Leitura em braille completa 192 anos
Sistema de leitura e escrita mudou a vida de pessoas cegas em todo o mundo. Em São Luís, a Biblioteca Pública dispõe de estrutura física, material e humana para garantir a acessibilidade
Esta semana foi comemorado o Dia Mundial do Braille (4), importante sistema de leitura e escrita para pessoas cegas, que este ano completa 192 anos. O método foi criado por Louis Braille, nascido em 4 de janeiro de 1809 e que ficou cego durante a infância. Em 1825, aos 16 anos, apresentou a primeira versão de um sistema de escrita e leitura que mudou a vida das pessoas cegas em todo o mundo.
No Brasil, segundo dados do censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste mês, existem no Brasil 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, possíveis leitores e admiradores de diferentes gêneros da literatura. Destes, 530 mil são cegos e 6 milhões têm baixa visão ou visão subnormal.
Depois de ter ficado completamente cego, Antenor entrou pra escola aos 8 anos. Aos 10, já lia tudo. “Aprender braille é aprender e enxergar como qualquer pessoa. Porque o ensino fica na nossa mente. Naquela época, precisava esperar livro que viesse de São Paulo. Hoje a gente já consegue até imprimir aqui na biblioteca. De 30 anos pra cá, a coisa mudou muito”, lembra Antenor.
Pelo menos uma vez por semana Antenor vai para a Biblioteca Pública Benedito Leite. Lá a primeira coisa que faz é consultar os livros novos, devolver o que pegou emprestado e pegar outro. Depois vai conferir as novidades no setor e consultar a internet. “Se não soubesse braille, não teria como acessar a internet. Então, é algo como a pessoa que enxerga, o cego tem que saber”, diz. Ele aprendeu a utilizar a internet na Escola de Cegos e, desde então, procura estar informado sobre as coisas do mundo, e, claro, as formas de acessibilidade.
“Sou questionador mesmo. Por exemplo, eu venho do Anjo da Guarda pra cá toda semana sozinho, e as ruas não dão condição da gente trafegar com tanto desnível entre as calçadas”, reclama.
Pela acessibilidade
A Sala de Braille da Biblioteca Pública em breve será transformada em Sala de Acessibilidade, oportunizando que todos que tenham alguma deficiência tenham acesso à leitura, ensino, aprendizagem, tecnologias.
Segundo a diretora da Casa, Aline Nascimento, a ideia é democratizar o acesso para que todos tenham contatos com instrumentos, materiais e equipamentos de diversos formatos, buscando a universalidade. “Uma democratização ao acesso que não é só com equipamentos, a parte física. A parte humana também. Por isso, no ano passado 22 técnicos participaram de 8 ações formativas e com essas formações nós conseguimos ampliar o número de vagas para pessoas de outros espaços também. É o que chamamos de acessibilidade atitudinal”, diz a diretora.
Através do Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, desenvolvido pelo Ministério da Cultura/Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e executado pela OSCIP “MAIS Diferenças”, a Benedito Leite, uma das 10 contempladas com o Projeto no Brasil, transformou-se em referência em acessibilidade arquitetônica, atitudinal e bibliográfica.
Essa conquista foi possível pelo somatório de ações, infraestrutura, disponibilidade da equipe e apoio governamental, que tem a informação e a leitura, como uma política pública de Estado.
Como Biblioteca referência, a Benedito Leite desenvolveu e desenvolve um conjunto de ações inclusivas, que vão muito além de permitir, fisicamente, o acesso de pessoas com deficiências aos seus espaços. O olhar é universal, o serviço e acervo são para todos.
Em média 30 pessoas se beneficiam da Sala Braille por mês, sem contar as visitas agendadas. Lá eles tem acesso a gravação de livros falados com a utilização do scanner de voz para os usuários. Crianças, jovens e adultos, com ou sem deficiência, temo contato com equipamentos de Tecnologia Assistiva; Atividades inclusivas – livros, jogos e brinquedos acessíveis; Acervo onde os usuários possuem livre acesso, com os livros dispostos abaixo de 1,20m; Piso tátil também até a entrada do Setor Braille, localizado no primeiro piso do prédio anexo; Exibição periódica de sessões de cinema com recursos de acessibilidade; Impressão em Braille para os usuários com deficiência visual; Retirada dos livros em formatos acessíveis (tinta e Braille) do Setor Braille e colocação nos acervos de acesso livre, tendo sempre o olhar inclusivo, sem setorizar; Disponibilização de três computadores e dois notebooks com sintetizadores de voz para usuários com deficiência realizarem suas pesquisas e acessarem a internet.
“A gente disponibiliza o computador e a impressora para eles fazerem suas consultas, por exemplo, esse e uma série de outros recursos de acessibilidade. Também temos jogos educativos que servem para todos jogarem. A ideia é sempre fazer atividades inclusivas. Em algumas brincadeiras, as pessoas se colocam no lugar de quem tem a deficiência para entender como é o outro”, exemplifica Aline.
Alguns itens do acervo da biblioteca
1.047 livros em Braille e ampliados títulos e 2.820 exemplares;
2042 títulos com recursos de acessibilidade
875 áudio livros
42 filmes com recursos de acessibilidade
29 livros em LIBRAS
25 em formatos acessíveis
03 Computadores adaptados com Sintetizador de Voz
01 impressora Braille
01 scanner de voz
01 linha Braille
01 dominó Braille
01 alfabeto Braille
Sobre o braille
Baseado na combinação de seis pontos dispostos em duas colunas e três linhas, o Sistema Braille permite a formação de 63 caracteres diferentes, que representam as letras do alfabeto, os números, a simbologia científica, musicográfica, fonética e informática. Esse sistema adapta-se perfeitamente à leitura tátil, pois os seis pontos em relevo podem ser percebidos pela parte mais sensível do dedo com apenas um toque. A leitura do braille é feita da esquerda para a direita, com uma ou ambas as mãos. Algumas pessoas ganharam tanta prática em ler braille que conseguem ler até 200 palavras por minuto.