Finanças

Descubra como ser um poupador

Poupar garante segurança financeira para o futuro, sem prejudicar a qualidade de vida no presente, além de prevenir contra possíveis revezes financeiros e na carreira

Economizar é uma atitude que exige comprometimento. No Brasil, porém, o cenário é desanimador. Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) concluiu que, em março passado, apenas 15% dos consumidores guardaram parte do salário. Dos demais, 46% gastaram tudo que ganharam e 32% ficaram no vermelho. Para Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, a maioria dos brasileiros não poupa porque não sabe lidar com dinheiro. Por falta de educação financeira, as pessoas não se organizam para o futuro. “Somos gastadores. A maioria diz que não poupa porque não sobra dinheiro no final do mês ou sempre tem uma desculpa nova”, avalia.

Apesar desses indicadores desfavoráveis, analistas e educadores financeiros são unânimes em dizer que é possível aprender a poupar, embora ninguém consiga mudar o hábito de gastar tudo o que ganha de um dia para o outro. Antes de tudo, as pessoas precisam se conhecer. Há vários perfis de poupadores, desde aquele famoso “mão de vaca”, que não gosta de comprar nada, até aquele não tem a menor disciplina para se organizar financeiramente. Estes sabem que precisam economizar, mas não estabelecem objetivos nem economizam regularmente.

O hábito de poupar, de acordo com os especialistas, é o que permite a realização de objetivos como poder pagar uma faculdade, comprar a sonhada casa própria ou garantir a aposentadoria. Manter reservas financeiras, além disso, dá às pessoas condições de enfrentar com mais segurança as atribulações da vida. “Quem poupa tem uma vida financeira organizada e não precisa entrar em desespero quando ocorrem imprevistos, ou mesmo uma situação de desemprego”, diz Marcela Kawauti, do SPC Brasil.

A economista torce para que a crise econômica mude o comportamento das pessoas em relação às finanças. “Para muitas famílias é necessário passar por uma fase de aperto para entender que é preciso poupar. Na crise, fica claro que, se tivessem poupado, não passariam pelas dificuldades que enfrentam, ou, pelo menos, essas dificuldades seriam menores”, afirma.

O primeiro passo para começar a poupar é saber quais são os objetivos, pessoais ou familiares. Economizar por economizar não é eficaz, dizem especialistas. É preciso ter um motivo, de modo a sentir-se recompensado pelo esforço. “Quem não traça uma meta é mais suscetível a fracassar, porque é mais difícil economizar só para ter dinheiro guardado. É necessário ter um retorno visível mais à frente para que a pessoa se sinta estimulada”, afirma Sílvio Bianchi, da DSOP educação Financeira.

Quando poupar se torna um hábito automático, a pessoa pode conseguir ainda mais se colocar a quantia guardada para render em aplicações financeiras, como Tesouro Direto e títulos bancários. É o que os educadores financeiros chamam de “deixar o dinheiro trabalhar para você”.

Até 2013, o analista de sistemas Arthur Thiago Barbosa Nóbrega, 30 anos, não tinha controle das finanças. Ele morava com os pais, que o socorriam em caso de necessidade. A partir de então, passou a poupar 20% da renda. Agora, a meta é separar 30% do salário. “Antes, eu sabia que era necessário poupar, mas não tinha um objetivo nem um valor fixos. Guardava a quantia que sobrava, mas, rapidinho, eu a utilizava com gastos não previstos”, conta. “Hoje, eu tenho mais segurança financeira e maior liberdade para tomar decisões. Consegui me organizar financeiramente para sair da casa dos meus pais e morar num apartamento alugado, sem necessidade de ajuda.”

FAXINA NOS GASTOS

Após definir os objetivos, a pessoa precisa escolher o prazo em que pretende atingir as metas, orienta Sílvio Bianchi, da DSOP Educação Financeira. Além disso, é preciso fazer a chamada “faxina financeira”. “A pessoa precisa saber quanto ganha, quanto gasta e com o que gasta por mês. Deve observar os pagamentos diários e verificar o que é desperdício e o que são despesas supérfluas. Cortando esses gastos, ela conseguirá economizar”, explica.

SEPARE LOGO O QUE VAI GUARDAR

A maioria das pessoas comete um erro básico ao tentar economizar. “Muitos acham que devem guardar o dinheiro que eventualmente vai sobrar no fim do mês. Mas o correto é fazer é o inverso: separar a quantia a ser poupada quando recebem o salário — e gastar apenas o valor que sobrar. Dessa forma, cria-se um comprometimento e evitam-se desculpas para não fazer economia. Ninguém vai perder padrão de vida adotando essa prática”, diz o planejador financeiro Rogério Olegário, da Libratta.

O educador financeiro Adriano Severo, professor da Fundatec, recomenda um exercício para quem quer criar o hábito de poupar: guardar valores pequenos, mas crescentes, ao longo de 52 semanas. “Por exemplo, se a pessoa economizar R$ 1,50 na primeira semana, ela precisa separar R$ 3,00 na segunda, R$ 4,50 na terceira e assim por diante. Toda semana ela vai economizar R$ 1,50 a mais do que na semana anterior”, explica. No fim do período, serão R$ 2.067 extras no bolso. “É interessante começar com pouco e ir aumentando a quantia. Se a pessoa poupa mais do que é capaz, inicialmente, não vai conseguir manter o hábito”, explica Severo.

Sílvio Bianchi, educador financeiro da DSOP, explica que fazer economia não é sinônimo de avareza. “Poupar não é um estímulo para ser ‘mão de vaca’, mas, para não gastar mais do que se deve. É preciso ter equilíbrio”, observa. Para a estudante Bruna Guidetti, 23 anos, por exemplo, economizar nunca significou abrir mão da diversão. “Nunca deixei de ter a vida que queria só para poupar dinheiro”, diz.

Bruna mora em São Paulo, mas, aos 16 anos, passou um tempo em Brasília para fazer faculdade. “Meus pais mandavam uma quantia em dinheiro e diziam que eu poderia pedir mais. Só que eu não achava legal, a não ser que fosse para algo de que eu realmente precisasse. Meu pai sempre disse que devemos nos precaver. Acho que segui o conselho dele”, afirma Bruna. A estudante costuma guardar dinheiro para viajar.

É preciso, ainda, fugir das armadilhas. Quem não tem disciplina, por exemplo, não deve frequentar lugares que estimulem as pessoas a gastar, como shopping centers. “Se for inevitável, o consumidor deve levar só a quantia necessária e deixar o cartão de crédito em casa, para não correr o risco de adquirir algo supérfluo. Se tiver desejo de comprar, ele deve esperar um mês e se perguntar se aquele produto realmente é essencial. Se a resposta for sim, precisa se organizar financeiramente para fazer a compra”, indica Bianchi.

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