NOVO MERCADO

A era dos contêineres pode finalmente chegar ao Porto do Itaqui

Emap prepara estrutura para abrigar mais de 30 mil contêineres por ano no porto. E para viabilizar demanda terá de buscar mercado fora do Maranhão

Honório Moreira

Um pátio com tomadas para abrigar contêineres refrigerados está projetado para ser construído na área do Porto do Itaqui, ainda este ano, segundo o presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), Ted Lago.

O local terá capacidade para armazenar entre 30 e 40 mil TEU’s por ano e visa suprir as futuras demandas de insumos e produtos transportados por contêineres refrigerados – TEU é a unidade base para medição de carga em contêineres. Ou seja, um contentor marítimo normal, de 20 pés de comprimento, por oito de largura e oito de altura, equivale a um TEU.

O presidente da Emap, Ted Lago, deixou claro que o primeiro nicho de mercado a ser explorado com a nova empreitada é o de carne processada. Entretanto, há o desejo de explorar outros mercados, como exportação de frutas, bens secundários já com valor agregado.

A obra pretende iniciar uma nova era no Itaqui, possibilitando ao porto exportar e importar novos produtos que só são transportados por esse modelo de armazenamento.

Mesmo com esse avanço, o Itaqui estaria distante dos portos movimentadores de contêiner do Brasil. O Porto de Santos (SP), por exemplo, movimentou 3,6 milhões TEU’s em 2015. O de Paranaguá (PR) mais de 782 mil TEU’s, de acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Nem o último porto da lista, Pecém, em Fortaleza, seria alcançado pelo Itaqui. Ele movimenta 180 mil TEU’s por ano.

Por que não temos contêineres?

Por dia, várias embarcações com contêineres passam por nossa orla. Porém, o descarregamento só seria viável se nosso porto tivesse 120 TEU’s para carregá-lo com o frete de retorno. No entanto, o mercado de exportação do Maranhão ainda não consegue suprir essa marca. O que leva as embarcações a descarregarem seus produtos em outros portos.

 Ted Lago explicou, contudo, que os baixos números do Itaqui no mercado de contêineres se dão pelo perfil graneleiro do porto, hoje voltado mais para a exportação de grãos, minérios, combustíveis (granel líquido) e outros insumos que são manejados por carga fracionada.

A baixíssima movimentação de contêineres, segundo Ted, não compromete a performance econômica do porto. Para ele, “criou-se um mito” no mercado em torno dessa desvantagem.

Parcerias para crescer

Para suprir a lacuna no mercado de contêineres, a Emap estuda buscar parcerias comerciais com outros estados. Segundo ele, o porto possui características vantajosas para atender essa demanda.

“Estamos buscando parceiros até o produtor local sentir confiança. Nós temos posição geográfica [privilegiada]. Um contêiner vindo de Goiás, por exemplo, chega para nós custando em média 3 mil dólares. Em outros portos custaria 10 mil”, explica.

Segundo Ted, “nós não temos acidentes geográficos e a carga chega em 4 dias, onde a distância é de 2 mil quilômetros. Assim como chegaria em 4 dias caso fosse transportada para o Sul, que fica a 600 quilômetros deles, mas que possui inúmeros acidentes geográficos”, detalhou o presidente da Emap.

Outro fator positivo da geografia maranhense é o fato da linha férrea que vem de Goiás não precisar passar por túneis permitindo assim o transporte dobrado de contêineres, colocando um em cima do outro, nos vagões do trem.

“O trem que vem para o Maranhão não precisa passar por túneis e, com isso, cada vagão, no lugar de carregar apenas dois contêineres, pode levar o dobro. Dois em cima e dois em baixo. Então, além de fazer o percurso no mesmo tempo hábil, ainda pode transportar o dobro de carga”, avalia.

América do Sul

Todavia, o presidente da EMAP pontuou que o transporte por contêineres não é forte nem mesmo na América do Sul, cuja proporção anual de contêineres que chegam ao nosso continente é de apenas 1,7% em relação a todo mercado mundial.

“As grandes rotas marítimas que usam contêineres estão majoritariamente no eixo latitudinal (de leste a oeste), que correspondem a Ásia, a Eurásia, Oriente Médio e a rota Europa-América do Norte. Essas regiões são mais de 90% do mercado marítimo mundial que envolvem contêineres”, esclareceu Ted Lago.

 “Perde-se muito sem contêineres”, diz especialista

Segundo o especialista em logística portuária Adriano Alves – gerente de negócios internacionais da empresa Intrading Global, com sede em São Luís – essa vocação do Itaqui ser graneleiro favorece as grandes empresas, como a Vale e a Suzano, e não ajuda os médios empreendedores maranhenses, principalmente os interessados em importar produtos de outros países e estados.

“Hoje existe essa demanda por contêineres sim, pois quase tudo que entra no nosso estado vem de fora. Não só de outros países, mas de outros estados. Muita coisa que compramos de estados vizinhos vem de importadoras. Os produtos chegam por contêineres em outros estados, para então serem repassados para nós por via rodoviária ou ferroviária”, comenta.

O especialista defende mais valorização para o mercado de contêineres e compara a demanda do Maranhão com o Piauí. Lá, segundo ele, haverá um porto seco só para esse mercado. “O Piauí vai ter um porto seco para contêineres. Você acha que o Piauí tem mais necessidade que nós?”, indaga Alves.

Ele revela que já existem empresários se organizando para suprir essa demanda e alcançar a marca de 120 TEUs para exportação. Para ele, o trabalho com contêineres é “algo obrigatório para qualquer porto”, não só por questões de logística, mas para gerar negócios locais a partir dessa demanda, aumentando a arrecadação de tributos por parte do Estado.

“Um porto que se preze precisa de uma rota de contêineres. Isso não é algo opcional. Os empresários maranhenses já estão se organizando para trazer essa rota para cá. Sem contêineres aqui se perde movimentação no porto e com isso menos empresas de serviços portuários atuarão. Os empresários usarão outros portos e aí terão que contratar serviços de empresas de outros estados”, pontua.

Com mais contêineres no Maranhão, o governo arrecadaria mais, já que toda carga seria nacionalizada localmente. “Se perde em impostos pois se você nacionalizar esse produto em outro estado, os impostos vão para esse outro estado. Um navio para vir para cá, ele paga taxas, paga prático… Fora que os produtos ficam mais caros pela já citada logística”, finaliza.

R$ 23 bilhões em movimentação no Itaqui

O Porto do Itaqui movimentou 23 bilhões de reais no ano passado. Valor equivale a cerca de um quarto do nosso Produto Interno Bruto (PIB) e um terço do ICMS recolhido pelo estado. O número poderia ter sido melhor, não fosse a péssima safra de grãos de 2016, onde o milho, a soja e o arroz apresentaram quedas de 47,6%, 39,0% e 35,9%, respectivamente, segundo o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC.

Outro fator que impactou negativamente as atividades do Itaqui foi uma mudança de estratégia da Petrobras em relação a exportação e importação de combustíveis. Desde que a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, entrou em atividade, a petrolífera prioriza a movimentação pelo Complexo Industrial Portuário de Suape.

Essas oscilações não chegaram a comprometer as atividades portuárias da Emap. Segundo Lago, a operação do Itaqui hoje é autossustentável. “Não dependemos de verba do orçamento do estado”, revela.

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