Espaço público: bem de todos
O Grupo O Imparcial irá publicar uma série de reportagens que são exemplos de ações que contribuem para a conservação do patrimônio público
Se quando o formato da praça atual ainda nem tinha sido concluído, a família Pontes já zelava pela Praça dos Ipês, no Angelim, imagina agora, quando desde outubro a Prefeitura de São Luís concluiu os serviços e está em vias de inaugurar o espaço? Zelar, cuidar e manter a limpeza da praça e os equipamentos que nela contêm ganharam atenção redobrada da família e dos outros moradores que a cercam.
Uma pista de skate, playground e uma miniacademia compõe o conjunto do espaço formado ainda por árvores frutíferas (de bacurizinho, amêndoa, azeitona preta, manga), mesas e bancos. Várias placas de indicações de boa convivência e cuidado com o espaço rodeiam a praça. Passeando pelo local, seu Pedro Pontes e as filhas Ione e Irlene se orgulham do bem público conquistado com muito suor pelos moradores.
“Aqui era só piçarra. Temos todas as lembranças dessa época. Essas árvores todas foi papai que plantou. A gente sempre cuidou desse local. E agora a luta é para que isso seja preservado porque é um ambiente familiar e que atende não só os moradores daqui, mas de outros bairros também, que veem nessa praça um exemplo de bem viver”, comenta Irlene, técnica em Segurança do Trabalho. A família dela mora no local há mais de 30 anos e faz parte do comitê gestor da praça.
Para seu Pedro, que tira do próprio bolso o dinheiro para pagar a limpeza da praça, isso não é nada diante do bem que eles têm diariamente. “A gente sempre limpou, até hoje limpa, mas acho que os moradores têm que fazer isso mesmo, preservar o que é bom para todos. Ainda agora mesmo eu botei pra correr um rapaz que estava urinando aqui. Puxa, é um bem público, não é pra ser bagunçado”, reclama.
Outro exemplo da dedicação da família é contado por Ione. Assim que a praça foi concluída os bancos da praça foram pichados. Identificados os realizadores do feito os moradores botaram os mesmos para lavar os bancos. “Era quase uma hora da tarde e eles só saíram depois que deixaram tudo limpo”, conta. “Acho que o que falta para São Luís é conscientização. Você vê que tem a lixeira bem ali, mas eles colocam lixo no chão sem necessidade”, completa Irlene.
A praça ainda está bem conservada graças ao zelo deles. Para que os equipamentos não sejam depredados ou roubados, ficam dentro de um cercado que é trancado por cadeado. “Infelizmente, tem que ser assim, porque vêm pessoas de outros bairros bagunçar. Senão antes de inaugurar não tem mais nada”, lamenta Irlene Pontes.
“Não posso lutar só”
Na contramão do bom exemplo dos moradores da Praça dos Ipês, a Praça Tomás de Aquino, no 4º conjunto Cohab Anil, vai completar um ano que foi revitalizada e ganhou equipamentos de ginástica, uma quadra nova, iluminação completa, lixeiras, bancos novos, mas os vândalos não pouparam nem a placa que mostra a reinauguração do espaço, em 29 de junho de 2016.
E o vandalismo foi recente. Flagramos pedaços de lixeira no chão, estruturas de ferro jogadas no mato, na quadra o alambrado está todo danificado, nas tabelas de basquete restaram apenas as madeiras, nem armações existem mais. Dona Concita Silva Souza, aposentada e moradora do bairro há 50 anos, fazia parte do Comitê Gestor da praça, cuja diretoria expirou. Ela circula pelo local com tristeza e conta que sempre que pode briga com vândalos e marginais que teimam em fazer da praça território próprio. Quando a gente não consegue, chama a polícia. De duas a três vezes por dia temos a presença da polícia aqui porque vem muito usuário de drogas. Eles quebram, levam as coisas, é uma luta”.
O aniversário de 1 ano da praça infelizmente não merece comemoração, pelo estado de abandono em que ela se encontra. A diretoria do Comitê que cuida da praça está sem componentes ainda porque os moradores não querem mais se expor, mas se fosse por dona Concita… “Eu queria, sempre lutei por essa praça, embora me dê muita dor de cabeça, mas se o resto do pessoal não quiser não posso lutar só”, lamenta. Ela conta ainda que os 7 bancos que a praça ainda possui foi graças à atitude dela que na época da obra da gestão do então prefeito João Castelo ficou cercado apenas por tapumes. “Só que a obra demorou muito, então começaram a levar os equipamentos, daí eu peguei os bancos e guardei na minha casa. Só por isso que eles ainda estão aqui”, conta.
Em outro ponto da Cohab Anil, a praça Renascer também ganhou revitalização com iluminação, bancos, placas, canteiros. Antes da intervenção da gestão municipal atual o espaço era um terreno vazio ocupado por trailers que vendiam lanches. “Era muita zoada, mas nós conseguimos tirar e ganhamos essa praça, mas que está carecendo um pouco de atenção da prefeitura. Desde que foi reinaugurada, no ano passado, não vieram fazer manutenção”, diz o aposentado em eletrotécnica Jorge Baima, morador há 25 anos do local.
Seu Jorge diz que, embora o comitê gestor zele pela praça, o serviço de capina deve ser realizado pela prefeitura. “Nós colocamos as plantas, limpamos, mas a poda tem que ser feita regularmente. Estamos necessitando da presença deles aqui”, pede o morador.
“Falta abraçar a pracinha”
No Turu, os moradores se isolaram da Praça do Poeirão, reinaugurada recentemente. O espaço que ganhou pintura, plantas, equipamentos de ginástica e bancos, está abandonado. Há muito tempo, segundo uma moradora, não se vê as pessoas usufruindo do espaço. “Logo que foi inaugurada, tinha muita gente que ficava aí, tinha venda de comida e até um parquinho itinerante, mas, com o passar do tempo, não foram cuidando, aí ninguém fica mais aí”, conta a doméstica Josilene Costa.
Para ela, falta os moradores abraçarem a pracinha. “É um espaço tão bonito, pequeno, fácil de cuidar. Basta se reunir, cada um dar um tanto para mandar limpar que fica tudo bonitinho. Não temos que só ficar esperando o poder público. Eles já não fizeram a praça? Custa conservar? Mas eles não querem”, lamenta.
Quando há união…
Perto dali um exemplo totalmente diferente. Na praça das Árvores, no Cohatrac, reformada há apenas alguns meses, a realidade é diferente da praça do Poeirão, no Turu. Lá, não só moradores zelam pelo espaço, mas quem usufrui do espaço também cuida.
É o caso dos mototaxistas que trabalham no local. Todos os dias eles limpam o espaço. “E não é só a gente. O rapaz ali (aponta para outro trabalhador) limpa a parte dele, os moradores limpam outro lado, e assim a gente vai conservando”, diz o mototaxista Reinaldo Frazão, que enquanto não tem passageiro, passa o tempo se exercitando com os equipamentos de ginástica.
Com bancos, mesas, uma extensa área de lazer e de academia ao ar livre, é lá que a dona Helena Alves faz suas atividades todas as manhãs. Eu amo isso aqui. Foi a melhor coisa que já fizeram. Eu venho do Cohatrac I para cá todo dia e agradeço por este local agradável e limpo que o poder público nos deu. Os moradores fazem um bom trabalho de conservação. Se todos os locais fossem assim, se todo mundo cuidasse do que é de todos, se todo mundo fizesse a sua parte, viveríamos em um mundo melhor”, diz ela.
Revitalização e reforma Revitalização e reforma
Segundo o Instituto Municipal da Paisagem Urbana (Impur), ao longo dos últimos meses foram reformados e revitalizados cerca de 30 espaços, entre eles, praças e aéreas de convivência localizados nos bairros do Angelim (Praça dos Ipês); Cohab (Praça V, Rui Frazão e Renascer); Forquilha, Cohatrac (Praça Verão, Praça das Arvores e Praça Jackson Lago); Centro (Praças da Faustina, Valdelino Cécio e Praça do Pescador); Vila Palmeira (Praça da Criança); Camboa (Praça da Camboa e Carlos Chaib) ; Vinhais (Letrado), entre outras.