Lembranças

O saudosismo histórico da Praça João Lisboa

De um dos “corações” de São Luís para um lugar sem segurança e com traços de abandono, a Praça espera mais carinho das autoridades

Situação daPraça João Lisboa. (Foto: Karlos Geromy)

O Largo do Carmo e a Praça João Lisboa são tão próximos a ponto de se confundirem e a população os conhecer com o mesmo nome. Ambos também se confundem na beleza e nas agruras, pois estão convivendo com os mesmos problemas e com os mesmos sonhos.

O Largo do Carmo, denominação que recebeu em face de ali se encontrar a secular Igreja de Nossa Senhora do Carmo, um dos templos mais antigos e tradicionais da cidade, e cravado no Centro Histórico de São Luís, tem páginas muito interessantes na história da cidade, pois ali se realizaram grandes concentrações populares que nortearam a vida da população ludovicense.

Comícios históricos se realizaram ali, local preferido para suas manifestações, exemplificando-se a histórica Oposições Coligadas, grupo político antagônico ao liderado pelo senador Vitorino Freire, um pernambucano que por muitos anos exerceu grande poder no mundo político maranhense, indo até aos meados da década de 1960, quando a oposição elegeu José Sarney governador. A Igreja Católica também se utilizou daquele espaço para suas concentrações religiosas, exemplificando-se a Festa de Nossa Senhora do Carmo, que atraía grande número de fiéis para os ofícios religiosos e para as alegres quermesses.

Políticos, jornalistas e intelectuais reuniam-se para o bate-papo de fim da tarde no extinto Moto Bar, onde realizavam-se farras homéricas sempre animadas por acaloradas discussões que não se tem conhecimento  terem evoluído para qualquer ato de violência.

Hoje o Largo do Carmo/Praça João Lisboa vive de lembranças. Seu espaço físico muito comprometido e a falta de segurança são duas preocupações para as pessoas que transitam ou trabalham ali. Mas, ninguém deixou de alimentar a esperança que aquela praça será reformada e voltará a ser um dos logradouros mais frequentados da cidade.

Imóveis para aluguel e venda

A crise imobiliária também chegou à Praça João Lisboa, muitos são os pontos comerciais fechados e com placas oferecendo-os para aluguel ou compra. Ali funcionavam o Hotel Ribamar, que era o preferido dos políticos do interior, que vinham à capital tratar de interesses de seus municípios, e casas comerciais, como a camisaria Casa Branca, uma lanchonete conhecida como Fonte Maravilhosa, que oferecia excelentes sorvetes e a única na cidade a vender refresco de Pega-pinto, uma erva que muitos acreditavam ter propriedades terapêuticas para problemas renais. As farmácias Central, São Pedro e outras disputavam a clientela durante o dia e à noite. Pessoas de qualquer canto da cidade que tivessem necessidade de comprar um medicamento iam à Praça João Lisboa, pois tinham a certeza de que ali havia uma farmácia de plantão.

O engraxate José Ribamar Veloso, conhecido como “Zequinha”, de 65 anos, trabalha ali há 47 anos e se lembra dos tempos em que os prédios eram bem cuidados pelos seus proprietários e as autoridades mantinham a segurança pública, através da presença de duplas de policiais militares, conhecidos entre populares como “Cosme e Damião”, sempre prontos a intervir, caso ocorresse alguma “falta de respeito”, tempo em que as famílias iam à praça para passear levando suas crianças ou à missa na Igreja do Carmo e depois tomar sorvetes ou lanchar os sanduíches do Moto Bar, que era dirigido por um português que atendia pelo nome de Serafim. “Hoje nem a igreja realiza missas à noite, por causa da falta de segurança”, disse Zequinha.

Hoje o prédio do Moto Bar é ocupado por moradores de rua que tomaram conta da praça, obrigando os estabelecimentos comerciais e de serviços, como ambulatórios, farmácias, barbearias e outros, a encerrarem suas atividades, por voltas da 17h, por temerem os assaltos que viraram uma constante. Zequinha lembra que o abrigo, composto por várias lanchonetes, permanecia aberto também durante a noite servindo de local de encontro dos boêmios e notívagos da cidade, que iam ali para o lanche noturno ou para a “saideira” que marcava o fim de uma noitada animada. Comenta Zequinha que os tempos mudaram e a praça também mudou, estando a exigir obras que possam fazer com que aquele logradouro volte a ser frequentado.

O taxista João Batista Correia trabalha no Posto Neon, desde 1972. Ele lembra que quando ali iniciou no trabalho, com “carro de praça”, os ônibus trafegavam pela Rua da Paz e passavam pela Praça João Lisboa em direção ao Mercado Central e dali para os bairros de origem, e responsabiliza pela atual  falta de movimento na praça, a retirada destes ônibus de circular por ali. Ele avalia que a Praça João Lisboa era considerada o “coração da cidade”, com grande movimentação tanto durante o dia, quanto à noite, com o abrigo sendo o principal ponto de táxis e lanches de estudantes e trabalhadores durante o dia, e à noite dos boêmios que, após uma noitada na Zona do Baixo Meretrício, merendavam nas lanchonetes do abrigo e depois se recolhiam às suas casas indo de táxi, já que durante a madrugada não havia transporte público.

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