‘A gente ama os haters. Eles fazem parte da legião de fãs do Sepultura’
Com 33 anos de história, banda Sepultura se apresenta pela primeira vez em São Luís. Veja a nossa entrevista exclusiva com os músicos.
A espera, finalmente, acabou: após 33 anos, a banda Sepultura está em São Luís para um show que promete ser histórico, nesta sexta-feira (31), na Casa das Dunas. O show faz parte da turnê do novo disco da banda: ‘Machine Messiah’. A capital maranhense é a primeira cidade brasileira a receber o show da turnê, que já passou por países da Europa e Estados Unidos.
Em entrevista a O Imparcial, o grupo falou sobre o processo de criação do novo disco, a expectativa para o show em São Luís, a relação com os fãs (e com os haters!) ao longo das mais de três décadas de estrada, e também sobre os irmãos Cavalera – como não poderia deixar de ser. Veja a entrevista na íntegra:
O Imparcial – Antes de tudo, eu quero saber: de quem foi a brilhante ideia de colocar um cover do tema de abertura de Ultraseven no disco?
Andreas Kisser – A ideia veio do conceito do disco. Ultraseven é um fenômeno. Eu lembro que eu assistia na década de 1970, o Paulo [baixista da banda] também, a gente moleque ainda, vendo pela televisão. A gente acompanhava diariamente. [O Ultraseven] É um robô que tem coração, que luta pela justiça (risos); um robô que luta pelos humanos. E esse conceito do Machine Messiah ajudou a trazer isso de volta. Eu sugeri a gente tentar encaixar esse cover, e o Derrick [Green, vocalista da banda] fez um trabalho espetacular cantando em japonês, inclusive com um japonês coach do lado. Nós mostramos para a gravadora do Japão também, está tudo certo, eles aprovaram (risos).
Derrick Green – Foi muito difícil gravar cantando em japonês. Acho que essa música foi a mais difícil do disco. E até agora, quando eu paro para escutar, eu me surpreendo. ‘Espera ai, sou eu mesmo cantando em japonês?’ (risos). Mas foi muito bacana.
O Imparcial – Derrick, você, particularmente, foi bastante elogiado pelos vocais nesse disco. Você fez algum trabalho específico para o Machine Messiah?
Derrick Green – Nós já temos vários discos gravados, e sempre tentamos coisas novas, diferentes. Então foi algo muito natural, o tempo ajudou muito também. A gente vai amadurecendo, aprimorando.
O Imparcial – Eu estou viajando ou em uma das faixas vocês fizeram uma pegada meio Rammstein?
Andreas Kisser – Não conscientemente (risos). Mas a gente escuta muita coisa, entre os quatro. A gente escuta de tudo, então na hora que a gente põe as ideias vem um pouco de tudo. Mas a gente não pensa assim ‘ah, agora vamos fazer uma parte Rammstein’. É mais deixar fluir mesmo, e essa bagagem que a gente tem vai saindo assim inconscientemente.
O Imparcial – E como foi o processo de criação desse novo álbum? Logo na primeira faixa, que dá nome ao disco, a gente já sente uma vibração diferente.
Andreas Kisser – A gente planejou cada música. Então cada faixa tem uma função muito bem definida. Na verdade, a gente escreveu esse disco pensando no formato vinil, dividindo lado A e lado B. Por exemplo: a música ‘Sworn Oath’ foi escrita para abrir o que seria o lado B do vinil, essa é a função dela. A Machine Messiah, que abre o disco, é uma espécie de introdução, como uma ópera – vamos dizer assim –, para criar expectativa. E eu acho que ela criou. Porque a galera ficou ‘Cara#%, o que esses caras estão fazendo?’ (risos). Mas se você escutar tudo, você vai ver que cada música entra no contexto, então é realmente um disco para se escutar inteiro. O disco foi muito bem recebido e a galera realmente está escutando.
O Imparcial – Essa é a primeira vez que vocês vão se apresentar em São Luís, depois de duas tentativas frustradas. O que os fãs maranhenses podem esperar?
Andreas Kisser – A gente estava devendo esse show. São Luís é a primeira cidade brasileira a receber a turnê do novo disco, e nós estamos muito felizes. A expectativa é a melhor possível. A gente vai tocar as músicas novas, mas também vamos tocar de tudo um pouco da história da banda, vamos tocar muita coisa ‘véia’ lá (risos), e surpresas, né? Porque a gente sempre deixa aberto para algum riff que eventualmente chega na cabeça; o Paulinho e o Eloy (baterista) vão atrás e vamos nessa.
O Imparcial – São 33 anos de banda, 14 discos gravados. E a sonoridade de vocês está sempre mudando, mas alguns fãs não aceitam isso muito bem. Alguns dizem, inclusive, que o Sepultura de hoje é apenas um cover do ‘verdadeiro’ Sepultura dos anos 1990. Como vocês avaliam essas críticas?
Paulo Júnior – Como não querem que a banda mude se cada disco tem uma sonoridade diferente? Quem é fã do Sepultura está acostumado com isso. Se a gente for ficar preocupado com tudo que estão falando a gente não toca mais, não faz nada da vida. Cada disco do Sepultura representa uma época, cada disco tem a sua sonoridade própria. E a gente sempre foi assim, sempre trouxe novos desafios, desde o primeiro dia de banda, e isso não vai mudar.
Andreas Kisser – Cara, tem 587 Sepulturas na cabeça de 387 mil pessoas (risos). Você vai para a Escandinávia, e tem gente que acha que Sepultura é só Bestial Devastation (1985) e Morbid Visions (1986). É isso que é Sepultura pra eles. Da mesma forma tem gente que foi conhecer a banda já depois da entrada do Derrick, e prefere assim. E todas essas fases são Sepultura. E a gente toca música de todos os discos. A gente não faz um Sepultura, assim, segregado. Independente da política, de quem estava na banda, ou quem escreveu. A gente toca de tudo porque o fã não precisa estar dentro dessa palhaçada [polêmicas que surgiram após a saída de Max Cavalera].
Derrick Green – O que acontece, também, é que tem muita gente que parece que está presa ao passado, que ainda vive no passado, isso é muito estranho para mim, não acho que isso seja muito saudável, mas eu respeito.
O Imparcial – Vocês são uma das bandas que mais sabem lidar com haters.
Andreas Kisser – A gente ama os haters (risos). Eles ajudam pra cara#$%. Eles fazem parte da legião de fãs do Sepultura. Porque eles escutam pra falar mal. Muitos compram os discos, mesmo que seja pra jogar no lixo (risos). Mas faz parte, velho. Se a gente não tivesse hater alguma coisa estava errada.
Paulo Júnior – A maioria desses haters, provavelmente, é hater na internet mas está lá vendo o show.
O Imparcial – Vocês lembram a última vez que deram uma entrevista sem precisar falar sobre os irmãos Cavalera?
Andreas Kisser – Ah, ultimamente tem diminuído bastante. A galera tem se cansado desse assunto. É uma coisa batida, a gente não tem o que falar sobre isso né. A gente está com disco novo, trabalhando pra cara$%&. Estamos focados no que estamos fazendo hoje. Eventualmente aparece alguém perguntando sobre o Max [Cavalera], e isso faz parte. E a gente fala de qualquer assunto tranquilamente. Mas, ultimamente, principalmente com esse disco novo, tem diminuído bastante. Praticamente zero.