OPINIÃO

Leia ‘Orgulho II’, artigo do neuropsiquiatra Ruy Palhano

É uma sensação inusitada, prazerosa, agradável e está em consonância com um acontecimento importante para a vida de quem o sente.

Prosseguindo com a série: Traços humanos em seu Viver Cotidiano, reexamino o tema, orgulho.
Esse é, certamente, um dos mais importantes e pertinentes sentimentos humanos, refere-se, essencialmente, a exortação de si mesmo, onde o próprio sujeitos realiza um auto exortação, enaltece-se a si mesmo. Todos nós já o experimentamos alguma vez na vida. É uma sensação inusitada, prazerosa, agradável e está em consonância com um acontecimento importante para a vida de quem o sente.
Orgulhar-se, entre as vivências, humanas é uma das mais comum pois, até mesmo situações bem simples na vida, pode levar alguém a experimentá-lo. A sua significância será dada a partir da experiência específica que o provoca e é ela que definirá seu significado psicológico, social ou mesmo psicopatológico. Portanto, orgulhar-se é próprio dos seres humanos e de conformidade com cada um, tem a haver naturalmente com sua vaidade, seu amor próprio e com sua autoestima. Por si tratar de uma experiência subjetiva seu significado e intensidade dependerá de pessoa para pessoa.
A expressão, orgulho, é deveras coloquial e, como outros sentimentos, pode ter seu significado certa ambiguidade. Em uma perspectiva, positiva, o orgulho refere-se a honradez, ufania, amor próprio, realça o esforço, a dignidade, a dedicação e outras qualidades em quem o experimenta. Destaca também, brio, altivez e o valor de si mesmo. Destaca as conquistas e o bem de cada. “Fulano sente-se orgulhoso dos filhos”, “sinto orgulho do trabalho que faço. Meus pais me dão orgulho“! etc… Essa forma de expressar orgulho é digna, reconhecida, conveniente e aceita por todos.
Se aplicado em uma perspectiva negativa, orgulho refere-se a um sentimento exagerado de vaidade, de amor próprio, hipervalorização de si mesmo, de presunção, de empáfia, de imodéstia e de insolência. Havendo nesses casos, uma espécie exagero, culto ao orgulho, de disfuncionalidade ou distorção em seu significado. A evocação desse tipo de orgulho, nessas condições, pode, contrariamente ao que ocorreu no primeiro exemplo, significar despudor, desconsideração, desagrada aos outros e provoca repúdio.
Etimologicamente, se origina do catalão, orgull, relativo a alguém que tem um conceito exagerado de si próprio, auto exortação. Uma pessoa dita orgulhosa, é a que cultiva o orgulho, e se caracteriza como tal, é considerada socialmente como uma figura soberba, vaidosa, arrogante, desprezível pois em última instância, demonstra desprezo pelos outros ao mesmo tempo em que se vangloria.
O orgulhoso, basta-se a si mesmo e o outro é sempre desconsiderado. Não são humildes, por isso mesmo fogem dos preceitos da igreja católica, onde a humildade, compaixão e indulgências são exortados como virtudes. O orgulhoso é vaidoso e ostenta poder e vaidade. A Igreja Católica nessa perspectiva condena essa condição, o colocando entre os Sete Pecados Capitais.
Há ainda outros significados para orgulho. Quando alguém experimenta algum fracasso ou é humilhado, injustamente, comumente diz-se que essa pessoa está com o orgulho ferido, para demonstrar a amargura, a angustia e a tristeza que sentira quando seu apreço pessoal foi desconsiderado.
Semelhantemente, ao que ocorre com outros sentimentos, esse também comportar recortes. Em Psiquiatria, o orgulhoso exagerado e ostensivo, pode ser um sintoma psicopatológico importante de um Transtorno de Personalidade do tipo Narcisista, onde o egocentrismo, a arrogância, a vaidade, são marcas indeléveis nessas pessoas e o orgulho é parte integrante desse arcabouço psicopatológico nessa personalidade. Há, por assim dizer, um culto exagerado de si mesmo e um autovalor desmedido.
O Transtorno de Personalidade Narcísico, se insere em Psiquiatria como um capítulo importante entre as doenças mentais, pois esse grupo de transtorno se notabiliza pela ostentação, vaidade, autoelogio e autopromoção e adota uma espécie de adoração por si mesmo. Essa paixão por si próprio, ofusca seu coração e sua razão ao ponto de não os deixarem perceber as incongruências e inadequações de suas atitudes. A partir desses traços psicopatológicos, os narcisistas se mantém incólume às críticas, ao longo da vida, desde a adolescência à vida adulta, sem arredar um centímetro desse amor e zelo descomunal por si mesmo.
Se fala muito de narcisistas, até de forma jocosa insinuando gozação e despudor. Mas, no fundo a sociedade repudia tais atitudes especialmente pelo desprezo que essas pessoas têm pelos outros seres humanos. São personalidades egoísticas, possessivas e infantis. São agressivos, sobretudo quando se vem contrariados em seus intentos que é, o que querem sempre: ser reconhecidos, aplaudidos, homenageados e bajulados, por se julgarem possuidores de dotes especiais e relevantes. Os outros devem sempre lhes render homenagem e referências, pois eles detêm a supremacia em tudo que são, ou no que fazem.
Eis os narcisos, sendo revelados por um orgulho doentio com as atitudes e maneirismos que os identificam. Se sentem os mais belos, mais inteligentes, mais capazes que todos. Os outros estão a seus pés.
Os orgulhosos, são pessoas excêntricas, infantis, superficiais e infelizes incapazes de conquistarem os outros e de se aperceberem o quão ridículo são em suas atitudes e, apesar disso, querem aplausos, aprovações e reconhecimento. São vorazes e dominadores, pois caso as coisas não ocorram como pretendem, reagem de forma intrépida, arrogante e agressiva, realçando seus méritos pela exaltação de seu ego. Eis o orgulhoso, diante da vida de um aprisionado em si mesmo, incapaz de sair de si próprio e ir para o encontro do outro. Incapaz de desfrutar da simplicidade e da humildade. Vivem na arrogância e lá faz brotar a grandeza da imodéstia e da simplicidade.

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias