Leia ‘É desprezo demais’ do jornalista Sebastião Jorge
Caminho com passos lentos, não para fixar-me no que já não existe, fruto de um passado economicamente resolvido e elegante.
Saio em busca de assunto para minha crônica neste espaço de papel, aos domingos, seguindo as pegadas dos mestres Paulo Barreto, o “João do Rio” e por que não (?), o inimitável “príncipe dos cronistas” brasileiro, Rubem Braga, e o francês Baudelaire, os quais gostavam de flanar com o mesmo objetivo.
Vou com outras intenções, aumentar o meu querer por esta cidade que tanto gosto, ao admirar o que ainda resta de patrimônio histórico. Volto por mais uma vez e percorro a Rua Rio Branca. Caminho com passos lentos, não para fixar-me no que já não existe, fruto de um passado economicamente resolvido e elegante. Incorporo decepções sobre épocas idas, hoje, ultrajadas pelo trato que merece das autoridades (in) competentes.
Poucos, raríssimos e belos casarões ainda insistem em desafiar o tempo e se mantêm com traços característicos pelo refinamento e alvo de elogios, dos nossos habitantes e gente de fora, principalmente visitantes estrangeiros. Aquela rua vive uma situação dramática, pelo estado atual. Janelas e portas de tijolos para evitar o esconderijo da bandidagem que consome pó, seringa contaminada e fumaça para ficar com a cabeça em ponto de bala e pronta para assaltos e outros crimes. Paredes perderam a cor. Há fendas no reboco, telhas quebradas, algumas o vento levou, os números das placas desapareceram. É abandono demais para quem viveu dias de glória e concentrou status em morar naquele pedaço de chão valorizado pelo local e a vizinhança ilustre. Os passeios de bonde!
Nestes últimos dias o inverno mostra e alerta, o que permanecerá ou restará de pé. Perversamente as águas infiltram se nas rachaduras. Quem tiver curiosidade em olhar o que representou essa rua à cidade, que aproveite para visitá-la, antes que seja tarde. A Praça Gonçalves Dias, conhecida como “dos amores” serviria mais a um cercado para criação de carneiros, bodes, galinha, pelo terreno propício para pastagem e encher o papo ou matar a fome.
Depois, ao que me consta, amar naquele logradouro público não vale a pena. Não inspira, pela insegurança, ameaças
e ocorrências policiais registradas. Logo, ali, que um dia, encheu de satisfação quem a conheceu nos bons tempos. E
igualmente, por realizar-se a festa de Nossa Senhora do Remedinho, a qual reunia o que havia de mais chique na Ilha, ao se transformar em passarela às senhorinhas que desejavam servir de vitrine aos cavalheiros ricos ou abençoados como Gonçalves Dias, fumando charuto, para impressionar, segundo os jornais. A festa mereceu uma reportagem extensa e bem trabalhada por João Lisboa, descendo a detalhes, como não se vê atualmente, nos jornais, daqui e de fora.
Timon que foi um dos maiores e respeitáveis jornalistas maranhenses deixou uma obra exemplar, não apenas ao
escrever sobre o largo em homenagem àquela santa, mas, fez o mesmo a respeito dos cemitérios, em particular do Gavião. Descreveu-o com crítica mordaz à administração, pelo péssimo estado em que se encontrava, com animais de pequeno porte aproveitando a grama e o mato alto. Quem desejar melhores detalhes que vá à única livraria com obras sobre São Luís, instalada no prédio pertencente à Academia Maranhense de Letras.
Na Rua Rio Branco localizava-se o conceituado Colégio São Luis, do professor Luiz Rêgo, um nome respeitado por muitas gerações e de quem ainda se ouve falar. Era um autêntico agitador cultural. Pertencia a várias instituições dessa natureza, como à AML. Muitas pessoas importantes que dirigiram o Estado de algum modo, passaram pelo seu estabelecimento de ensino.
Só espero que não transformem bonitos casarões em garagem, como fazem no coração de São Luís. Hoje, por culpa
de meia dúzia de incompetentes, só restam lembranças e nada mais.