Tecnologia: avanço ou empecilho?

As mudanças da cena do metal em São Luís

O Imparcial preparou uma série de três reportagens sobre um nicho que vem crescendo cada vez mais em São Luís desde os anos 1980; confira um pouco do histórico, desafios e perspectivas do metal em São Luís

Show de lançamento do CD de 20 anos da banda Tanatron. Foto: Henrique Sugmyama

Atualmente, é quase impossível não ter discografias completas ou acesso a shows e festivais internacionais direto da tela de um smartphone ou computador – independente do gênero musical. Com o metal, não é diferente. ‘O metal era muito underground. Hoje em dia é tudo muito mais fácil, o grande difusor foi a tecnologia’, pontua o produtor cultural Natanael Jr., um dos proprietários do Fanzine Rock Bar e ex-integrante da Ânsia de Vômito.

‘Hoje você ouve música em qualquer lugar, mas não está de fato ouvindo, acompanhando a letra, não está lendo o encarte do CD e do vinil’, explica Nyelson Weber, da Tanatron. Natanael lembra que, de fato, o fã de rock é um colecionador, e por isso ainda recebe investimento por parte da indústria. No entanto, a facilidade de ter discografias completas a poucos toques ou cliques acaba criando ‘um grande entrave, porque hoje a pessoa não vive o metal’, segundo Natanael.

Marcelo Bazuca, ex-Lúgubre e atual baterista da Cimitarra, reforça. ‘Na minha época eu achava melhor, mais difícil, complicado, e eu achava bem mais interessante que hoje, que você acessa a internet e tem uma infinidade de músicas’, compara. Gesner Soares, baixista da Cimitarra e também ex-Lúgubre relembra o auge dos anos 1980: ‘na época da gente o Iron Maiden lançava um LP, e a gente ia ter acesso um mês depois, ao disco em si, a reportagens em revistas’.

Sobre as dificuldades que apareceram aos poucos ao longo de 30 anos, Nyelson conta que uma das maiores é ‘saber que tem muito público em São Luís e ter que contar com pouco na hora de fazer o show’. Ele comenta que de quatro anos para cá, faz produções independentes e conta com um público fiel, mas sabe que os espaços poderiam estar mais lotados. O músico lembra o caso da prévia do ‘Metal Open Air’ (MOA), que lotou a Praça Maria Aragão com quase 10 mil pessoas, e questiona: ‘tem gente pra caramba, onde está essa galera?’.

Além da possibilidade de alcançar um público maior através da internet – o que revela prós e contras –, outra mudança que possui dois pesos foi o maior acesso a instrumentos e equipamentos que antes não poderiam ser encontrados na cidade, que viabiliza de shows de grande estrutura a gravações de CDs e clipes – tudo aqui, em São Luís. Entretanto, André Nadler, vocal da Jackdevil, pontua e reitera uma opinião popular entre quem produz metal: ‘o público está cada vez mais preguiçoso, talvez até pela facilidade de ter acesso a tudo tão mais fácil do que nos anos 1990. Tem gente que aproveitou essa tecnologia para deixar de ir aos shows e agora guarda toda a sua paixão pelo metal dentro do HD dos seus computadores’, comenta.

Natanael aponta ainda uma grande crise nacional, que engloba diversos fatores – inclusive a segurança – que inviabiliza a expansão da cena local, que poderia ser muito mais ampla. Ele, que sempre produziu grandes shows, é um dos responsáveis por uma das casas que mais abre para o metal em São Luís, o Fanzine Rock Bar, localizado na Beira-mar. ‘É uma casa do tamanho do público, com objetivo de criar um palco alternativo não só pro heavy metal’, explica.

As mudanças, no entanto, não foram de um todo ruins. ‘A molecada hoje se preocupa em estudar a parte musical’, comenta Gesner, que indica que o estudo chega a criar ‘moleque que vai pro show olhar os erros’. Marcelo completa: ‘se naquela época a gente olhasse no nosso meio um cara que era muito virtuosinho, acadêmico, a gente ia cair em cima dele’.

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