Leia ‘Baixada Maranhense: Paradoxo de riqueza e pobreza’, artigo do professor José Lemos
‘O PIB per capita em 2014 daqueles 24 municípios da Baixada Maranhense era de miseráveis R$3.459,05.’
Em 2014 o Conselho Regional de Economia do Maranhão (CORECON-MA) publicou um livro que foi organizado pelo Professor Jose Lucio Alves Silveira da UFMA, sob título: “Ensaios sobre a Economia Maranhense”.
Um livro composto de seis (6) capítulos, escritos por Pesquisadores e/ou Professores distintos. Eu fui convidado para escrever o sexto capitulo com titulo: “Maranhão: Estado (ainda) Rico em Recursos Naturais com População Empobrecida”.
No meu texto naquele livro eu começo escrevendo: “Com o potencial, e com a vocação agrícola que possui, o Maranhão poderia se constituir em um dos estados brasileiros maiores produtores de alimentos e matérias orgânicas de origem animal e vegetal. O setor rural maranhense poderia ser um dos mais promissores e produtivos do Brasil de um ponto de vista efetivo, haja vista que sempre o foi e continua nesta condição de forma potencial”.
Trata-se de um estado sobejamente bafejado pela natureza no que concerne à disponibilidade de recursos naturais. Ao menos seis bacias hidrográficas perenes. Pluviometria em bom nível em praticamente todo o seu território. Uma enorme costa marítima riquíssima em frutos do mar. Extensão de manguezais incrivelmente elevada, contínua e rica. Paisagens esfuziantemente belas, como as patrocinadas pelas revoadas dos guarás e de outras aves no seu ritual de acasalamento e/ou busca de alimentos.
Uma microrregião do estado que cabe como uma luva nesse conjunto de assertivas é o que chamamos de Baixada Maranhense. Neste texto estou considerando assim 24 municípios que estão situados nas regiões de planejamento do estado chamadas de: Baixada, contendo seis (6) municípios; Litoral Ocidental que contem nove (9) municípios; e Pericumã contemplada com nove (9) municípios. É nessa microrregião de planejamento de Pericumã que está o município de Bequimão, onde eu tenho, com muita honra, o meu umbigo enterrado no povoado de Paricatiua.Esse complexo de 24 municípios juntamente com a região do Munim se constituem as duas microrregiões mais pobres do Maranhão. São pobrezas distintas. Na Baixada temos excesso de água doce e salgada. Uma vegetação exuberante. Rica em recursos naturais de terra, de mar e de rios. Na Munim já há problemas de pluviometria. Ali tem municípios com características de semiárido.
Em outra ocasião discorrerei sobre a parte leste do Maranhão, onde fica o Munim. Neste texto eu quero centrar as atenções para o que acontece na porção oeste do estado, justamente nessa grande área que estou me permitindo chamar de “Baixada”.
No meu livro, na terceira Edição de 2012, os leitores poderão encontrar os indicadores de privações de ativos como água encanada, saneamento, coleta sistemática de lixo e educação para todos os municípios brasileiros, inclusive para os da Baixada Maranhense. Os dados que estão ali se referem ao ano de 2010 porque foram coletados de forma bruta do Censo Demográfico daquele ano.
Neste texto vou me concentrar mais nos dados da ultima divulgação do PIB dos municípios feita pelo IBGE e que se refere ao ano de 2014. Segundo aquela publicação o Maranhão detinha o segundo pior PIB per capita anual dentre todos os estados brasileiros (R$7.048,99) o equivalente a apenas 1,2 salários mínimos daquele ano, caminhando celeremente para ter o pior, o que provavelmente aconteceu em 2015, o que confirmaremos quando sairem as informações para aquele ano, no final de 2017.
O PIB per capita em 2014 daqueles 24 municípios da Baixada Maranhense era de miseráveis R$3.459,05. Este valor equivale a apenas 40% do salário mínimo daquele ano, e a 49% da média anual maranhense. Um desastre!
Os valores dos PIB per capita desses municípios variam de R$ 2.256,42 (26% do salario mínimo) em São João Batista a R$5.723,39 (66% do salário mínimo) em Pinheiro. Lembrando que estes são valores anuais. Um dado adicional que coloca mais estragos nas informações já difíceis associadas à formação e apropriação da riqueza gerada naqueles municípios da Baixada. Em apenas três (3) deles, o PIB per capita supera aquela media desastrosa: Pinheiro (R$5.723,39 por ano), Turiaçu (R$ 4.445,58 por ano), Presidente Sarney (R$4.032,47).
No meu Bequimão o PIB per capita em 2014 era de miseráveis R$2.765,49 o que representava apenas 32% do salário mínimo daquele ano, e a apenas 39% da média maranhense, a segunda menor do Brasil. Os números falam por si.
Eu, e os meus conterrâneos do “Fórum da Baixada” temos um grande desafio pela frente. Nessa região pode se produzir juçara (açaí), cupuaçu, cacau. Pode-se criar patos e vender no Pará. Pode-se criar abelhas sem ferrão como a “tiuba”, face a diversidade de “pastos”. Pode-se ter uma agricultura com tecnologia mais avançada. Pode-se plantar e fazer reflorestamento com Paricá, por exemplo. Na minha terra tem o nome em homenagem a essa árvore e lá não encontramos um único exemplar. O nosso desafio é grande, mas temos em nosso favor uma natureza exuberante e uma gente louquinha para encontrar o seu caminho e fazer história. Os Maranhenses “Baixadeiros”. O desafio fica lançado!