OPINIÃO

Leia ‘1917, um centenário supimpa’ do advogado Pedro Leonel

Dias depois de 5 de junho de 2015 reclamei, desta coluna, sobre o cabuloso silêncio que se abatera a propósito dos 800 anos do aniversário da Magna Carta. Quase ninguém comemorou, ou pelo menos se lembrou, que nessa data, em 2015, os barões da Inglaterra impuseram ao rei João, dito Sem Terra, aquele documento que […]

Dias depois de 5 de junho de 2015 reclamei, desta coluna, sobre o cabuloso silêncio que se abatera a propósito dos 800 anos do aniversário da Magna Carta. Quase ninguém comemorou, ou pelo menos se lembrou, que nessa data, em 2015, os barões da Inglaterra impuseram ao rei João, dito Sem Terra, aquele documento que viria a se tornar a certidão de nascimento do direito público do Ocidente e não apenas das Ilhas. A Carta de 1215 continha o embrião, basilar e fundamental, das liberdades políticas e do estado de direito como hoje é de conhecimento geral, em especial do princípio do habeas-corpus, da proibição de criar impostos sem prévia lei, da inviabilidade dos bens particulares e da criação de um conselho comum para assistir o governo (gênese do parlamentarismo). Os liberticidas de sempre adoraram esse silêncio dos publicistas ocidentais.
Nessa mesma oportunidade lancei, em contraponto, aquilo que poderia vir a acontecer em 2017 a propósito do primeiro centenário da Revolução Russa: àquele silêncio era quase certo que teríamos, em contraste, um massivo festival de publicações e eventos. Agravado esse contraste, enfatize-se, pela grande diferença, em termos de eficácia política, que marcaram os dois eventos: o ato inglês já completou 800 anos e promete ainda produzir efeitos; a coisa russa apodreceu e implodiu antes de completar 80 anos. Esse estrepitoso festival, que se promete para este ano, não pode esconder uma verdade de suma evidência: tais comemorações, não podendo repercutir um fiasco histórico, tentarão, em forma diversiva, usar a ensancha para promover aquilo que residual restou da Revolução Russa. Refiro-me ao “marxismo cultural”, esse subproduto legado da utopia comunista.
E aqui estamos diante de um fenômeno de sociologia política que persiste em desafiar a análise crítica e isenta dos politólogos. As explicações dadas a respeito têm trazido alguma luz, mas restam insuficientes ou incompletas. Fica-se sem saber os motivos pelos quais ainda remanescem adeptos da ideologia comunista. Toda uma experiência empírica de sucessivos desastres econômicos, somados aos milhões de vítimas de governos tirânicos de brutal totalitarismo, nada demoveu o ideário ideológico gerado a partir do marxismo. Mas, como dizia, o comunismo pereceu como sistema econômico e forma de governo, respirando hoje, no entanto ― e com inusitado vigor ― por meio de manifestações secundárias do “marxismo cultural”. Exemplo: veja a seu redor. Quando alguém se prontifica politicamente contra Família e Religião, ainda que não confesse expressamente, no fundo está cumprindo o catecismo do Manifesto Comunista.
Pois bem, e 2017 chegou. O festival já foi inaugurado por Elio Gaspari, (com alguma objetividade), em “O centenário da Rússia de 1917” (Folha de 11.01.17, A6). Prepare-se o leitor para a enxurrada de ensaios, livros, conferências, simpósios, painéis. Não está descartada a celebração de atos votivos religiosos ecumênicos oficiados por Boffs e Betos, com a bênção de alguns purpurados progressistas. Convidem-me para os 800 anos da revolução bolchevique.

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