Bumba meu boi: Patrimônio da Humanidade
Candidatura do bumba meu boi do Maranhão para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade será anunciada aos ludovicenses no dia da festa de São Marçal
A manifestação cultural mais importante do estado, o bumba meu boi pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A informação foi confirmada a O Imparcial, ontem (23), por Maurício Itapary, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Maranhão (Iphan-MA). O Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão já havia conquistado antes, em 30 de agosto de 2011, o título de Patrimônio Cultural do Brasil por conta de sua importância.
Segundo Mauricio Itapary, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural reuniu-se na tarde da última quinta-feira (22), na sede do Iphan, em Brasília, para a aprovação, por unanimidade, da candidatura do bumba meu boi do Maranhão para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
O superintendente do Iphan no Maranhão revelou ainda que chega a São Luís, no próximo dia 27, o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan (DPI), Hermano Queiroz. A convite do Instituto São Marçal, ele virá à Ilha para participar da festa de São Marçal que acontece no bairro do João Paulo. Na oportunidade, Hermano Queiroz aproveita a data do Dia Nacional do Bumba meu boi para comunicar, oficialmente, à população ludovicense, a candidatura do bem cultural Complexo Cultural do Bumba meu boi a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da Unesco. O comunicado deve acontecer por volta das 10h, no meio da festança que acontece todos os anos no bairro do João Paulo e que reúne vários grupos de bumba meu boi.
Mauricio Itapary acrescentou ainda que o 90º Encontro de Bois de Matracas em homenagem a São Marçal, que estava ameaçado de não acontecer por conta da falta de recursos, o que foi denunciado à imprensa por representantes do Instituto São Marçal, que era responsável pela organização da tradicional festa maranhense, já está garantido. Após a polêmica que foi parar na imprensa e nas redes sociais, a Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur) informou, por meio de nota oficial, que os recursos já foram repassados e toda a infraestrutura de organização do evento, como palco, iluminação e som do festejo, será realizada pelo governo. “Independente de que vão organizar ou não a festa, nós, do Iphan, vamos fazer o anúncio da candidatura do bumba meu boi a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Até mesmo porque o governo do estado nos confirmou que manteve assim como nos anos anteriores o apoio ao tradicional festejo de São Marçal”, ressaltou o superintendente.
Para que a candidatura do bumba meu boi do Maranhão seja inserida na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, Maurício Itapary explicou que é necessário a elaboração de dossiê que servirá para apresentação à Unesco. De acordo com Maurício Itapary, o trabalho técnico prosseguirá com a ampla participação da comunidade detentora do bem cultural e do Coletivo Deliberativo do Bumba Meu Boi, composto por várias instituições governamentais e da sociedade civil, especialmente as representativas do bem cultural que é relevante celebração para o patrimônio cultural brasileiro. Entre representantes inseridos neste contexto cultural, estão: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por meio da Comissão Interinstitucional de Trabalho, composta pela Superintendência Regional do Iphan e atual Superintendência do Iphan no Maranhão; a Secretaria de Estado de Cultura; a Fundação Municipal de Cultural; a Comissão Maranhense de Folclore; o Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular da UFMA; os representantes dos grupos de bumba meu boi dos sotaques da baixada, matraca, zabumba, costa de mão, orquestra e de bois alternativos.
Maurício Itapary afirmou também que a possível inscrição deste bem na lista indicativa na Unesco contribuirá para assegurar a visibilidade, a tomada de consciência sobre a importância do patrimônio cultural imaterial e a ampliação do diálogo entre as culturas, dada sua alta relevância enquanto referência cultural tanto para a população maranhense, quanto para a nação brasileira. “O bumba meu boi é um bem que está enraizado na cultura maranhense e que reflete valores essenciais de sua formação social. É de grande importância este reconhecimento. Também vai gerar uma ampliação maior de recursos para a manutenção desta brincadeira”, explicou Mauricio Itapary.
O bumba meu boi
O bumba meu boi do Maranhão é uma celebração múltipla que congrega diversos bens culturais associados, divididos entre plano expressivo, composto pelas performances dramáticas, musicais e coreográficas, e o plano material, composto pelos artesanatos, como os bordados do boi, confecção de instrumentos musicais artesanais, entre outros. Em todo seu universo, destaca-se também a riqueza das tramas e personagens.
De um modo geral, o auto do bumba meu boi é apresentado como a morte e a ressurreição de um boi especial. As apresentações cômicas são feitas com grande participação do público e são entremeadas por toadas curtas contando a história sobre um boi precioso e querido pelo seu amo e pelos vaqueiros. Pai Francisco, o escravo de confiança do patrão, mata e arranca a língua do boi para satisfazer os desejos de grávida de sua esposa, Mãe Catirina. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda, caboclos guerreiros e os índios. Quando preso, são infligidos terríveis castigos e, para não morrer, Pai Francisco se vê forçado a ressuscitar o animal. É quando o doutor entra em cena para ajudar a trazer à vida o boi precioso, que, ao voltar, urra. Todos, então, cantam e dançam em comemoração.
Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal. Os cultos religiosos afro brasileiros do Maranhão também estão presentes, como o Tambor de Mina e o Terecô, caracterizando o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. O parecer do Departamento de Patrimônio Material (DPI/Iphan) destaca que o bumba meu boi do Maranhão reúne também outras manifestações culturais e, por isso, é chamado de complexo cultural. Muitas vezes definido como um folguedo popular, o bumba meu boi extrapola a brincadeira e se transforma em uma grande celebração, tendo o boi como o centro do seu ciclo vital e o universo místico-religioso.
Complexo Cultural Bumba Meu Boi
Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão foi inscrito no Livro das Celebrações, pelo Iphan, em agosto de 2011. Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, a manifestação envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal. De um modo geral, o auto do bumba meu boi é apresentado como a morte e a ressurreição de um boi especial. As diversas manifestação que integram o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão contam com grande participação de grupos e comunidades e conseguem expressar a diversidade cultural brasileira.
Medidas de Salvaguarda
Ao concluir que é no contexto da celebração que o universo místico-religioso com a devoção a São João, outros santos juninos e de cultos afrobrasileiros, as músicas, as danças, o teatro, os artesanatos, entre outros, alcançam seus sentidos plenos e se transformam no bumba meu boi maranhense, o Iphan indica o registro do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil. Para preservar a festa, o DPI/Iphan sugere algumas medidas de salvaguarda como o incentivo à documentação, conhecimento e divulgação; fortalecimento e apoio à sustentabilidade dos grupos; e valorização das expressões tradicionais do bumba meu boi.
Entre as sugestões de salvaguarda estão a implantação de políticas públicas em municípios do interior para integrar os grupos, buscando a valorização de expressões locais e a redução da discriminação. Também é necessário criar novos espaços para a apresentação dos grupos, aproximando integrantes e a plateia, uma vez que em alguns arraiais oficiais foram construídos palcos que, além de distanciar o público, modificam as práticas de sociabilidade tradicionais do bumba-boi, baseadas na aproximação entre brincante e espectador.