Da página do livro para o palco
Inspirados pelo projeto fotográfico ‘Visões de um poema sujo’, de Márcio Vasconcelos, atores fazem ensaio aberto com performance de fragmentos da obra ‘Poema Sujo’, de Ferreira Gullar
Uma das obras mais importantes do poeta, crítico de arte, dramaturgo, ensaísta, ficcionista e tradutor maranhense Ferreira Gullar será apresentada na próxima sexta-feira (13), pelos atores Áurea Maranhão e Claudio Marconcine em ensaio aberto com duração de 19 minutos. A encenação reúne fragmentos da obra Poema Sujo e começa às 18h30 na Galeria Trapiche, na Praia Grande. A direção é de Celso Borges, e o figurino assinado por Claudio Vasconcelos.
Segundo o jornalista e produtor cultural Celso Borges, a performance faz parte do projeto Visões de um poema sujo, do fotógrafo Márcio Vasconcelos, que reinventa os versos do livro escrito pelo poeta maranhense no exílio, em 1975, e que entra em cartaz este mês, em São Paulo. “Os versos de Gullar são redescobertos e reinventados pelos dois atores que vivenciam o espaço físico e a atmosfera de uma cidade que ficou gravada na alma do poeta”, explica Celso Borges.
Em São Paulo, a exposição será aberta no dia do aniversário da cidade, 25 de janeiro, no Museu Afro-Brasileiro, no Parque Ibirapuera. São 80 fotografias de Márcio Vasconcelos com curadoria de Diógenes Moura, além das participações de Rita Benneditto e Zeca Baleiro interpretando versos do Poema Sujo e fragmentos de canções do imaginário popular do Maranhão. “Visões de um poema sujo ganhou o XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. O olhar de Márcio Vasconcelos registra e reinventa a cidade do poeta, que nasceu e viveu em São Luís nos anos 30 e 40 do século XX. Esta foi uma forma que Marcio Vasconcelos encontrou para eternizar a obra mais importante de Ferreira Gullar”, acrescentou Celso Borges.
Celso Borges ressaltou ainda que o mergulho no Poema Sujo traz imagens da bela, pobre e úmida São Luís, o realismo caricatural de Gullar, lembranças de sua infância, cenas do cotidiano, emoções que agora serão comuns aos “filhos da mesma terra”, e a todos os brasileiros que serão convidados a embarcar nessa viagem onírica, mas profundamente realista, marcada por dor e prazer. Lembrando que o Poema Sujo retrata a poesia de uma pobre e úmida São Luís, e o realismo caricatural de Gullar.
Poema Sujo
Criado pelo fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos, o projeto propõe uma interpretação imagética do Poema Sujo, uma das principais obras da história da literatura brasileira, do poeta Ferreira Gullar, que também é maranhense e que faleceu no início de dezembro do ano passado aos 86 anos. O imortal, que era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2014, estava internado no Hospital Copa d’Or, na zona sul do Rio de Janeiro.
Quando idealizou o projeto, Marcio Vasconcelos fez questão de ressaltar que motivos não lhe faltavam para justificar e esclarecer a grande importância e ineditismo que o projeto Visões de um poema sujo teria a acrescentar à cultura do grande público brasileiro. “Primeiro como obra referência da fotografia artística brasileira, como também fonte de propagação de uma das principais peças da poesia brasileira, escrita por um grande nome como Ferreira Gullar. “Crio sensações visuais como se estivesse no lugar dele. Como seria essa São Luís? Quais os tons, nuances… ? Quem tem um mínimo de poesia na alma se encantará com esse projeto”, escreveu ele sobre o projeto. O fotógrafo ainda lembrou em sua justificativa citações do poeta, cantor e compositor Vinicius de Moraes, que referiu-se à obra assim: “Esse é o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”. E a escritora Clarice Lispector, que a definiu como: “Escandalosamente belíssimo”.