Crimes históricos que abalaram São Luís
A reportagem de O Imparcial relembra alguns dos crimes que mais marcaram e abalaram a população de São Luís de 1923 a 2012
Infelizmente, não é difícil lembrar de casos de crimes chocantes que marcaram a população de São Luís em épocas distantes e recentes. Esses episódios marcam tanto nossas vidas que basta um nome para que toda lembrança dos casos venha à memória. Como o caso Ponte Visgueiro, de 1874. O crime foi um dos mais famosos da história judiciária brasileira, pois se tratava de um juiz ancião e surdo, que morava, solitariamente, em um sobrado em São Luís. Apaixonara-se pela sua empregada, da qual se tornou amante. Um dia, esfaqueou-a e matou-a, enterrando-a no jardim da casa, dentro de um grande caixão.
Outro episódio que ganhou páginas de livros e que até hoje não sai da memória popular foi o ‘Crime da Baronesa de Grajaú’, de 1876, que também teve uma grande repercussão na cidade, por envolver uma dama da alta sociedade e um escravo de oito anos de idade. Na ocasião, o conceituado médico Dr. Santos Jacynto assinou o atestado de óbito afirmando que a causa da morte do menino, assassinado pela Baronesa, teria sido por hipoemia intertropical, o que significa opilação, vermes.
1923 – Kennedy é assassinado em São Luís
Para muitos estudiosos da história maranhense, é impossível que esse clima de revolta contra os desmandos da Ulen Company não tenha envenenado a mente do bilheteiro de bonde José de Ribamar Mendonça, quando ele, inconformado com sua demissão, depois de quase dez anos de trabalho, decidiu, no dia 30 de setembro de 1933, assassinar o contador da Ulen, John Harold Kennedy.
Desde a instalação da Ulen em São Luís, em 1923, multiplicaram-se na cidade episódios que revelavam a arrogância, o preconceito e o desprezo de seus funcionários em relação à população ludovicense. Os trabalhadores brasileiros da companhia eram as principais vítimas do tratamento humilhante dos ianques. Mas os maus-tratos e as atitudes prepotentes não se limitavam às dependências do escritório da Ulen.
1976 – O crime do Cutim
Em 1976, em uma das mansões glamourosas localizadas a meio quilômetro da sede esportiva do Grêmio Lítero Recreativo Português, moravam o engenheiro agrônomo paulista César Augusto Canto e Marina Freitas Canto e os dois filhos pequenos do casal, Artur e Alexandre. A vida conjugal de César e Marina, apesar do cenário grã-fino do seu lar, não tinha nenhum glamour. Nos cerca de 10 anos de casados, o casal já havia passado por várias crises, todas recheadas de incontáveis atritos, que iam das ofensas verbais pesadas às agressões físicas. Segundo ele próprio declararia em depoimento, com o desgaste da relação, tudo passou a ser motivo de conflito, e até a maneira como Marina se vestia em sua própria casa, com “trajes inadequados”, segundo o ponto de vista do engenheiro, virava motivo de briga.
A erosão do relacionamento entre César e Marina chegou ao nível de alerta máximo em 1975. Neste ano, já com a separação judicial sendo formalmente tratada pelo casal, Marina decidiu sair da mansão, levando os dois filhos. Marina, porém, ainda voltaria à sofisticada mansão do Cutim. De lá, ela sairia, em 1976, morta, abatida pelo marido César com quatro tiros de revólver calibre 32.
1966 – Morto e encaixotado
Fernando Arteiro mata o sócio José Melo a marteladas na Casa das Bicicletas, na Rua do Sol, e em seguida encaixota o cadáver e enterra no sítio do tio, Manoel Romão. Não era muito tarde quando José Melo dos Reis, um comerciante português nascido em Almeal, se despediu da noiva, Teresa Lima, naquela noite do dia 16 de junho de 1966. Passava um pouco das 20h. Teresa, como habitualmente fazia, tinha vindo ver o noivo na casa dele na rua Padre Antônio Vieira (entre a Escola Modelo e o Seminário Santo Antônio), no Centro.
Pouco depois de Teresa sair, José Melo pegou sua Vespa (uma pequena moto italiana que, como as Lambretas, faziam sucesso nas ruas das capitais brasileiras na década de 60) e se dirigiu até a Casa das Bicicletas, onde chegou perto das 20h30. Dentro do comércio, Fernando Arteiro já esperava por José Melo, mas não para analisar os livros de contabilidade da Melo & Arteiro Ltda., a razão social da Casa das Bicicletas. O que Arteiro pretendia era simplesmente matar o sócio inconveniente. Nas mãos, em vez de lápis e caneta para fazer as contas, arteiro trazia a arma do crime: um martelo. Num canto escondido da sala, um caixote de madeira, com a inscrição M&A. Originalmente usado para embalar peças de bicicletas, o caixão já fora previamente preparado para abrigar sua carga macabra, o cadáver de José Melo.
1990 – Estado ‘justiceiro’:o fuzilamento de Betinho Penha
A PM do governador João Alberto invade uma casa no Bairro de Fátima, em 1990, e metralha um marchante que havia cometido um assassinato em Viana. Nunca os moradores de São Luís, e em especial os do Bairro de Fátima, haviam visto algo parecido com o que aconteceu naquela tarde do dia 17 de setembro de 1990, uma segunda-feira. As ruas do bairro se transformaram num cenário que fazia lembrar a preparação para uma guerra, com uma dezena de viaturas policiais postadas em várias esquinas, e mais de 30 PMs, armados com metralhadoras, fuzis e revólveres, e equipados com dispositivos antitumulto (bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral), apropriados para dispersar multidões.
1973 – Caso Ivon: o algoz vira vítima
Ivon de Oliveira Sousa, um empresário piauiense que colecionava com a mesma dedicação armas e amigos no alto escalão da polícia maranhense, mata um homem com um tiro no rosto, no Hotel Central, em 1973, e é morto em 1984, quando estava acompanhado de um delegado. O local era um ponto de encontro não só de hóspedes, mas daquelas pessoas que costumamos chamar de “bem relacionadas”, que faziam do bar uma espécie de “escritório”, onde, geralmente no happy hour (lá pelas 18h), negócios eram realizados ou desfeitos, tudo regado a muito uísque do bom, e outras bebidinhas fortes, servidas por garçons das antigas, com gravatas-borboleta e tudo, uma espécie hoje em franca extinção.
Foi nesse ambiente que, no dia 7 de dezembro de 1973, uma sexta-feira, às 19h30, o empresário e campeão de tiro ao alvo Ivon de Oliveira Sousa, de 36 anos, assassinou com um tiro no rosto o contador do Tribunal de Contas do Estado José Ribamar Sacramento Pestana Costa, de 34. A disputa por uma mulher, que depois se tornaria a esposa de Ivon, foi o pivô do crime do Hotel Central. Seu nome: Hilma Almeida Viana. Ivon namorava com Hilma há alguns anos e marcara o casamento para o dia 30 de novembro de 1973.
1979 – O caso ‘Pintinho’
Trio de jovens de classe média tortura e mata, com requintes de crueldade, um vendedor da Ocapana, antiga loja de roupas masculinas da Rua Grande. Na madrugada do dia 31 de julho de 1979, um Fiat branco percorria a toda velocidade a estrada que liga São Luís ao município de São José de Ribamar. Dentro do carro, viajavam quatro jovens três rapazes e uma mulher. Não eram, certamente, amigos curtindo uma noitada de farra. Amigos conversam, brincam, e aquelas pessoas dentro do Fiat estavam irritantemente silenciosas. Bem que um dos ocupantes do Fiat até que gostaria de falar, mas algumas limitações físicas o impediam. Tudo no seu corpo doía, resultado das pelo menos duas horas de pancadaria a que fora submetido. Momentos antes, fora cravada nela, violentamente, uma chave de fenda. Mas a dor maior desse jovem ocupante do Fiat branco – um vendedor de roupas masculinas chamado Raimundo Pinto dos Reis, ou “Pintinho” – não era a dor física, mas pela certeza absoluta de que aqueles três jovens dentro do Fiat, que o haviam submetido a uma interminável sessão de selvageria, agora o estavam levando silenciosamente para a morte.
1986 – Morte na Fonte das Pedras
Pistoleiro de aluguel mata fazendeira de Itapecuru com cinco tiros, perto do Mercado Central, num crime de encomenda até hoje mau-esclarecido. A história do assassinato de Maria José Pires dos Santos começa em Itapecuru-Mirim, município situado a 120km de São Luís. Nessa cidade, Maria José, conhecida como “Cazezeca”, era uma daquelas pessoas que costumamos chamar de “bem de vida”. Possuía uma fazenda, três casas (duas em Itapecuru e uma em São Luís) e uma loja de confecções. Esse patrimônio fora construído graças ao esforço conjunto de Maria José e Gérson Dias Carvalho, o “Bebé”, proprietário de um hotel em Itapecuru – o Novo Hotel, localizado na avenida Brasil, no centro – e também de várias fazendas. Padrasto de “Cazezeca”, Gérson tornara-se seu amante.
Era uma relação não convencional; contudo, desde o início consentida. Quando começaram a se envolver, Maria José ainda era uma adolescente de cerca de 16 anos. Em 1986, alguns meses antes do assassinato, a relação dos dois sofreu uma mudança significativa, com a decisão de Gérson de trazer para morar com ele no Novo Hotel uma jovem de 27 anos, Maria das Dores Gonçalves, a “Dorinha”.
1997 – Meninos emasculados
Um assassino em série no Maranhão foi condenado a 108 anos de prisão, acusado de matar 42 meninos, sendo 12 no estado no Pará. Francisco das Chagas Rodrigues de Brito ficou conhecido pelo caso dos meninos emasculados. Os crimes foram cometidos no município de Paço do Lumiar no ano de 1997. A maioria dos corpos eram encontrados sem os órgãos genitais, e uma das crianças teve um dos dedos cortados. Entre os anos de 1989 e 2004, o criminoso respondeu por mais de 30 crimes no Maranhão e mais de 12 no Pará. Ele matava meninos entre quatro e 15 anos de idade.
2012 – Caso Décio Sá
O jornalista Décio Sá foi assassinado com vários tiros, em 2012, na Avenida Litorânea, na capital maranhense. Foi um dos casos de maior repercussão no Maranhão e completou cinco anos. Aldenisio Décio Leite de Sá, o ‘Décio Sá’, de 42 anos na época, foi alvejado com seis tiros de pistola 40, arma essa exclusiva das Forças Armadas, na noite do dia 23 de abril de 2012, em um bar na Avenida Litorânea, orla da capital maranhense. Na época, segundo investigações da polícia, o fato foi motivado por denúncias de crime de agiotagem no Maranhão, feitas pelo jornalista em seu blog, que era um dos mais acessados do estado. As investigações apontavam que os envolvidos no assassinato faziam parte de uma quadrilha de agiotas, que emprestava dinheiro para financiar campanhas de candidatos a prefeito que pagavam a dívida com dinheiro público quando venciam as eleições.