OPINIÃO

Leia ‘Trump e o Brasil’ do advogado Sacha Calmon

A Otan ambicionava as bases russas lá existentes e acesso direto ao Mar Negro, onde parte da Rússia existe há mais de 800 anos

Ainda é cedo para avaliar as políticas econômicas e de relações internacionais de Trump. Sabe-se que ele e Putin se admiram e que Trump acha artificial o clima de beligerância dos democratas, especialmente de Obama e Hillary, contra a Rússia, superpotência atômica e potência militar apenas inferior aos EUA, mas com PIB de apenas U$ 4 trilhões, pelo critério do poder de compra da moeda, porém sem desigualdades acentuadas (tirante seus muitos milionários), com saúde e educação para todos, sem favelas ou cortiços.
Segundo o Financial Times, França e Rússia, nessa ordem, são países de acentuada igualdade. Hoje, talvez existam mais desigualdades relativas nos EUA que na Rússia. Trump — um supremacista branco, sem dúvida — vê os russos como raça branca por excelência, os menos penetrados por migrantes do sul, mormente negros, semitas e muçulmanos, o que é de estrita verdade e do seu agrado.
Parece ter certeza de que a Rússia não representa ameaça a países europeus. Uma, porque é a maior produtora europeia de petróleo e gás, quer vendê-los para o Ocidente que lhe está às portas! Duas, porque aspira atrair investimentos da Europa Ocidental e, agora, dos EUA. Contando com a Bielo-Rússia (ou Rússia branca), são 162 milhões de consumidores, sem falar no potencial da região do Mar Negro e no imenso Cazaquistão, aliado seguro, onde está o centro de astrofísica e navegação espacial russa de Baikonur.
A Rússia é senhora, junto com o Cazaquistão, o Irã e, em parte, a China e a Mongólia, da imensa região setentrional, tida por Eurásia, rica em tudo (e por desenvolver). O que vale para a Rússia uma Estônia (PIB ridículo) ou mesmo uma Ucrânia destroçada e hostil? Em terras e riquezas naturais, ela é farta, não necessitando de terras de países europeus.
A Otan ambicionava as bases russas lá existentes e acesso direto ao Mar Negro, onde parte da Rússia existe há mais de 800 anos. Mutatis mutandi, a jogada geopolítica equivaleria aos mísseis russos em Cuba apontados para os EUA.
A retomada da Crimeia era inevitável. A União Europeia não quis integrar a Ucrânia na União. Estava combinado, mas não aconteceu. Sem a Crimeia, a Ucrânia não é solução, é problema. A leitura que Trump faz da Rússia, hoje capitalista, ultrapassa de longe a hostilidade dos EUA e a retórica belicista, cara e ultrapassada, dos democratas (leia-se Hillary). Trump tem visão estratégica e negocial.
Para começar, quer superar a realpolitik da Alemanha em direção ao leste e investir na Rússia e, junto com ela, arrasarem rapidamente — e o farão — o Estado Islâmico. Tampouco tem obsessão em tirar Assad do poder. Está certo quando diz que os EUA estão contra Assad, mas sequer sabe quem são seus supostos rebeldes aliados (só os dementes não sabem). Como lutar ao lado de “desconhecidos” em busca de objetivos obscuros, porém encharcados do sunismo muçulmano? O Oriente Médio agora que interesse tem para os EUA, autossuficientes em petróleo? Resta apenas a questão Israel-Palestina. Para os árabes será péssima uma posição americana pró-Israel pelos 20 milhões de votantes judeus e descendentes nos EUA.
O poder econômico, comercial, financeiro e militar em rápido crescimento é a China — e sua área de influência no sudeste asiático — a ponto de inquietar os EUA, jamais a Rússia (por duas vezes a Rússia derrotou as tiranias na Europa, a de Napoleão e a de Hitler). E já não é socialista, mas capitalista. A tática democrata de perpetuar a Guerra Fria é de uma superficialidade sem tamanho. Contra o “tirano” Putin, o povo russo dá-lhe de 60% a 70% de apoio (e vota no seu partido), porcentual jamais atingido por chefes de governo do mundo livre.
Os republicanos sempre entenderam a expressão livre comércio na sua verdadeira acepção, ou seja, sem acordos e direitos de preferência, que não estimula a livre concorrência, a engessa. Por esse lado Trump não merece críticas. Parece combater o protecionismo alheio e ameaça retaliar. Quem vai se dar mal são os sul-americanos, exceto o Brasil, por quatro motivos: tem poucos migrantes, não trafica, compra o dobro do que vende aos EUA e tem grande percentual de empresas em solo americano, ou seja, emprega os nativos de lá.
Isso não pode passar despercebido à nossa diplomacia. Ao cabo, três parceiros são preciosos em nosso comércio exterior: EUA, China e Argentina. Os três precisam do Brasil. É de esperar que o pragmatismo do chanceler José Serra o leve a lidar com o norte-americano com firmeza e sabedoria, de modo a estreitar a histórica parceria entre as duas maiores economias das Américas (16 e 2,8 trilhões, respectivamente). De lá compramos e para lá vendemos. E eles são os maiores investidores em empresas no Brasil. Não há atritos, mas protecionismos antigos dos EUA, sem razão! Veja-se a siderurgia.

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