua absurda, o que levanta várias hipóteses e a preocupação dos moradores para saber se o rinoceronte tem um ou dois chifres, se é da Ásia ou da África, entre outros tema como a questão racial aparece no texto. Tudo isso e muito mais tendo como personagem central Bérenger que percebe ser último homem tenta defender a raça humana e que sofre de uma crise existencial e que em seu monólogo final, questionando-se para saber quem está certo: Os homens ou os rinocerontes?
Para a estudante Lorena Ripardo, 22 anos que apesar de ter feito pequenas apresentações, encenar O Rinoceronte tem um peso maior para a sua formação como atriz. “No espetáculo eu faço a Dayse e que para mim foi muito difícil construir este espetáculo por conta de sua complexidade, pois ela tem uma irmã gêmea siamesa. E tínhamos que coordenar sempre os nossos movimentos, falas, gestos como se realmente tivéssemos nascidas unidas em só corpo”, explicou a atriz.
Quem também está apreensivo com a estreia é Heitor Velozo, 20 anos que interpreta o personagem Bérenger. Para ele também não foi fácil mergulhar no personagem. Bérenger no texto é um sujeito que foge dos padrões ditos normais da sociedade. “Ele é um cara beberrão, que não cuida da aparência, mas que tem uma opinião muito inteligente sobre os fatos que o rodeia. E que o faz questionar se determinados comportamentos estão corretos ou não. Não só com relação aos a ele próprio mas com relação aos outros. Com o passar dos ensaios eu fui entendo o que realmente ele queria dizer e a sua importância”, disse o ator.
Já a atriz Carolina Moraes, 27 anos que há 14 deles se dedica a arte de interpretar explica que o texto é muito atual e que a figura do rinoceronte é só uma ferramenta para despertamos para a alienação social que vivemos onde todo mundo acaba virando um rinoceronte. “Esperamos que o público compreenda o que queremos passar com este clássico do teatro mundial. Foram quase cinco horas diárias de ensaios que enfretávamos todos os dias. Este é um trabalho que está sendo muto gratificante para todos nós”, disse ela.