Reserva

Pesca e cultivo são fontes de rendas na comunidade do Cajueiro

A pesca e a agricultura ainda fazem parte da atividade econômica dos moradores do Cajueiro, que integra a Resex Tauá-Mirim que abrange outras 11 comunidades

Foto: Honório Moreira

Com poucos registros públicos sobre a vida de seus moradores e suas atividades econômicas, O Imparcial foi conferir de perto a comunidade do Cajueiro, situada na região da Vila Maranhão, zona rural de São Luís, e que pode ter um porto construído em sua região.

O Cajueiro integra a Resex Tauá-Mirim, que abrange outras 11 comunidades: Taim,Vila Maranhão, Rio dos Cachorros, Porto Grande, Limoeiro, São Benedito, Vila Conceição, Anandiba, Parnuaçu, Camboa dos Frades e Vila Madureira. Seu ecossistema é formado por manguezais, várzeas e nascentes.

Em 2007, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reconheceu a região como uma reserva, mas a homologação ficou a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que não finalizou o processo. O objetivo de formalização do local como reserva extrativista seria para garantir a conservação dos recursos naturais e proteger o modo de vida das populações tradicionais que habitam nela.

A Resex abarca toda a área portuária de São Luís, parte do Distrito Industrial da capital. No Cajueiro, vivem cerca de 500 famílias que seguem realizando suas atividades de subsistência e até pequenos e médios negócios.

Davi de Jesus Sá, de 60 anos, presidente da Associação de Moradores do Cajueiro, chegou à comunidade aos nove anos, proveniente do município de Alcântara. Como a maioria das pessoas que iniciaram a ocupação da área, ele sempre viveu da pesca artesanal. Hoje aposentado, ainda tira da atividade o alimento da família e, quando sobra, vende para complementar a renda.“Antigamente, a pesca era mais abundante e também eu tinha mais energia. Além de pescar para o meu consumo, chegava a vender para atravessadores que vinham até a minha porta. Hoje não trabalho tanto no cultivo, mas a pesca ainda é o meio de colocar comida na mesa”, disse Davi de Jesus Sá.
A pesca de peixes e mariscos não é a única atividade do vilarejo, os moradores também cultivam hortaliças como verduras e legumes e criam animais nos quintais de suas casas.

A maioria das habitações é de alvenaria, mas boa parte dos casebres ainda são construções de taipa. Uma dessas casas é a do seu Davi, onde ele vive integrado com os demais moradores da comunidade.

Ao final da estrada, limite onde veículos podem chegar, inclusive o ônibus do transporte público, após seguir por uma trilha íngreme a pé, se chega à Praia de Parnauaçu, local onde seu Davi tira do mar peixes do tipo pedra, tainha, solha e, com sorte, até pescada. Essa área é onde o porto pode ser construído. Dona Eunice Araújo da Silva, de 57 anos, nasceu na comunidade e é filha da mais antiga moradora do Cajueiro, dona Maria José Araújo, de 93 anos.

A agricultora é associada ao Sindicato Rural e à Casa de Agricultura Familiar, tendo todos os documentos para exercer a atividade. No quintal de sua casa, ela planta hortaliças e cria galinhas com ajuda de financiamento da agricultura familiar. Em um terreno próximo, ela também cultiva frutas. Dona Maria conta que, para a criação de frangos, obteve empréstimo no Banco do Nordeste.“Eu consigo investimento para comprar 100 pintos e os comercializo pelo programa da prefeitura e forneço os frangos para comunidades escolares. Dessa forma, também tiro uma renda”, informou Eunice.

Segundo dona Eunice, que também é membro da União de Moradores Proteção de Jesus do Cajueiro, o vilarejo abriga cerca de 500 famílias. “Nós temos uma relação muito forte com a comunidade, é onde nascemos e fincamos raízes. Aqui é nosso lar. Não sou contra o desenvolvimento, desde que não afete as pessoas e o meio ambiente.”
O Cajueiro não é fonte apenas da agricultura e pesca de subsistência e que geram pequenos negócios. Ao fundo de algumas propriedades, existe a beleza de pequenos e grandes açudes. Como é o caso do piscicultor Manoel Sodré, de 60 anos, que possui uma área de cerca de 10 hectares com a manutenção de dois grandes açudes onde são produzidos cerca 15 toneladas de peixes por ano. O peixe mais comum em sua produção é o piau-cabeça-gorda.
“Temos pouco incentivo de investimentos bancários ou governamentais. Não consegui empréstimo no Banco do Nordeste quando busquei. Tive que levantar capital com empréstimos pessoais e com o refinanciamento do meu veículo, o que devo fazer novamente” revelou.

O negócio de Manoel, apesar das dificuldades, vem crescendo, e ele fornece até para grandes supermercadistas como o Mateus, com quem mantém dois contratos anuais que somam R$ 120 mil. Pequenas empresas, feirantes e moradores locais também fazem parte de sua clientela.

Porto

A comunidade do Cajueiro teme a implantação do terminal portuário do grupo WTorres no local. A Defensoria Pública do Estado (DPE) já promoveu encontros e diálogos entre as partes, porque algumas famílias podem ser desapropriadas para que o projeto do porto se consolide e eles também temem os impactos ambientais na localidade. Em uma das reuniões, teve a participação da assistente social Elizabeth Diniz, contratada para atuar na área de Projetos de Intervenção Social da WTorres, que apresentou proposta de conciliação. Segundo a assistente social, a empresa tem a intenção de abrir diálogo com a comunidade para conhecer as expectativas das famílias. Mas estas defendem sua permanência onde moram e tiram seu sustento. De acordo com a Defensoria Pública do Estado, a permanência da comunidade e o livre uso de suas áreas de posse estão atualmente garantidos por sentença, proferida pela Vara de Interesses Difusos e Coletivos da capital, em Ação Civil Pública do órgão.

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