Maranhenses utilizam redes sociais para divulgar sua arte
Em vez de correntes perigosas, os dois disseminam cultura
Jogos criminosos como o da ‘Baleia Azul’, que pode estar diretamente ligado ao aumento de casos de suicídio e automutilação entre jovens e adolescentes, nos lembram de que as redes sociais, apesar de divertidas, têm alto potencial de risco – principalmente para pessoas com problemas emocionais ou psicológicos.
E o fato é que sim: as redes sociais podem ser perigosas. Há um bocado de gente má intencionada por aí. Felizmente, o número de pessoas que nadam contra essa pútrida corrente também é grande. Maranhenses como o antropólogo Sérgio Muniz, e o historiador Davi Coelho são provas disso. Em vez de correntes e desafios criminosos, os dois disseminam arte.
Sérgio Muniz tem 26 anos, e há quatro publica poemas autorais em seu perfil no Facebook. Ele explica que os textos, em sua maioria, são autobiográficos. Retratam momentos, sentimentos do seu cotidiano. Mas também são políticos, de protesto.
“Minhas poesias são autobiográficas, mas também tento descrever o que os ‘outros’ pensam, sentem, nos meus escritos. E, claro, também são de protesto. O Facebook funciona como um diário, ou como um espaço-teste, para sentir a recepção do público”, explica o antropólogo.
Sérgio Muniz afirma que sempre publica material inédito, e que raramente as suas poesias passam pelo papel. Quase todas são escritas diretamente pelo Facebook. “Elas sempre acontecem no meu momento máximo de exaustão física ou mental”, pontua.
Segundo ele, as publicações começaram despretensiosas, mas acabaram dando origem a um livro, que reúne cem poesias, e ganhou o título “365 Ventos” – que ainda não foi publicado. “O livro ficou pronto depois que eu comecei a publicar poesias no Facebook, mas também tem material inédito, porque já escrevo há 10 anos”, esclarece. “O livro está em processo de diagramação, de identidade visual, e pretendo publicá-lo. Mas, como não conheço pessoas envolvidas nesse mundo editorial, vou acabar publicando de forma independente”, completa. (veja, no fim da matéria, duas poesias selecionadas pelo autor).
Diferente de Sérgio, o historiador Davi Coelho, de 30 anos, produz um tipo diferente de arte: ilustrações. Coelho publica, quase que diariamente, ilustrações de personagens de filmes e séries no Instagram. Os desenhos retratam desde personagens clássicos como Michael Corleone (Al Pacino), de O Poderoso Chefão, até os mais populares como Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Homem-Aranha (Tobey Maguire). Clique aqui para ver os desenhos de Davi.
As publicações são quase diárias, e já atraíram gente de todo canto: Davi Coelho conta que já vendeu ilustrações para pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso etc. Ele não sabe precisar, mas acredita que já tenha vendido mais de 300 desenhos. Algo que, segundo ele, nem passava pela sua cabeça.
“Eu adoro desenhar, sempre gostei. Então comecei a publicar alguns desenhos nas redes sociais, e a recepção foi melhor do que eu esperava. Isso me motivou, e então eu comecei a produzir cada vez mais. Hoje tem até gringo me seguindo, curtindo meus desenhos, e isso é bem legal”, conta.
Veja, abaixo, duas poesias de Sérgio Muniz:
1- Quando cheguei
o vi assoviar uma canção do nunca
Se concentrava em tratar a terra
como uma pele de domingo
Dias atrás falava eu sobre as promessas
também sobre os devires, os devotos
Conclui que o pequeno pássaro
Da dor se fez fumaça
Da outra vez cantei contra as promessas
Cantei como insensato
Cantei como no escuro
Cantei…
2 – Sim
Pelas memórias de uma raposa
Pela espera da tempestade
Pelo mar ao longe Delta
Pelos imperativos kantianos
Por ser assim
Por ser o sim
Serei um eterno poeta
Destas metalínguas
Que o
adeus
Seja uma
ode
ao
devir