História

Conheça os monumentos que também são túmulos

As estátuas do jornalista João Lisboa e do escritor Odorico Mendes, ambas localizadas nas praças dos seus respectivos nomes, também guardam seus restos mortais

Praça João Lisboa. Foto: Karlos Geromy

Para quem vê os bustos e estátuas dos personagens da história nas praças e logradouros de São Luís, não imagina que ali também estão seus restos mortais. Dois desses monumentos, que também são mausoléus, pertencem à lista de Patrimônio da Humanidade da Unesco. Um deles é do político, escritor e tradutor Odorico Mendes, que está localizado na praça que leva seu nome, no Centro da Cidade.

A segunda estátua que guarda restos mortais é o do jornalista João Lisboa. A praça que também leva seu nome, tradicionalmente conhecida como Largo do Carmo, é um dos primeiros logradouros da cidade. Nesta praça aconteceram importantes fatos históricos maranhenses, como a batalha entre holandeses e portugueses, em 1643. O Largo também foi palco de vários movimentos políticos e sociais da cidade.

O nome da praça em frente à igreja foi dado em função do Convento e Igreja do Carmo, mas a praça ao lado é chamada de Praça João Lisboa, em homenagem ao mestre do jornalismo, João Francisco Lisboa, considerado um dos mais importantes escritores de nossa língua.

Memória valorizada

Segundo o historiador Antônio Norberto, a preservação da memória histórica não é prioridade da geração atual que está mais interessada em atividades voltadas ao consumismo e mundo virtual. “Há uma mudança de valores quando a memória é valorizada. Mas as pessoas não se interessam, e a geração que interessa está se dissolvendo”, afirmou.
O desgaste e a falta de atenção do público resultam em histórias engavetadas que poderiam ser exploradas de uma forma diferente. Apesar das características que todos os monumentos têm em comum, que é a situação de abandono que inspiram com a falta de zelo, sujeira acumulado e placas de sinalização pouco legíveis ou inexistentes, ainda há quem se importe em querer saber um pouco mais sobre eles.

JOÃO LISBOA

Quem foi
Primogênito de João Francisco de Melo Lisboa e D. Gerardes Rita Gonçalves Nina, fazendo os primeiros estudos em São Luís, interrompidos dos onze aos catorze anos, tempo em que vive na cidade natal. Com a morte do pai, segue novamente para a capital maranhense (1827), onde trabalha no comércio.

Em 1829, dedica-se novamente ao estudo, sendo aluno do afamado professor Francisco Sotero dos Reis, de quem mais tarde se desentende, e torna-se adversário.

Exerceu o jornalismo na cidade, então agitada por profundos movimentos revolucionários, e intensa vida cultural e ideológica – tempo em que ocorrem duas revoltas marcantes, a Setembrada (em 1831) e a Balaiada (de 1838 a 1841). Fundou em 1832 o jornal “O Brasileiro”, continuando a pregação interrompida com o fechamento de “Farol Maranhense”, de José Cândido de Morais. Em seguida reedita o “Farol”, que dirige por dois anos. Entre 1834-1836 dirige o “Eco do Norte”, que foi retirado de circulação, assim como o “Farol”.

Deixa, então, o jornalismo, ocupando funções públicas, sendo por três anos secretário de governo. Ingressa na política, concorrendo e ocupando por duas vezes a legislatura provincial.

Em 1838, retoma o jornalismo, participando, como entusiasta do Partido Liberal, da direção de “Crônica Maranhense”, ocasião em que eclodem os movimentos rebeldes no estado. João Lisboa é acusado, sem ter efetivamente culpa, de estar envolvido na Balaiada, o que o fez retirar-se da política por uns tempos, voltando-se para a literatura e à advocacia, como rábula.

Em 1848, retorna à Assembleia Provincial. Em 25 de junho de 1852 lança o “Jornal de Timon” – revista inicialmente mensal (cinco primeiros números) – e que foi publicada até o volume doze. Os dois últimos, feitos em Lisboa. Ali procedeu ataques a outro futuro patrono da Academia, Francisco Adolfo de Varnhagen, criticando-o por seu trabalho na “História do Brasil”, recebendo na capital lusa uma resposta panfletária do cunhado de Varnhagen, que também cuidou de ripostar no “Os Índios Bravos e o Senhor Lisboa” (1867].

Em 1855 foi ao Rio de Janeiro de onde partiu para Portugal, com a missão de reunir ali documentos históricos do Brasil, quando pesquisa também sobre Antônio Vieira. Lisboa já não contava com boa saúde, e veio a falecer ainda na capital portuguesa. Colaborou na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil (1859-1865) editada em Lisboa. Casou em 20 de novembro de 1834 com Violante Luísa da Cunha, sem filhos. Criou uma menina, parente da esposa. Recebeu a alcunha de “Timon Maranhense”.

Restos mortais

O Grande Monumento de Bronze com pedestal de mármore, construída em 1918 pelo escultor francês Jean Magrou, guarda as cinzas do ilustre patrono da cadeira nº 11 da Academia Maranhense de Letras. Seu corpo, trasladado um ano após seu falecimento, foi sepultado primeiramente na cidade de Pirapemas e depois transferida para a estátua na praça onde leva seu nome, em São Luís.

Seu corpo foi conservado em um caixão de chumbo, depositado na igreja de São Paulo e transferido para o mausoléu do comerciante Sebastião José de Abreu, no cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Os restos mortais do notável historiador só chegaram a São Luís no dia 24 de maio de 1864, e, por decisão da Câmara Municipal, foram enterrados na capela-mor da Igreja do Convento de Nossa Senhora do Carmo. Conduto, no dia 26 de abril de 1911, ocorre a transladação dos restos mortais de João Lisboa do Cemitério Municipal, de onde foram exumados, para o Largo do Carmo, sendo enterrados no centro da praça, em frente ao templo, no lugar destinado à estátua.

A cerimonia na época foi realizada com pompa oficial e contou com a presença do então governador na época, Luís Domingues, de autoridades civis, militares e religiosas, intelectuais, sindicatos, estudantes e grande massa popular. A organização do ato cívico foi entregue à Academia Maranhense de Letras, cujo presidente, José Ribeiro do Amaral, foi o principal orador.

ODORICO MENDES

Praça Odorico Mendes. Foto: Karlos Geromy

Quem foi
Político, tradutor, poeta, publicista e humanista brasileiro, mais conhecido por ser autor das primeiras traduções integrais para português das obras de ‘Virgílio e Homero’, sendo precursor da moderna tradução criativa. Descendente de família tradicional do Maranhão, Odorico Mendes nasceu em São Luís onde residiu até aos dezessete anos de idade. Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, faleceu subitamente em Londres, a 17 de Agosto de 1864. Foi o primeiro tradutor da Ilíada para português, considerado por muitos como o mais acabado humanista lusófono. Atualmente (2007) Odorico Mendes é o nome de uma rua, no bairro do cachambi, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

Restos mortais
Em 1905, o busto de Odorico Mendes foi inaugurado. Ele foi colocado em frente à Rua dos Remédios, assentado num pedestal estilizado, sob o qual descansam os ossos do tradutor das obras ‘Homero e Virgílio’, em fiel conciso verso português, transladados de Londres, do cemitério de Kensal-Green, em 1913.

As duas lápides de mármore branco que figuravam no túmulo do poeta em Londres foram transportadas para cá e estão colocados na parte inferior do pedestal, contendo as seguintes descrições: “Manoel Odorico Mendes. Exímio poeta brasileiro. Político e patriota extremo, que nasceu no Maranhão a 24 de janeiro de 1799, morrendo em Londres a 17 de agosto de 1864.

Em 1930, a praça passou por completa reforma, nova disposição dos canteiros, iluminação subterrânea e postes de concreto, mas somente em 1959 a praça tomou feição moderna e cuidada com a administração do prefeito Ivar Saldanha.

Em 2007 foi entregue o novo busto de Odorico Mendes, em substituição ao original que havia sido furtado do local, a sua reconstituição, foi viabilizada por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta do Ministério Público Estadual de um proprietário de um imóvel na Rua Grande com o ministério público Estadual, A praça foi contemplada também com a substituição do piso cimentado, recuperação dos bancos, troca das lixeiras e ajardinamento.

A obra de manutenção preservou elementos existentes no passado, o logradouro estava desgastado pela ação natural do tempo e pelo vandalismo. O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Academia Maranhense de Letras forneceram o material de pesquisa necessário para a reconstituição do novo busto.

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