O Papa Francisco fez declarações, no mínimo, polêmicas, nesta quinta-feira (19) aos membros de uma delegação ecumênica da Finlândia que estão no Vaticano para participarem da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O Papa Francisco disse que “a intenção de Martinho Lutero há quinhentos anos era renovar a Igreja, não dividi-la” e que os 500 anos da reforma protestante é “para católicos e luteranos uma ocasião privilegiada para viver a fé com mais autenticidade, para redescobrir juntos o Evangelho, para procurar e testemunhar Cristo com renovado vigor “, de acordo com a Rádio Vaticana, órgão oficial do Vaticano.

A semana anual de Oração pela Unidade dos Cristãos ocorre entre os dias 18 a 25 de Janeiro, centrando-se num tema escolhido por ocasião dos 500 anos da reforma: “A reconciliação – o amor de Cristo nos obriga”.

Curiosamente, o Papa pediu a intercessão de Santo Henrique, padroeiro da Finlândia, para o fortalecimento das relações entre católicos, ortodoxos e luteranos, porém o Santo em questão não é reconhecido por ortodoxos e nem luteranos.

Outro detalhe interessante é o fato de 2017 ser o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, um dos acontecimentos mais marcantes da história da Igreja Católica e que parece ter ficado em segundo plano diante dos 500 anos da reforma promovida por Martinho Lutero, que foi excomungado em 1521 pelo Papa Leão X.

Veja abaixo o texto integral do discurso do Papa Francisco aos membros da Delegação Ecumênica da Finlândia:

“Queridos irmãos e irmãs,

Saúdo com alegria todos vós, membros da Delegação Ecuménica, que vieram como peregrinos da Finlândia a Roma, por ocasião da festa de São Henrique. Agradeço ao Bispo Luterano de Turku por suas amáveis ​​palavras. Durante mais de trinta anos, tem sido um bom costume para a sua peregrinação acontecer durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que nos chama a aproximar uns dos outros novamente através da conversão. O verdadeiro ecumenismo baseia-se numa conversão partilhada a Jesus Cristo como nosso Senhor e Redentor. Se nos aproximamos dele, nos aproximamos também um do outro. Durante estes dias, rezemos mais fervorosamente ao Espírito Santo para que possamos experimentar esta conversão que torna possível a reconciliação.

Neste caminho, nós, católicos e luteranos, de vários países, juntamente com várias comunidades que participam da nossa jornada ecumênica, alcançamos um passo significativo quando, no dia 31 de outubro passado, nos reunimos em Lund, na Suécia, para comemorar, através da oração comum, a reforma. Esta comemoração conjunta da reforma foi importante tanto nos níveis humanos e teológico-espiritual. Depois de cinquenta anos de diálogo ecumênico oficial entre católicos e luteranos, conseguimos articular claramente pontos de vista sobre os quais hoje estamos de acordo. Por isso estamos gratos. Ao mesmo tempo, mantemos vivos em nossos corações sincera contrição por nossas falhas. Nesse espírito, lembramos em Lund que a intenção de Martinho Lutero há quinhentos anos era renovar a Igreja, não dividi-la. A reunião ali nos deu a coragem e a força, em nosso Senhor Jesus Cristo, de olhar adiante para a jornada ecumênica que somos chamados a caminhar juntos.

Na preparação da comemoração comum da Reforma, os católicos e os luteranos observaram com maior consciência que o diálogo teológico continua a ser essencial para a reconciliação e que é avançado através de um compromisso firme. Assim, nessa comunhão de harmonia que permite ao Espírito Santo agir, poderemos encontrar uma maior convergência sobre os pontos de doutrina e o ensinamento moral da Igreja e poderemos aproximar-nos cada vez mais da unidade plena e visível. Peço ao Senhor que ele conceda sua bênção à Comissão de Diálogo Luterano-Católico na Finlândia, que está trabalhando diligentemente para uma compreensão sacramental comum da Igreja, da Eucaristia e do ministério eclesial.

Portanto, 2017, ano comemorativo da reforma, representa para os católicos e os luteranos uma ocasião privilegiada para viver a fé de forma mais autêntica, para redescobrir juntos o Evangelho e buscar e testemunhar Cristo com renovado vigor. Na conclusão do dia de comemoração em Lund, e olhando para o futuro, inspiramos-nos no nosso testemunho comum de fé perante o mundo, quando nos comprometemos a ajudar em conjunto os que sofrem, os que estão em necessidade e que enfrentam a perseguição E violência. Ao fazê-lo, como cristãos, não estamos mais divididos, mas sim unidos na jornada rumo à plena comunhão.

Tenho o prazer de lembrar também que este ano os cristãos da Finlândia celebram o centenário do Conselho Ecumênico finlandês, que é um instrumento importante para promover a comunhão de fé e vida entre vocês.

Finalmente, em 2017 sua pátria, a Finlândia, comemorará cem anos como um Estado independente. Que este aniversário anime todos os cristãos de seu país a professar fé no Senhor Jesus Cristo – como fez Santo Henrique com tanto zelo – oferecendo um testemunho de fé ao mundo de hoje e colocando essa fé em prática através de atos concretos de serviço, fraternidade e partilha.