DIA DO TRABALHO

Elói Natan fala sobre o situação do trabalhador bancário

Em entrevista com o economista e presidente do Sindicato dos Bancários do Maranhão (Seeb-MA), Elói Natan, para falar sobre esta data no ponto econômico e político vigente no país e as consequências no setor bancário.

Reprodução

Dia do Trabalho é comemorado hoje, dia 1º de maio. No Brasil e em vários países do mundo é um feriado nacional, dedicado a festas, manifestações, passeatas, exposições e eventos reivindicatórios e de conscientização. Em comemoração a este dia, O Imparcial realizou uma entrevista exclusiva com o economista e também presidente do Sindicato dos Bancários do Maranhão (Seeb-MA), Elói Natan, para falar sobre esta data no ponto econômico e político vigente no país e as consequências no estado do Maranhão, principalmente no setor bancário.

O Imparcial – Em meio a essa situação econômica, o Dia do Trabalhador é um momento de comemoração?
Elói Natan – Não há o que se comemorar neste dia, que é marcado nacionalmente como um dia de luta dos trabalhadores. Especialmente em meio a tantas denúncias de corrupção e retiradas de direitos. Por exemplo, a reforma da Previdência pretende que as pessoas trabalhem até morrer e a reforma trabalhista retira os direitos conquistados no trabalho. Deixarão de ter validade absoluta e ficarão à mercê da negociação, que já é desigual entre patrões e empregados. Esse dia 1º é um dia de mobilizar os trabalhadores da necessidade de luta.

Você acredita que a reforma da Previdência irá prejudicar os trabalhadores?
A reforma da Previdência atende a certos interesses e esses interesses não são dos trabalhadores. A reforma visa atender os anseios dos banqueiros. No momento em que o governo exige uma série de critérios pra garantir a aposentadoria pela previdência pública, ele acaba empurrando o trabalhador a buscar uma alternativa na iniciativa privada, nos planos de intenção que são vendidos pelos bancos. E o discurso que existe que um rombo nas contas é totalmente fictício. O que se quer nesse momento, que se vive uma crise econômica, é garantir o lucro daqueles que já lucram muito, que são os banqueiros. O banco ainda tira outra vantagem com a reforma da Previdência, pois, segundo o governo, a Previdência é cada vez maior, e isso é verdade porque a população está envelhecendo. O que acontece é que este governo quer reduzir os gastos com a Previdência pra garantir que o dinheiro arrecadado com os impostos possa pagar as dívidias públicas. Quem é o principal credor do governo? Os grandes bancos.

Você acredita de fato que o Brasil está vivendo uma crise?
Economicamente há uma crise no país expressa pela inflação e pelo aumento do desemprego. Apenas os trabalhadores e os desempregados sofrem com essa crise. Quando a economia de um país cresce, desenvolve também o lucro dos grandes empresários e consequentemente os trabalhadores ganham também, mas quando esse país está decrescendo toda essa cadeia entra em um retrocesso.

O que falta para viver em um país economicamente estável?
Eu acho que é preciso o governo ter uma política que beneficie a maioria da população, pois as políticas adotadas pelo governo são políticas que beneficiam o interesse de uma minoria. Enquanto persistir o sistema de quem decide a eleição ser o poder econômico com a contribuição das grandes empresas, os políticos que estão “representando a gente” estarão lá apenas para satisfazer os interesses dessa minoria. O governo deveria taxar impostos aos mais ricos e evitar essa distorção que existe hoje, onde o mais pobre contribui mais e o mais rico contribui menos.

E o mercado bancário tem crescido?
O setor bancário, assim como outros setores da economia, passa por um processo de “revolução digital”, assim como o Uber tá revolucionando o mercado de táxi. E, apesar do crescimento do setor em quesitos de rentabilidade e lucratividade, o número de bancários tem reduzidos bastante. Na década de 1980 nós chegamos a um milhão de bancários, na década de 1990 esse número chegou a mais ou menos 600 mil bancários e hoje temos em torno de 450 mil bancários. A tendência é que esse número só reduza, isso tanto em bancos públicos como os privados. Com essa revolução digital, postos de agências vêm sendo fechadas em várias cidades e aqueles que ficam sobrecarregados de trabalho. Os bancos estão tendo interesse no cliente de alta renda e cada vez mais expulsando o cliente de baixa renda para outros tipos de atendimentos, as loterias por exemplo. Esse cliente é tratado como um lixo bancário. Nos últimos cinco anos, tivemos uma redução de mais de 100 mil bancários.

Você acredita que os direitos trabalhistas algum dia será prioridade da economia brasileira?
Enquanto não mudar o sistema politico vigente, onde quem manda é o poder econômico, os direitos dos trabalhadores nunca serão prioridades. Pode ser um governo de direita ou de esquerda, mas as prioridades sempre serão da minoria. É necessário um processo de organização autônoma e que os trabalhadores possam entender que eles podem interferir nessa realidade.

Se as reformas fossem barradas, quais as grandes vantagens dos trabalhadores?
Mesmo depois de barrarmos essas medidas, ainda faltarão muitas ações, como a garantia de empregos pra todos, com justos salários. Isso é um desafio de uma sociedade inteira. E conseguindo essa vitória os trabalhadores perceberão que eles podem ter as vozes ativas e, assim, poderem lutar por outros direitos.

Como você analisa o atual governo Temer?
Esse governo chegou ao poder em uma situação bastante fragilizada. Ao mesmo tempo em que ele é pressionado pela população, ele precisa apresentar resultados para os grandes empresários. Ele é um governo que não consegue garantir a situação econômica do Brasil. Acredito que ele não chegará até o final do seu mandato. Seja por não apresentar resultados aos grandes empresários, ou pela impopularidade muito grande. E mesmo que venham novas eleições, está havendo uma instabilidade política muito grande e a credibilidade que esses políticos vêm trazendo desmotivando o povo. Enquanto a economia mundial não tomar uma estabilidade, nenhum governo conseguirá controlar o país.

Uma palavra que pudesse resumir esse governo, qual seria?
“Entreguista”, que entrega o governo nas mãos dos grandes empresários, nas mãos da corrupção. Outros poderiam falar que é um governo golpista, mas eu não sou partidário que houve um golpe, pois a ex-presidente Dilma escolheu Michel Temer como vice duas vezes. Então, eles aceitaram fazer um governo de aliança. Eu digo que Dilma não tinha mais condições de liderar e nem de enganar mais os trabalhadores. E hoje nesse 1º de maio ratifico que não pode ser ais um feriado. Os trabalhadores precisam compreender, enquanto uma classe, que a todo tempo são atacados pelo governo, pelos patrões que buscam explorar e humilhar. Precisamos reforçar os laços de solidariedade.

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