Grupo de carona solidária é alternativa para estudantes da UFMA
A iniciativa, que surgiu por conta da insegurança presente no campus, já tem mais de 200 adeptas
Desde a última sexta-feira (31), a Universidade Federal do Maranhão tem sido tomada pelo clima de insegurança. Dois estupros e assaltos às linhas de ônibus do campus foram denunciados por estudantes, e a insatisfação com a falta de providências que garantam a segurança dentro da Universidade voltou a ser a principal pauta de reivindicação de quem frequenta o local.
Apesar das medidas emergenciais tomadas pela reitoria, entre elas a instalação imediata de um posto avançado da Polícia Militar na Cidade Universitária e o reforço de rondas ostensivas, um grupo de estudantes recorreu a outro meio de garantir uma estadia segura no campus: as caronas solidárias.
A iniciativa surgiu a partir de um grupo de ex-alunas do IFMA. “Como a maior parte da turma era meninas, muitas ficaram muito abaladas com os casos, e a maior parte estuda na UFMA, a gente ficou pensando no que fazer, porque não tinha posicionamento nenhum da Universidade”, comenta Emanuelle Nunes, estudante de Relações Públicas da UFMA e uma das idealizadoras do grupo de carona solidária.
O grupo de WhatsApp, que existe desde terça-feira (04), já ganhou mais de 200 adeptas. “No começo ficou um pouco confuso porque eram muitas mulheres que não se conheciam, ainda não tinha um método correto para pedir carona, e também se falava de assuntos que não era do grupo em si”, comenta Emanuelle. Mas com discussões e opiniões diversas, o método utilizado começou a ganhar forma.
DINÂMICA
Para participar do grupo é necessário enviar às administradoras um printscreen da tela inicial do SIGAA (Sistema Integral de Gestão de Atividades), que comprova o vínculo com a UFMA, e uma foto da solicitante com a placa “Carona Solidária”. As medidas foram adotadas para garantir a segurança das mulheres que abraçaram a causa e fazem uso das caronas.
O método de oferta e procura de caronas funciona através de uma lista compartilhada no grupo do WhatsApp. Basta adicionar à tabela padrão o trajeto feito e o horário em que a carona é oferecida ou solicitada. A partir disso, os detalhes do encontro são combinados via mensagem privada.
Além da dinâmica de caronas, o grupo é um espaço de acolhimento às mulheres. Ele também pode ser utilizado quando uma participante se sente coagida ou em perigo dentro do campus. “A partir do momento em que uma toma as dores da outra, que uma vai acompanhar a outra no momento que está sozinha ou dar uma carona, nós estamos nos tornando independentes do poder de outros que talvez não vão fazer a diferença, que talvez não vão conseguir nos ajudar”, relata Emanuelle.
RECEPTIVIDADE
Para Karla Bianca Pereira, cerimonialista e estudante de Relações Públicas da UFMA, a ideia é uma grande aliada na luta contra a violência e a insegurança que se instala na sociedade atualmente. “Sempre ofereci caronas a colegas de turma, e com o grupo me coloco a disposição de outras meninas que são de outras salas ou cursos. É gratificante ser parte de um movimento tão positivo nos dias em que a falta de amor e solidariedade estão imperando em nossa sociedade”, comenta.
Ilmarana Ribeiro, estudante de Design da UFMA e uma das idealizadoras do grupo, conta que a presença de outras mulheres em trajetos faz aumentar a confiança ao transitar pela cidade. “Em qualquer lugar público, seja no ônibus, seja no terminal, ou até no carro pegando carona, estar em companhia de uma mulher faz com que a gente se sinta muito mais segura, muito mais protegida”, relata.
Já existem mais planos sendo feitos a partir da iniciativa. Um aplicativo para smartphones está sendo pensado como forma de expansão do grupo de caronas solidárias. Além disso, a criação de um kit anti-estupro e oferta de oficinas de auto-defesa e encontros entre as mulheres também estão sendo idealizados.
Existe, ainda, outro grupo de caronas solidárias para estudantes, servidores e professores da UFMA, aberto tanto para homens quanto para mulheres.
ENTENDA OS CASOS
Dois casos de estupro foram denunciados na Cidade Universitária Dom Delgado. O primeiro aconteceu na última sexta-feira (31), nas proximidades da Concha Acústica, onde acontecia a Calourada Geral do DCE, e, o segundo, na segunda-feira (03), atrás do Paulo Freire. As investigações estão em andamento e continuam em sigilo.
Além dos estupros, casos de assaltos às linhas do ônibus que circulam pela UFMA também foram relatados por estudantes. Veja as denúncias feitas através das redes sociais:
https://www.facebook.com/SpottedUFMA/posts/1371948572884255
https://twitter.com/_apfc/status/849607058626412544
https://twitter.com/AlineSFalcao/status/849753668253569025