OPINIÃO

‘Natal, Natal’, do escritor Sebastião Jorge, debate o consumismo no fim do ano

Papai Noel é um expert garoto-propaganda, tanto que o mercado eletrônico conseguirá faturar, por baixo, cerca de 30 bilhões de reais.

Escritor, jornalista e professor Sebastião Jorge

O Natal é um tema que se repete ano após ano à sombra dos séculos. A mídia se preocupa apenas em divulgar o consumismo. Zomba do dono da festa, Cristo, e a sua história de sacrifícios… Tudo para salvar a humanidade. E vamos de mal a pior. Os fatos, todos conhecem. Lembrá-los neste mês é um dever do bom cristão. O pecado não mora apenas ao lado, espalhou-se e fez estragos.

Feliz é Papai Noel. Sempre sorridente. Entrou de penetra na festa e se eternizou no espaço alheio. Ajuda na publicidade os ricos a ganharem dinheiro através do jornal de papel, revista, na telinha da TV e no apertar à mão. Expõe uma placa do estabelecimento para o qual trabalha. O fim? Aumentar a venda dos produtos em oferta. Alguns falsificados.

Nada tem vendido mais que material eletrônico para crianças e adultos, como vídeos-games, histórias em quadrinhos dos heróis dos tempos modernos, como o Super-Homem, o Homem-Aranha, Batman e X-Men, além do notebook, tablet, iPad, máquina fotográfica digital e outras parafernálias idênticas.

A missão atual de Noel, que já não anda de trenó puxado a renas e sim, em automóveis marcas “Ferrari”, ou outro da Fórmula-1 ou um supersônico, não passa de um personagem que participa da construção de um mundo desigual e injusto. Um mundo sem doação e alegria coletiva. O seu “Rô, Rô, Rô” não é para dar, nem prometer às crianças presentes no dia 24 de dezembro. Estimula-as a comprarem e exigir dos pais brinquedos caros e sofisticados.

Vivemos tempos de cada um por si e Deus por todos. Não sou contra o bom velhinho, mas, à mudança de comportamento. Bons momentos da história aqueles que a garotada esperava deitada à noite na expectativa do presente de um Papai Noel generoso, compreensível com a bolsa dos pais. Deixava os meninos à espera da visita, felizes. Recebiam, sem cobranças o que pediam, coisas simples. Atualmente os presentes são escolhidos a dedo, nas lojas, antes da “feliz noite”, não no instante do bater dos sinos, anunciando a missa do Galo, que acabou por conta da violência nas ruas. O anúncio vem do espocar do champanhe, ou de um suco de maracujá.

O espírito cristão vai, em escala geométrica desaparecendo dos corações, para se alojar na soleira do esquecimento e da falta de solidariedade.

Poucas instituições, privadas, públicas e pessoas físicas tomam a iniciativa de estender à mão a quem precisa.

O mal de carência afetiva não está de todo perdido. Há os que compõem o grupo daqueles que ainda possuem bondade dentro de si, e arrecadam para distribuir. Benditos homens e mulheres, coisa rara nestes dias, que ajudam nas necessidades do pobre e dedicam-se a recolher de quem tem. É um belo gesto e nobre exemplo a iniciativa dos brechós para arrecadar e doar. Eis uma resposta àqueles que ostentam poder e dinheiro com banquetes suntuosos, mas carentes de sentimento no coração. Muitos quando o fazem não passa de exibição. Ou tomam a iniciativa para mostrar o lado forrado do patrimônio. Nada contra. Cada um gasta o seu dinheiro como desejar.

Os deserdados da sorte e olhados com desprezo, geralmente moradores de rua, na periferia ou num Asilo, desejam o que sobra. Contentam-se com uma roupa usada, cestas básicas e bens de primeira necessidade. Uma sopa ajudaria. Os natais antigos eram mais solidários.Os necessitados de hoje, um dia tiveram família e com ela dividiram as alegrias ao redor dos filhos e netos, que desapareceram. Felizes aqueles que não precisam dessas migalhas. E que o Natal dos pobres seja menos sofrido.

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