Santo Guerreiro

Devoção e luta: conheça a história de São Jorge

Montado em seu cavalo, de armadura e espada na mão, Jorge arrasta legiões de fiéis que encontram, na devoção, forças para encarar as adversidades da vida

Foto: acervo pessoal

“Eu  andarei  vestido  e  armado, com as armas  de  São Jorge. Para  que  meus  inimigos tendo  pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, nem pensamentos eles possam ter para me fazer mal.” Quem é devoto do Santo Guerreiro conhece este trecho da oração de São Jorge de cor e salteado – ela representa força e pedido de proteção. É um grito de guerra em forma de reza.

São Jorge nasceu na Capadócia do século III, região que hoje faz parte da Turquia. Foi um grande guerreiro, capitão do exército romano: tinha grandes habilidades com as armas, foco e dedicação. Logo recebeu o título de conde da Capadócia.

No entanto, à medida que se aproximava da corte do imperador Diocleciano, via a crueldade na forma que os cristãos eram tratados pelo império. Jorge então passou a se reconhecer cristão, e fez questão de não esconder sua fé, o que resultou em sessões de tortura e, por fim, sua degolação. A partir de então, foi reconhecido como um grande mártir da fé cristã.

SÃO JORGE E O DRAGÃO

Reza a lenda que, em uma ocasião, Jorge acampou com seu exército em uma região no norte da África. Lá havia um enorme dragão que devorava os habitantes da cidade. O Santo Guerreiro resolveu dar fim ao massacre, e propôs ao rei que, em troca do enfrentamento à fera e da salvação da jovem princesa que seria devorada, o reino se converteria ao cristianismo.

Dito e certo: Jorge, após muita luta e oração, conseguiu matar o dragão com sua espada chamada ‘Ascalon’. Os simbolismos são muitos. O dragão representa a idolatria, as armas são a fé. Por fim, a jovem que São Jorge salvou simboliza a região em que foi instaurado o cristianismo.

GUERREIROS: OGUM E JORGE

Ogum é Orixá africano, Jorge é santo católico. No entanto, o sincretismo religioso no Brasil – resultado de processos históricos – acabou mesclando os dois personagens no imaginário dos fiéis.

Hoje, inúmeros santos católicos e orixás se confundem por suas características semelhantes e são tidos como representação do mesmo arquétipo – nesse caso, de guerreiro. Os traços da força, determinação e combatividade de Ogum e São Jorge os conectam inegavelmente.

DEVOÇÃO

A visceralidade e devoção dos fiéis de São Jorge são inquestionáveis. O santo é um dos mais populares da Igreja, e arrasta religiosos pelo mundo todo – entre os frequentadores de terreiros, a fascinação é a mesma pelo Orixá.

Para Luis Guilherme Bastos, estudante e devoto do santo, existe entre eles uma forte relação de proteção e fonte de energia. “Ogum representa minha raiz e essência. [A devoção] surgiu em casa, por conta da minha avó. Ela é bem católica e devota de São Jorge, então me ensinou a oração bem cedo e eu sempre sentia uma ligação”, pontua.

Luis todos os dias antes de sair de casa faz a oração do Santo Guerreiro. “Desde que tomei esse costume, nada ruim me acontece. Os caminhos se abrem e nada atinge meu corpo”, comenta.

Heriverto Nunes, artista, professor de arte e fiel, também se aproximou do santo ainda na infância e pensa que ele muito se relaciona com o Brasil. “Eu acho que esse arquétipo do guerreiro representa muito principalmente a identidade do povo brasileiro”, explica.

Pela fé, Heriverto acredita que em 2015 foi livrado de uma encefalite – infecção no cérebro que pode ser fatal. “Eu fui desenganado, e saí ileso do quadro. Acredito que foi pela minha fé no Jorge, no guerreiro”, pontua. Ele promove anualmente um samba em homenagem a São Jorge, que acontece este ano na próxima sexta-feira (28), às 20h, no Anfiteatro Beto Bittencourt, Praia Grande. O evento, além de celebrar o santo, reverencia também os Orixás Ogum e Oxóssi.

No fim das contas, para os fiéis, a mensagem que São Jorge deixa é que, apesar das turbulências, provações e dos momentos de guerra, a vitória chega através da fé e da luta.

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