Um pouco de história

Cena do metal em São Luís: a chegada

O Imparcial preparou uma série de três reportagens sobre um nicho que vem crescendo cada vez mais em São Luís desde os anos 1980; confira um pouco do histórico, desafios e perspectivas do metal em São Luís

A banda Ácido foi uma das precursoras do metal em São Luís. Na foto, a apresentação do grupo no antigo CEFET.

O metal é o segmento mais denso do rock. Dos anos 70 de Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple até a atualidade, que revela um enraizamento que vai do ‘death’ ao ‘glam’ metal, o gênero foi calcado como estilo de vida entre seus seguidores. ‘O metal preenche o meu vazio. Ele me enche de energia quando eu preciso extravasar ou pra me dar um alento mesmo. Ele é muito forte na minha vida, desde que eu me entendo por gente’, comenta Nyelson Weber, vocal e baixo da maranhense Tanatron e produtor musical. O sentimento é recorrente entre os metaleiros.

O início da trajetória de quem viveu a chegada do metal em São Luís é geralmente parecido. O fascínio com a sonoridade de grandes bandas internacionais – em vinil ou fita – e a identificação com o estilo e ideologias que até hoje regem o segmento, misturada à falta de referências locais, criou grupos de jovens ludovicenses nos anos 80 que tinham como objetivo apenas viver o metal por paixão.

Gesner Soares, baixista, e Marcelo Bazuca, baterista, acompanharam essa chegada, integrando uma das bandas precursoras do gênero na cidade, a Lúgubre – que hoje se reconfigura como Cimitarra, com a participação de três novos integrantes. ‘Se você estivesse de camisa preta, com o Ozzy mordendo o morcego, ou do Iron Maiden, Scorpions, você era mal visto’, comenta Gesner. Os encontros na ilha entre os grupos aconteciam geralmente na praça Deodoro, no então recém inaugurado Tropical Shopping, ou na antiga sede do Partido dos Trabalhadores, que promovia festas ‘regadas a cerveja quente’ e apoiava os nichos culturais mais ‘underground’ da ilha. ‘A gente ia pro Tropical beber vinho, xingar todo mundo, os ‘new waves’ [expressão que engloba os gêneros musicais emergentes na época]’, relembra Marcelo.

O estilo sempre carregou estigmas. O metal era – e ainda é – associado a quem ‘não quer nada com a vida’. Um erro, de acordo com os próprios metaleiros, que estão, nem sempre com um visual ‘carregado’ e com roupas pretas, em todos os cantos: no serviço público, na iniciativa privada, nas escolas secundaristas e Universidades. Sobre o preconceito, Nyelson comenta: ‘a experiência que eu tenho no metal é de pessoas que carregam um estigma injustamente’.

Gesner e Marcelo lembram de um episódio que aconteceu há décadas, mas que marca até hoje. ‘A gente se encontrava na praça Deodoro e estava conversando, sem mexer com ninguém, e alguém jogou uma casca de laranja na minha direção’, conta Gesner. A provocação, quando questionada, resultou em agressão física – que só não deu em briga porque os próprios metaleiros conseguiram fugir.

Para André Nadler, vocalista da banda Jackdevil, o preconceito com o estilo reduziu nos últimos anos. ‘Quando era criança encontrava isso pelas ruas de São Luís com mais voracidade. Resolvi deixar o cabelo crescer ainda bem jovem e costumava ouvir ofensas de pessoas que passavam de carro por mim e gritavam para eu cortar o cabelo ou me chamavam de homossexual’, comenta.

O METAL NA ILHA

São Luís, década de 1980. A euforia de grandes festivais e shows que aconteciam no sudeste do país com o hard rock do Kiss no Maracanã e a primeira edição do Rock in Rio, em 1983, começava a atingir a capital maranhense. Na ilha, os pioneiros do metal, tomados pela influência de grandes bandas nacionais e internacionais, foram a Ácido e Lúgubre. Ganharam destaque também, com o passar dos anos, Ânsia de Vômito, Tanatron e Brutallian, até chegar na Cimitarra, composta por membros da antiga formação da Lúgubre, com seu metal cantado em português, e Jackdevil, que também já possui tradição de anos na cena e hoje ganha destaque nacional e internacional – a banda entra em turnê europeia ainda este mês, e passa por 15 países.

A capital maranhense já foi palco de diversos shows e festivais de metal que movimentaram o cenário local. Produtor cultural, um dos proprietários do Fanzine Rock Bar e ex-integrante da Ânsia de Vômito, Natanael Jr., relembra as três edições do São Luís Rock Show, logo no começo dos anos 90, os shows de metal no Teatro Arthur Azevedo (antes da reforma) e na antiga sede do Partido dos Trabalhadores, no Centro.

Entre as bandas internacionais que fizeram parada em São Luís, o músico Nyelson Weber destaca a americana de death metal, Cannibal Corpse, e a alemã de trash metal, Destruction, que se apresentou no Metal Open Air (MOA), em 2012. ‘O MOA foi a coisa que mais me marcou [dos momentos do metal em São Luís]. Eu vivi um clima que parecia ser de grandes festivais, aconteceram inúmeros problemas, mas mesmo assim eu ainda vi 14 shows, a maioria internacional’, pontua. Na época, o festival, produzido por Natanael, foi bastante criticado por falhas na estrutura e cancelamentos de shows, mas, segundo Nyelson, chegou a movimentar a cena local de forma positiva.

André Nadler também destaca, entre os shows internacionais, as bandas Cannibal Corpse, Destruction e até Scorpions – todas trazidas por Natanael. ‘Uma coisa única que vivi foi quando o Jackdevil abriu o show de um projeto paralelo do Andreas Kisser (Sepultura) e o produtor do evento, Natanael Jr., me levou para conhecer o cara. Quem me acompanha sabe o amor que tenho pelo Sepultura e aquilo foi mítico na minha carreira. No futuro, mais precisamente um ano depois, fui entrevistado pelo Andreas pela primeira vez, na 89 FM, em São Paulo, durante a primeira turnê da nossa banda e esse foi outro momento histórico para mim’, completa.

As produções com bandas maranhenses também ganham destaque, para Nyelson Weber. Das edições do Metal Force Day e 24 Horas de Rock, até shows independentes, como os 20 anos da Tanatron, a variedade de opções é responsável por movimentar o metal em São Luís. Sobre os locais que abrem com frequência para o metal, o Fanzine Rock Bar, localizado na Beira-Mar, e o Contraponto, que fica na Praia Grande, são ressaltados por quem constrói o segmento na ilha.

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