As perspectivas do metal na ilha
Na última reportagem da série sobre a cena do metal em São Luís, O Imparcial destaca as perspectivas do segmento na capital segundo músicos e produtores
Após uma trajetória de mais de 30 anos, do forjamento de diversas gerações através de uma ideologia própria, que se traduz num verdadeiro estilo de vida, e de atualmente lidar com dilemas que não se configuram ao certo como avanços ou empecilhos, como o caso da tecnologia, o metal em São Luís aponta para um norte positivo, segundo os produtores e headbangers da capital.
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As apostas são muitas: bandas novas surgem a todo momento, frente à facilidade do acesso a equipamentos e divulgação, e podem, se seguirem num bom ritmo, movimentar ainda mais a cena local. ‘O público quer novidade, quanto mais bandas boas, com CD gravado tiverem, melhor’, comenta Nyelson Weber, da Tanatron, que está há 20 anos na ativa. Ele aposta e torce para que daqui a dez anos as bandas sejam tão boas quanto as de hoje. ‘A visão é positiva, torço muito para que as casas que estão hoje se consolidem, bandas que estão trabalhando consigam continuar na ativa, e que sirvam de inspiração para outras bandas que estão surgindo’, pontua.
O vocalista da Jackdevil, André Nadler, acredita que existem duas estradas que podem ser traçadas para o futuro do metal na ilha. ‘Se as pessoas daqui continuarem tomando aquele veneno que elas mesmo forjam como a inveja e o comodismo, tenho certeza que as coisas vão estar bem piores daqui a dez anos. Mas se respeitarmos uns aos outros e deixarmos de nos importar com a vida alheia, procurarmos crescer em nossos projetos, garanto que o sucesso será o fruto de tal posicionamento’, comenta.
André faz apostas em bandas como a School Trash, Leopard Machine e Alchimist – produções mais jovens que, segundo ele, precisam de apoio e têm conseguido reconhecimento até fora do país. O metal maranhense ainda será representado na Europa pela Jackdevil, que sai em turnê ainda este mês. A banda ainda espera lançar seu terceiro álbum, novo videoclipe e mais uma turnê no exterior para o começo de 2018.
Quando perguntados sobre a cena do metal na cidade em dez anos, Marcelo Bazuca e Gesner Soares, da Cimitarra (antiga Lúgubre), descontraem: ‘olha, eu não sei, só sei que a gente vai estar mais velho’. Os músicos também fazem menção a uma fala de Gene Simmons, vocalista e baixista do Kiss. ‘Eu sei por qual motivo o Gene Simmons diz que o rock morreu. É porque hoje em dia o cara não toca mais rock por amor, por gostar, ele toca pelo cachê’, comenta Gesner.
Os dois ainda mencionam uma dificuldade a ser superada ao longo dos anos: o preconceito com pessoas mais velhas na cena local. Marcelo, entretanto, pontua que ‘a Cimitarra está mudando isso porque está havendo essa mescla’. A banda, composta pelos dois ex-integrantes da Lúgubre e mais três músicos mais jovens, lançou recentemente um videoclipe e pretende lançar um EP em breve. Eles também abrem o show de uma das principais bandas de heavy metal do Brasil, a Vulcano, no dia 3 de junho, no Fanzine Rock Bar.
Sobre a questão das barreiras de idade colocadas no cenário ludovicense, Nyelson comenta que é um algo imposto porque os headbangers mais antigos deixaram de ir aos shows. ‘Se eles não se fizerem presentes, eles vão continuar no abismo. Como é que um moleque vai respeitar um cara que ele não sabe quem é?’, indaga. O vocalista e baixista da Tanatron cita o ainda o exemplo da Cimitarra, e comenta que ‘[a banda] é um grande exemplo disso, eles estavam um tempo parados mas voltaram, e estão disputando espaço como banda nova, apesar de serem antigos’.
CONSELHOS À NOVA GERAÇÃO
Ouvir quem está na ativa no há décadas é o primeiro passo para trilhar um bom caminho, seja quando o objetivo é montar uma banda ou apenas desfrutar do bom e velho metal. Nyelson aconselha ouvir as bandas clássicas, estudar e entender cada vertente para não acabar com a cabeça fechada. A ideia é também ir aos shows e não ouvir as bandas apenas pelas plataformas digitais. Para aqueles que estão começando a tocar, a dica é, antes de partir para os palcos, fazer música autoral e tentar gravar – tarefa que ficou mais fácil com a tecnologia. Ter iniciativa e realizar produções independentes também é um passo importante, de acordo com Nyelson.
Nadler, em seus conselhos, segue uma linha que chega a ser filosófica. ‘Se você é uma pessoa que tem medo de se envolver intensamente com as coisas, a dica é fácil: desista! Agora, se você quer ser diferente, o metal é uma ótima opção’, comenta. Para aqueles que planejam uma carreira musical, o conselho e outro – mais severo. Ele conta que é preciso estar disposto a reconhecer a derrota como aliada, e cita Rocky Balboa: ‘Não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada’, finaliza.
Para Gesner e Marcelo, a humildade vem em primeiro lugar. ‘Se você quer ser músico, invista no seu sonho, faça o que você quer’, aconselha Marcelo. Gesner completa: ‘é preciso ser sincero naquilo que está fazendo, mas sem tentar abraçar o mundo e agradar todo mundo, porque isso ninguém consegue’.
Já Natanael Jr., ex-integrante da Ânsia de Vômito e proprietário do Fanzine Rock Bar, contraria a profissionalização do metal. ‘O rock não pode virar uma indústria profissional. A banda tem que manter a essência do rock’. Ele relembra sua época nos palcos, e conta que sua principal reivindicação era ‘não levar a sério’.