Histórias de quem luta por uma vida melhor
Todos os dias milhares de pessoas migram para outras cidades em busca de uma vida melhor e enfrentam muitas dificuldades na busca de um sonho
Não há como negar as dificuldades na vida de quem nasceu em uma família humilde e cultiva a vontade de ter uma situação financeira melhor e uma profissão bem sucedida. Diante disso, milhares de pessoas todos os dias migram para outras cidades em busca de estudo, trabalho, melhor moradia. E felizes são aqueles que conseguem, mesmo com todas as dificuldades, dizer: “eu venci”. Aguerridos, insistentes, muitas vezes postos à provação, prestes a desistir, mas com uma vontade aliada à fé em Deus, eles conseguem superar as adversidades e conquistar o tão precioso sonho.
Algumas histórias de sucesso foram compartilhadas conosco, exemplo de Antonio Francisco de Sales Padilha, músico, professor doutor; outras estão apenas começando, como a de João Carlos Furtado.
Padilha, como é mais conhecido, tem 60 anos e nasceu em São Bento. Vindo de uma família de músicos, como ele mesmo diz, não tinha como não ser um também. De São Bento, depois de ter sido maestro da Banda de Dom Felipe Conduru, partiu para Brasília para a casa de um tio, para estudar música, uma vez que em São Luís ainda não havia esse equipamento cultural.
Já em Brasília, foi acolhido pelo tio Antonio Miguel Padilha (Tote), que o adotou como filho mais velho. E como já tocava trompete, foi convidado para tocar o tema da novela Carinhoso que era a música do Pixinguinha. Logo ficou conhecido como o rapaz que tocou Carinhoso.
“A maior dificuldade que se tem quando se sai do interior é a saudade da família e das coisas que existem lá e não existiam em Brasília. Eu sentia muita saudade dos meus irmãos, somos sete. Às vezes chorava, mas sempre escondido, para meu tio não pensar que eu não estava me sentindo bem tratado. Um dia, resolvi que viria embora. Meu tio disse que não iria se opor. Fomos comprar a passagem. No caminho para a estação de ônibus, fui pensando, refletindo sobre o que eu tinha ido fazer em Brasília. Quando descemos do ônibus e nos dirigimos para o guichê para comprar a passagem, eu disse para o meu tio: ‘Vamos para casa. Eu não vou mais não’. Penso que essa foi a decisão mais acertada que eu tomei na vida. Tinha minhas crises de tristeza, mas superava lendo livros de psicologia que uma amiga me emprestava. Neles via os exemplos de pessoas que tinham histórias de superação e me espelhava nelas”, conta Padilha.
Com o dinheiro que o tio dava para comprar os passes para o ônibus, Padilha comprava discos. Ele conta que era apaixonado por Herb Alpert & Tijuana Brass. “Como eu ainda não ganhava dinheiro, eu ficava com vergonha de pedir pra comprar discos, pois ele já me ajudava com casa, comida, passagem etc. Eu pegava o dinheiro e não comprava os passes. Ia para a escola caminhando cerca de 15 km ida e volta. Assim, eu comprei a coleção toda do Herb Alpert e ainda tenho guardado em casa como relíquias de um tempo maravilhoso de minha vida”, lembra.
Foi na Universidade de Brasília que Padilha se formou em Bacharelado em Trompete e Licenciatura em Música. Passou em concurso para várias instituições bancárias, até se estabelecer no Banco do Brasil por onde se aposentou.
Em São Luís, na década de 1980 passou foi selecionado para ser professor da Escola de Música Lilah Lisboa e posteriormente professor de música da Universidade Federal do Maranhão.
“Em 1983, eu conheci a professora de música Lisianne Nina de Araújo Costa, hoje minha esposa e mãe de nossas três filhas – Lorena, dentista; Lara advogada; e Júlia, psicóloga-. Como eu e Lisianne, todas são musicistas, mesmo que tenham se decidido por outras profissões”, diz.
Pergunto se ele se considera um vencedor. “Eu diria que sou um privilegiado. Sair de São Bento e tornar-me um doutor em música em três grandes e distintas universidades da Europa é mais do que ser vencedor, é ser um privilegiado. Penso que para muitos eu sou um vencedor, pois muitos alunos me dizem que gostariam de seguir os meus passos. Isso é gratificante”.
4 filhos criados
“Vim para cá primeiro, depois vieram a minha mulher e três filhos pequenos. Comecei trabalhando no comercio ganhando salário mínimo. Morávamos os em um quarto alugado em um prédio no Centro. Depois de um tempo veio mais uma filha. A vida era muito dura. A comida regrada e muitas vezes deixei de comer para dar comida a eles. Mas a gente superou tudo isso”.
Quem dá o depoimento é seu Francisco das Chagas Serejo, 71 anos, aposentado, que saiu de Chapadinha para São Luís em 1972. Hoje os filhos estão criados, bem sucedidos em suas carreiras profissionais e ele pode se dar ao luxo de curtir a aposentadoria com a esposa, com quem tem quase 50 anos de casado.
“Posso dizer que somos vencedores. Ao lado de minha mulher conseguimos criar nossos filhos com dignidade e hoje tem duas professoras, um contador e uma psicóloga na família. Não tenho faculdade, mas com honestidade e trabalho conseguimos dar isso pra eles. E é o nosso orgulho”, afirma.
Em busca de um sonho
João Carlos Furtado, 19, é um dos muitos acadêmicos que veio estudar em São Luís deixando a família no interior, no caso dele, Santa Inês. Cursando Engenharia de Produção, na FACAM, ele está em São Luís desde 2015. Mora com a irmã em um imóvel alugado e provê o sustento dos dois trabalhando no comércio e com a ajuda da mãe que faz vários serviços extras para ajudar nas despesas.
O pai faleceu em 2013 e foi ai que as coisas pioraram, pois ele era o grande responsável pelo sustento da família. “A coisa apertou um pouco. A minha irmã também estuda e o curso dela é integral, então eu trabalho de dia e estudo à noite”.
Com a rotina puxada, João Carlos já se viu várias vezes com vontade de largar tudo. Às vezes dá vontade de desistir, deixar pra lá, mas aí me dou conta de que preciso estudar se quiser realizar meu sonho. Penso que as coisas vão melhorar e que tudo vai valer a pena”, acredita.
Também universitária, Karina Soares, deixou os pais em Viana para estudar em São Luís, desde 2015. “A tarefa de morar só não é fácil, ainda mais no meu caso que sempre morei com meus pais. Mas o lado bom de tudo isso é que eu amadureci. Amadureci em tudo, comecei a enxergar a vida de outra forma, da qual eu não tinha noção por morar com meus pais e ter tudo no tempo e na hora certa. Meu maior sonho é ser independente! Ter o meu próprio dinheiro, meu próprio apartamento e retribuir em dobro tudo que meus pais fazem por mim. Porque morar no interior e sustentar dois filhos na cidade é difícil”, afirma.