Entrevista

Raimundo Lopo fala sobre arbitragem brasileira

Instrutor de arbitragem da CBF realizou palestras em São Luís em busca de um padrão mais seguro e confiável, de Norte a Sul do país

O instrutor técnico da CBF, Raimundo Lopo. Foto: Alexson Sampaio.

A Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) da CBF realiza visitas às federações de todos os estados para promover o programa de treinamento da temporada 2017. Árbitros e assistentes indicados pelas entidades estaduais participam de uma série de atividades teóricas e práticas que visam a padronização de conceitos para a arbitragem nesta temporada. O trabalho tem como objetivo padronizar os procedimentos na tomada de decisões, com palestras e também treinos práticos e teste físico.

Raimundo Lopo (Distrito Federal), instrutor físico da Conaf, esteve em São Luís na última semana, onde um dos temas enfatizados nas palestras foi a “Regra 12”, isto é, mão na bola ou bola na mão? Mas outros assuntos mereceram orientação, como faltas na entrada da área, infrações táticas e impedimento. Ele falou com exclusividade à reportagem de O Imparcial.

As visitas fazem partes de um programa de rotina da comissão nacional, ou estão acontecendo devido à situação polêmica da arbitragem brasileira neste momento?

Essas visitas sempre existiram. Elas acontecem pelo menos uma vez por ano, inclusive eu já participei quando era árbitro. Eram chamadas de pré-temporadas ou jornadas técnicas, e como houve mudança na comissão de arbitragem, também acontecem mudanças de atitudes, de procedimentos.

Como foi a programação dessas atividades em São Luís?

Estivemos no período da manhã com o presidente da Comissão Nacional, quando foram proferidas palestras especificas para os árbitros e assistentes. Agora, no período da tarde, estou aqui mostrando a prática do árbitro assistente e como o árbitro principal deve se posicionar em relação à dúvida de um lance. Amanhã pela manhã e à tarde estaremos com mais palestras na federação.

Qual é a indicação da Comissão Nacional, sobre assuntos delicados, como por exemplo a bola na mão ou mão na bola?

A mão, em muitos casos, o jogador pode evitar. Nós temos um vídeo que deixa isso muito bem claro, em que a bola vai entrando e o jogador mergulha, mas o braço aproxima da bola e ele faz o movimento para não tocar e consegue evitar o gol. Então, o jogador tem o pleno domínio das mãos. Se tem uma parte do corpo que você consegue dominar são os braços, e para a regra do jogo, braço é mão, nesse caso vêm algumas perguntas: O que você fez pra evitar? Qual era a distância? Qual era a velocidade? Qual era a posição do seu braço? Era uma bola curta, inesperada? Era uma posição natural? Então, essa questão precisa ser analisada, e essas perguntas precisam ser respondidas em tempo muito rápido, e o arbitro precisa decidir se é ou não, mão.

Então, fale de uma situação na qual seja necessária uma resposta rápida?

Uma bola que vem distante e você mantém o braço, aumentando seu espaço e aí bloqueia, por que não evitou? Então, quando você se projeta, qual era seu objetivo? Sem dúvida, era não deixar a bola passar, então você assume o risco de cometer mão na bola. É isso que o arbitro precisa analisar e tomar a medida que o regulamento diz.

Em sua opinião, o árbitro assistente adicional é uma função necessária em campo? Como esse árbitro contribui para tomada de uma decisão em uma partida?

Houve um período em que o futebol era só esporte, não envolvia tanto dinheiro, não era um negócio, ao ponto que chegou. Hoje, o clube é uma empresa, onde existem pessoas que investem milhões, e aí você deixa pra decidir ou mudar um resultado de gol ou não gol, e outra coisa é você concorrer com câmeras, dez, vinte, trinta câmeras no campo, quando se tem oito olhos e agora doze, ainda assim é difícil. Então, tudo que é feito é para ajudar e legitimar o resultado.

E o árbitro assistente, que geralmente tem participação intensa na arbitragem?

Por exemplo, nós treinamos, hoje a função de árbitro assistente, aí eu digo pra você qual a condição do ser humano em até 20 metros da linha da bola, quando esta bate em cima, bate embaixo, e a chance dele acertar? Se você pega esse ângulo daqui pra lá, você pode ter um árbitro parado, para tomar essa decisão, aí eu te pergunto: ajuda ou não ajuda? E eu mesmo respondo: como ajuda, com certeza ele vai cometer erros, porque futebol é como sempre digo, não é ciência, e mesmo que fosse não seria exata.

Com essa questão da distância e a dificuldade para validar alguns lances com precisão, não seria o momento da arbitragem utilizar-se de todos os recursos tecnológicos para ajudar?

Hoje, já temos nos utilizado de muitas tecnologias, que não haviam na época que eu apitei, mas começaram a ser implantadas. A bandeira eletrônica, por exemplo, que é um elemento que ajuda; o rádio que também ajuda; o aparelho que detecta o gol e o não gol. Não é só no Campeonato Brasileiro que não tem, existe muito campeonato, mas na verdade a maioria não tem.

Como funciona esse dispositivo? O alto custo seria o motivo na demora da adoção definitiva?

É um dispositivo que, quando a bola passa ele vibra o relógio junto com à palavra gol. É fantástico, mas é muito caro. Aí eu te pergunto: em um país que tem estado em que o futebol se arrasta, qual é a condição? O objetivo da Fifa é ter um futebol igual em todo o mundo, contudo, em minha opinião, é um pouco difícil.

Qual sua visão geral na arbitragem e o porquê de tantos erros?

Em minha opinião, muita coisa leva o árbitro ao erro. Além do fator “ser humano”, eu vou dizer pra você, um time de futebol treina quantas vezes por semana? Treina todos os dias. Quando os atletas não treinam, estão jogando. Qual é a condição do arbitro treinar todos dias? O arbitro é um funcionário público, é empregado da iniciativa privada, é empresário, e às vezes tira uma folga por mês pra treinar.

Então, essas seriam as causas de nem sempre o resultado ser o esperado?

Você vê um time de futebol treinando e o resultado nem sempre é o esperado. As decisões são mais de noventa por jogo e você acertar todas e principalmente as cruciais, não é fácil. Eu acredito que a coisa só vai funcionar, de fato e de verdade, quando estiver como se fosse um time de árbitros com toda estrutura.

Para o presidente da Comissão Estadual de Arbitragem, Marcelo Filho, a vinda do instrutor da Conaf foi da maior importância: “Sem dúvida essa visita engrandeceu muito a arbitragem maranhense. O treinamento é o que dá fortalecimento do cumprimento da regra, e com isso esse treinamento vai diminuir os erros dos árbitros em campo. A gente o coloca dentro das quatro linhas de acordo como a jogada acontece, o que o jogador faz, e para onde a bola vai, tanto na visão como no deslocamento com uso do apito, então o ganho é muito grande. Depois desse treinamento, nossos árbitros estarão prontos para apitar os jogos das séries A, B, C e D, não tenho dúvida”.

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