Busca por transplante

A luta do pequeno Ravi continua

Bebê maranhense encontrou um doador de medula óssea 100% compatível e agora busca realizar o transplante o mais rápido possível

Reprodução

Dois dias após o Natal, o bebê maranhense Marcelo Ravi Pontes, que emocionou o país com sua luta por um transplante de medula óssea, recebeu a boa nova de que havia finalmente encontrado um doador compatível, seria o fim da espera e início de uma nova vida.

Mas não foi o que aconteceu. Segundo a mãe do pequeno, Lucemir Pontes, o plano de saúde Unihosp, do qual a família é cliente, tem dificultado o atendimento, insistindo para que Ravi seja encaminhado para a fila de espera do Sistema Único de Saúde, do Hospital das Clínicas da Universidade do Paraná.

“Eu sei que este hospital é referência, mas o Ravi não tem este tempo para esperar. Ele tem de receber o transplante logo. O plano diz que eu estou dificultando, eles me mandaram a ficha de encaminhamento para eu preencher. Assim que eu fizer isso, eles vão descansar e o Ravi vai esperar, mas ele não pode”, contou Lucemir.

Ravi é portador da Síndrome da Imunodeficiência Combinada Grave e, em um relatório assinado pelo médico Ronney Corrêa Mendes, especialista em alergia e imunopatologia, a doença de Ravi é contextualizada como “rara e requer cuidados especializados no tratamento”, e ele explica que “quase todas as crianças com esta rara doença no Brasil são transplantadas aos cuidados da equipe médica da Dra. Carmem Bonfim, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba-PR, ou da Dra. Adriana Saber, do Hospital Samaritano, em São Paulo”.

No mesmo relatório, ele afirma que as duas médicas citadas, de dois hospitais diferentes, têm conhecimento do caso do Ravi e estão “receptivas e interessadas no caso”. Já a Unihosp alega não ter encontrado nenhum outro hospital que possa atender ao bebê de quatro meses, além do Hospital das Clínicas da Universidade do Paraná.

Medidas

Em um comunicado, a empresa afirma que “tem enviado esforços para resolver a situação do menor Marcelo Ravi Pontes Ribeiro, com a marcação de cirurgia de transplante de medula óssea”.

No mesmo documento, fornecido pela senhora Lucemir à reportagem de O Imparcial, o plano de saúde diz que “conforme orientação da médica Beatriz Tavares Costa Carvalho, a Operadora entrou em contato com a equipe da Dra. Carmem Maria Sales Bonfim, do Hospital das Clínicas do Paraná, hospital de maior referência para este tipo de procedimento, restando tão somente a sua confirmação para que façamos o transporte do paciente”.

Lucemir relata que o tratamento dispendido pelo plano para a criança tem sido problemático desde o início. “A negligência com o Ravi começou no dia que fui colocar ele no plano. Me foi negada a carência que ele tinha direito, já que ele nasceu já no plano. Tive que pedir uma liminar para incluir ele”.

Ainda no seu relatório, o médico Ronney Mendes enfatiza a necessidade de urgência em encaminhar Marcelo Ravi ao Hospital Nossa Senhora das Graças ou Hospital Samaritano em São Paulo. “Logo, o plano de saúde deve entrar em contato o mais rápido possível com um destes dois hospitais e encaminhar o paciente em UTI móvel, repito ‘urgentemente’ (gripo do médico)”.

Família

“Eles estão sendo desumanos. Falei para eles que, como empresários, estão no ramo errado, porque o ramo da saúde não é para eles”, comentou a mãe. A família relata ainda que o plano de saúde informou estar procurando outros hospitais, mas que todos só atenderiam crianças de mais de sete meses. “Mas isso é mentira, o Einsten é o pioneiro no Brasil em transplantar bebês. O plano não quer ter gastos”.

Em comunicado encaminhado ao médico Roney Mendes, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e o Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná informam conhecer o caso e ter tido acesso aos relatórios médicos, e que “o menor Marcelo Ravi Pontes Ribeiro tem indicação imediata de realizar um transplante de células tronco hematopoiéticas”, e que entendem a urgência, “mas infelizmente, por sermos referência em doenças raras, a fila para realizar um TMO no serviço do Hospital de Clínicas de Curitiba é grande”.

No mesmo documento, assinado pelo médico hematologista pediátrico Lisandro Lima Ribeiro, é especificado que a previsão de vaga para a criança “seria para meados de maio de 2017”. “Não existe vaga reservada para seu paciente no Hospital de Clínicas. Ele nunca consultou nesta instituição. Respeitamos uma fila única pelo SUS de casos graves como o do Marcelo”, diz a correspondência, também cedida pela mãe da criança.

A mãe do bebê disse ainda que o plano tem repetido que ela é quem deseja ir para o Hospital Albert Einstein, mas que isso é uma “inverdade”. “O que eu quero é que meu filho tenha um tratamento imediato. É isso que quero”.

Em 2014, Lucemir perdeu outro filho, ainda bebê, portador da mesma doença, Davi Pontes. Segundo ela, a indenização que lhe é devida pelo mesmo plano nunca foi paga, já que a empresa alega não ter dinheiro suficiente para pagar o montante. “Não quero perder outro filho. Se algo acontecer com Ravi, a responsabilidade será deles”, disse emocionada.

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