Edilson Baldez fala sobre desafios da indústria maranhense
Em entrevista a O Imparcial, eleito presidente pela terceira vez presidente da Fiema, aponta soluções para crescimento do setor
Eleito pela terceira vez presidente da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema), Edilson Baldez acumula no currículo a experiência de ter dirigido por duas vezes o Sinduscon-MA, e ter passado pelas diretorias de diversas entidades ligadas à indústria e comércio.
Aos 69 anos, o engenheiro civil e empresário do ramo da construção civil, natural de Rosário, pretende fechar com chave de ouro sua gestão à frente da Fiema. Baldez será reconduzido ao cargo durante solenidade que ocorrerá amanhã, 23, às 19h, no Auditório Alberto Abdalla, sede da Federação.
Baldez obteve 24 votos válidos dos delegados representantes dos sindicatos da indústria maranhense. Desde 2008 presidindo a Fiema, o empresário tem agora o terceiro mandato, 2017 a 2021, para continuar o trabalho de fortalecimento da representação e da defesa dos interesses do empresariado industrial maranhense.
Em entrevista a O Imparcial, Edilson Baldez fala da implementação do sistema de gestão corporativa que integrou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) à Fiema. O presidente também destaca o estreitamento das relações da indústria com o poder público e a expectativa de recuperação da economia com a possível aprovação de reformas políticas que influenciam no desenvolvimento do setor produtivo do país.
Qual é o objetivo da Fiema no estado do Maranhão?
A Fiema cuida dos interesses da indústria, representando as empresas, e também administra, no Maranhão, o Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Cada um tem um objetivo. O Sesi cuida do ensino, saúde e qualidade de vida do trabalhador da indústria. Ao Senai, cabe a formação profissional para a indústria, e o IEL cuida também da integração, orientação e formação empresarial. No caso das empresas, elas são agrupadas por segmentos, através de seus sindicatos, e cada segmento tem um sindicato que é filiado à Federação.
É um desafio administrar de forma eficiente essas três entidades?
De fato, cada uma tem objetivos diferentes, cada uma tem seu orçamento diferente, cada uma tem seu quadro de pessoal. Então, quando eu assumi a Fiema, nós implantamos um sistema de gestão corporativa, ou seja, temos um setor corporativo onde há gestores diferentes nas casas, que cuidam de toda área administrativa e financeira, apesar de cada um ter seu orçamento específico, mas a gestão é feita pelo mesmo grupo. A maior parte dos estados está fazendo isso. Antigamente, era separado e cada um tinha seu setor financeiro e administrativo. Então para que pudéssemos administrar melhor, centralizamos as coisas numa determinada área, foi criada essa área corporativa. Isso deu mais dinamismo, mais economia, mais controle, tudo ficou mais facilitado. A gente também fez isso na Confederação Nacional da Indústria (CNI), eles também estão adotando esse sistema corporativo de administração.
O que o senhor considera como a principal conquista para a Fiema ao longo das duas gestões que esteve à frente?
São várias conquistas, mas uma delas é o relacionamento com o poder público, porque o poder público tem a sua função, e nós procuramos num primeiro momento fazer com ele entendesse que sozinho não faz tudo e não dá todas as soluções. Ele precisa estar alinhado com o setor produtivo, onde especialmente a indústria é que emprega, que gera renda, que gera riqueza, para que o poder público possa se manter. Quem paga imposto, quem investe e quem arrisca é o setor produtivo. Foi um trabalho que levou um pouco de tempo, mas graças a Deus hoje o poder público já tem uma consciência muito maior de seu papel em relação à classe produtiva, então, com isso, a gente tem feito uma série de trabalhos em conjunto como o de elaboração de projetos, de discussões de todas as ações que tem a ver com indústria, contribuindo não só na fabricação de produtos, não só na transformação de produtos, mas também discutindo gestão pública. Mostrando quais são as necessidades para que as empresas de modo geral, possam ser mais competitivas no mercado, não só no interno, mas como nos outros estados do Brasil e até no exterior.
Qual o fator primordial para o crescimento da indústria maranhense?
Precisamos ser mais competitivos no mercado internacional, do contrário vamos produzir, vamos enviar matéria, mas não vamos gerar riqueza, não vamos gerar empregos. Quando a gente cria emprego, nós estamos agregando valores aos nossos produtos. No caso da área da agricultura, quase que é produzido do nosso agronegócio é exportado, mas de uma maneira in natura. Nós exportamos a soja, o milho e outros produtos sem agregar valor. Na hora que você não agrega valor, você emprega menos, você cria menos riquezas para o país e para o próprio estado. Então, nós estudamos vários planos e um deles foi o Plano de Desenvolvimento Industrial para o estado, que expõe de que forma a gente pode trabalhar e desenvolver melhor, para que em vez de mandar soja, a gente já faça o esmagamento, já possa exportar o óleo, possa exportar o farelo, e assim sucessivamente. O Brasil faz muito isso, exporta muitas commodities. No caso do ferro, por exemplo, a gente exporta o minério de ferro e o ideal seria trabalhar e exportar a matéria pronta, agregando valores aos produtos.
Que incentivos têm sido fomentados para os associados da Federação?
Isso contribui porque com a globalização ficou mais fácil a gente ter acesso às novas tecnologias, a novos métodos. Então nós temos dentro do nosso sistema, um departamento que cuida dessa relação internacional. Há pouco tempo, nós tivemos a visita do cônsul do Canadá, que veio conhecer o Maranhão, para ver como é que os canadenses poderiam investir aqui, levar para lá essa troca de informação. Ele saiu bastante empolgado com o que viu aqui e nós já demos o segundo passo. O cônsul já mandou uma equipe técnica que sentou conosco, fizemos rodadas de negócios, mostrando nossos potenciais, aquilo que a gente pode fazer e eles também trouxeram de lá o potencial deles. Então, fechamos, inclusive, negócios. A próxima rodada será uma missão empresarial do Maranhão que irá ao Canadá para ver, também, onde podemos investir, que tipo de produtos podemos estar exportando para lá. No caso do Canadá, que é um país mais desenvolvido que o nosso, nós temos que pegar essa experiência deles com a que temos aqui, para que possamos estar se nivelando com o mercado internacional. A globalização trouxe isso, a gente produz aqui, mas nós temos que produzir para o mundo, não só para nós. Isso é muito importante não é só na área de produção, com também na área de ensino e aprendizagem. Nós temos procurado, principalmente, a Alemanha, na área da indústria, temos convênio e tratados para aprender aquilo que eles já fizeram, então nós vamos aproveitar esses horizontes bem maiores.
O resultado dessas trocas de experiências já são visíveis?
Com certeza. Tanto que os próprios empresários ficam cobrando. Antigamente, eles nem sabiam que existia. Um exemplo é o setor de malharia que importavam tudo de todo lugar. Hoje o nosso setor de confecção, através do Sindicato, estão fabricando todos os fardamentos escolares dos alunos do estado do Maranhão. As empresas disputaram a concorrência, ganharam e já estão fazendo fardamento para várias prefeituras, em vez de comprar de fora a farda pronta, nós fazemos tudo aqui. Este é um setor que está crescendo em uma velocidade muito grande e o governo do estado tem se interessado por isso, tem nos procurado e isso prova a importância desse relacionamento entre poder público e privado porque a gente mostra que se for contratada uma empresa local, o emprego fica aqui mesmo, não tem que ir para outro estado. Quanto maior é a circulação de recursos, mais impostos o governo arrecada, e consequentemente ele vai ter condições de oferecer melhores serviços para a população. Então esses resultados são palpáveis e todos os sindicatos, quer na construção civil, quer na área de confecções, quer na área de gráfica, todos eles estão muito interessados porque estão vendo o que o poder público começou a entender que esse é o melhor caminho para desenvolver o nosso estado.
O que a indústria representa para economia do estado?
A indústria, hoje, nós estamos em torno de 13% a 15% do PIB. A indústria como um todo já representou mais de 20% do PIB. E nós traçamos uma estratégia para que a gente tente chegar a 35%, que seria o ideal. Por isso, que estamos investindo muito nessa capacitação empresarial e profissional para que possamos alcançar um espaço maior. Aí mesmo a importância de se produzir aqui e até exportar.
Quais são as prioridades e os desafios que a Federação tem pela frente?
O grande desafio é vencer esse momento de inércia pelo qual passa o país, apesar de nós não estarmos realmente parados, mas reduzimos muito a nossa produção em função da situação do país. Toda indústria se retraiu, um pouco pela própria dificuldade do mercado, mas os sinais de recuperação já começam a aparecer. Nós temos a certeza de que, com a aprovação das reformas que estão sendo propostas e têm o objetivo de atualizar, de aprimorar a máquina, o sistema, nós seremos muito mais produtivos, mais eficientes, teremos chances de concorrer em melhores condições com as empresas daqueles estados, ou com aqueles países em que a legislação é muito mais flexível, e consequentemente, a capacidade de produzir é maior.