Sete em cada dez desempregados estão dispostos a ganhar menos do que no último emprego
A pesquisa “O desemprego e a busca por recolocação profissional no Brasil”, foi realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela ‘Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)
O Brasil ainda vive sua pior recessão dos últimos vinte anos e os impactos sentidos pela indústria, comércio e serviços resultam em uma taxa de desemprego que se aproxima dos 20%, levando em conta quem está sem trabalho e procura por emprego, quem tem empregos com poucas horas semanais ou aqueles que já desistiram da busca. A pesquisa “O desemprego e a busca por recolocação profissional no Brasil”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela ‘Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), investiga qual o perfil dos desempregados, os motivos que levaram ao desemprego, as consequências na vida familiar e as medidas adotadas para encontrar nova colocação no mercado. O estudo mostra que sete em cada dez desempregados (68%) estão dispostos a ganhar menos do que recebiam no último emprego, principalmente os homens (74%) e os que pertencem às classes C, D e E (70%).
As principais justificativas nestes casos são que o que importa atualmente é arrumar um emprego para pagar as despesas (29%) e que o importante é voltar ao mercado de trabalho (25%). Por outro lado, 32% não estão dispostos a receber menos, principalmente as mulheres (36%) e os que pertencem às classes A e B (44%), sendo a razão mais citada o fato de encararem o salário menor como regressão profissional (15%), seguido da possibilidade de ser difícil voltar ao patamar salarial que possuía antes (12%).
O levantamento revela que, considerando aqueles que participaram de ao menos uma entrevista desde que estão desempregados, 50% chegaram a recusar alguma proposta, sendo que 20% o fizeram porque a remuneração e/ou benefícios eram insuficientes, enquanto 10% alegam que o local era muito distante de casa.
A pesquisa do SPC Brasil e da CNDL mostra o seguinte perfil dos entrevistados: 58% são do sexo feminino, com média de idade equivalente a 35,7 anos; 65% têm até o ensino médio completo, 89% pertencem às classes C, D e E e 55% têm filhos, sendo que destes 75% têm filhos com idade abaixo de 18 anos.
60% não estão sendo chamados para entrevistas de emprego
Em geral, o desemprego não é novidade para a maioria dos brasileiros ouvidos na pesquisa: 74% já passaram pela experiência de perder o emprego, sobretudo nas faixas etárias de 35 a 49 anos (84%) e acima de 50 anos (79%). Em contrapartida, 26% garantem nunca ter enfrentado o desemprego, aumentando para 33% entre os mais jovens. Praticamente metade dos entrevistados estão desempregados por um período que se estende por até seis meses (47%), sendo que a média de tempo chega a 12,2.
“Números como esses repercutem gravemente em todo o quadro social, pois menos pessoas trabalhando significa retração no consumo, aumento da inadimplência, impactos negativos no padrão de vida das famílias e, em geral, ampliação da recessão e resultados piores para a economia do país”, explica o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro.
A busca por um novo lugar no mercado de trabalho é praticamente unânime (94%), sendo que 80% estão procurando emprego atualmente e 14% estão recorrendo a outras formas de renda enquanto não conseguem a recolocação. Nove em cada dez entrevistados se sentem preparados para conseguir um novo emprego (93%), e somente 3% sentem não estar preparadas. O otimismo predominante decorre, principalmente, do fato de que 59% garantem possuir boa experiência profissional, além de terem preenchido cadastros em diversos sites de emprego (28%) e porque frequentemente leem jornais e visitam sites de emprego para ver vagas disponíveis (24%).
Um em cada cinco desempregados afirma estar buscando capacitação profissional para conseguir melhores oportunidades (21%), sobretudo os mais jovens (28%). Dentre estes, as áreas mais mencionadas são as de idiomas (9%), administração de empresas (6%), técnico de informática (5%), técnico em enfermagem (5%) e estética (5%). Já 75% admitem não estar em busca de capacitação profissional.
De qualquer modo, mesmo entre os que procuram aumentar sua empregabilidade, por meios de cursos e outras formas de capacitação, o cenário não é animador, uma vez que seis em cada dez entrevistados, no geral, afirmam que não estão sendo chamados para entrevistas de emprego (60%).
87% dos demitidos alegam motivos externos, em grande parte associados à crise econômica
A maioria das pessoas ouvidas já trabalhou anteriormente (97%) e somente 2% garantem nunca ter trabalhado. Considerando o último emprego, a forma de contratação mais usual foi CLT, com carteira assinada (59%), seguida pela contratação informal sem registro na carteira (13%), a contratação temporária (9%) e a terceirização com carteira assinada (8%).
Considerando a experiência de trabalho anterior, cinco em cada dez desempregados eram do setor de serviços (48%), seguido pelo comércio (34%), indústria (12%) e setor público (5%). Em 68% dos casos, o desligamento foi feito por demissão, mas outros 16% garantem ter pedido demissão e 14% alegam que foi feito um acordo.
Dentre os que foram demitidos, praticamente nove em cada dez (87%) alegam causas externas, principalmente ligadas à crise econômica vigente, como redução de custos por parte da empresa para lidar com os efeitos da crise (43%), diminuição nas atividades da empresa, resultando em mão de obra ociosa (15%) e fechamento da empresa (10%). Somente 7% falam em motivações pessoais, como resultados abaixo do esperado no trabalho (3%) e dificuldade de relacionamento com os colegas e/ou chefe (2%).
Levando em conta apenas os que pediram demissão, a principal razão apontada é a insatisfação com as atividades realizadas na empresa (19%), seguida da insatisfação com o salário (12%) e do desejo de mudar de carreira e/ou área de atuação (9%).
Perguntados sobre o tipo de oportunidade desejada pelos desempregados, 51% preferem os postos com carteira assinada, enquanto 32% mencionam qualquer vaga, independente do formato.
59% estão confiantes em conseguir emprego nos próximos 3 meses
Ainda que o tempo médio na condição de desempregados seja equivalente a mais de um ano, seis em cada dez entrevistados estão otimistas sobre a possiblidade de encontrar emprego os próximos 90 dias (59%). Em média, os respondentes acreditam em resolver essa situação nos próximos 4 meses.
Levando em conta a expectativa para conseguir emprego nos próximos três meses, 58% se mostram confiantes, pois são bons profissionais e acreditam que tudo dará certo. Em contrapartida, 28% estão desanimados, seja porque não têm visto muitas vagas disponíveis no mercado (21%), seja porque estão fazendo entrevistas, mas não conseguem vaga (7%).
Para Pellizzaro, embora muitos brasileiros se sintam prontos para voltar ao mercado de trabalho, o fato é que não parece haver vagas disponíveis para absorver todo esse contingente. “A questão não passa apenas pela qualificação, e sim pela fragilidade atual da economia brasileira, que não oferece as condições necessárias para que sejam criados novos empregos”, afirma. “Para 2017, a expectativa é de um cenário econômico melhor do que em 2016, mas a recuperação deve se tornar mais sólida apenas no segundo semestre. Sendo assim, a expectativa é de que os dados de desemprego ainda mostrem alguma piora no primeiro semestre do ano, antes de demonstrar algum alento na segunda metade do ano”, explica o presidente.
37% dos desempregados que não moram sozinhos eram os principais responsáveis pelo sustento da casa
Além de investigar o perfil e o comportamento dos desempregados na busca por uma recolocação, a pesquisa aprofundou a análise em relação àqueles que não moram sozinhos para entender o impacto do desemprego no contexto familiar. Para isso, algumas perguntas foram focadas nos desempregados que não moram sozinhos: 35% deles garantem que há pelo menos mais uma pessoa sem trabalho na casa onde vivem. Ao mesmo tempo, 79% dos respondentes garantem conhecer alguém próximo que perdeu o emprego ou foi obrigado a fechar a empresa nos últimos três meses.
A pesquisa mostra ainda que 92% desses desempregados ouvidos contribuíam financeiramente para as despesas da casa, sendo que 37% eram os principais responsáveis (aumentando para 52% entre os homens, 56% na faixa etária acima de 50 anos e 39% entre às classes C, D e E) e 55% contribuíam, mas não eram os principais responsáveis.
Cerca 17% dos desempregados que moram com outras pessoas e que contribuíam com o sustento da casa afirmam que a perda do trabalho gerou conflitos na família, principalmente discordâncias sobre as despesas da casa (12%) e brigas por causa de dinheiro na hora de dividir as contas (8%). Já uma em cada cinco pessoas ouvidas garante que o desemprego motivou outras pessoas da casa, que antes não trabalhavam, a trabalhar ainda que fazendo bicos (21%). Em casos mais agravantes, 4% destes entrevistados afirmaram que após a perda do emprego algum integrante da família precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas.
“Os efeitos nocivos do desemprego na vida das famílias acabam forçando as pessoas a buscar fontes alternativas de renda. Em tempos de recessão e desemprego acentuado, como este que o país atravessa, as pessoas são obrigadas a se adaptar, pois mesmo cortando gastos, há muitas contas que precisam ser pagas”, relata o presidente do SPC Brasil.
Para Pellizzaro, é natural que outros integrantes da família procurem formas de obter renda, mas o problema é que as oportunidades de trabalho são escassas e o desânimo dos empresários faz com que poucos considerem oferecer novos empregos: “É preciso, urgentemente, reverter esse quadro – o que passará pela melhora da economia e retomada do crescimento, fazendo com que o empresariado volte a acreditar no país. Além disso é necessário que algumas reformas que ajudam a destravar a economia sejam aprovadas, com destaque para a reforma da previdência e a reforma trabalhista”, conclui.