Endocrinologia Pediátrica

Obesidade infantil: Perigo acima do peso

Qualidade de vida depende de hábitos saudáveis que devem ser adquiridos desde a infância e que refletem na vida adulta

No Brasil, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, POF2008-2009, 33,5% das crianças de cinco a menores de nove anos apresentam excesso de peso. O mesmo percentual atinge os adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos com sobrepeso (33,5%), sendo que 8,4% estão obesos, segundo o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, ERICA -2015.
A obesidade infantil é um tema que ganhou muita repercussão nas últimas décadas. E não é preciso ir muito longe. Cada vez mais vemos um número maior de crianças com sobrepeso ou obesidade, o que preocupa a classe médica, pois a mesma está associada a alguns tipos de doença como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares em geral.
A médica Ianik Rafaela Lima Leal, especialista em Endocrinologia Pediátrica, aponta que a qualidade de vida depende de um hábito alimentar saudável e de atividade física, o que infelizmente não é observado com frequência. “Muitas crianças acabam tendo um hábito alimentar não saudável, ingerindo muita quantidade de açúcar. E quando eu falo de açúcar, eu não falo do puro e simples, eu falo, por exemplo, dos sucos de caixinha, muito alimento pré-pronto que às vezes é até um facilitador na correria do dia a dia, mas é preciso que os pais estejam atentos para a carga glicêmica desses alimentos. Eu entendo que a rotina acaba sendo atropelada pela correria, mas é preciso evitar os lanches prontos, os biscoitos recheados, os sucos de caixa e fazer com que a criança possa ingerir o máximo de frutas possível”, alerta a médica.
A questão do peso é relativa. Nem sempre uma criança magra está saudável. Essa é uma situação corriqueira no consultório da médica. “Às vezes eu tenho crianças que não têm um peso excessivo, mas têm um péssimo hábito alimentar. Não come nenhum tipo de fruta, só come condimentado, muito lanche na rua e não faz nenhum tipo de atividade física. Eu sempre digo que hoje não está gordinho porque o problema não é necessariamente o peso, mas o corpo cobra. Então, aquela criança que não está com sobrepeso, mas que se alimenta mal e que não tem na sua rotina atividades físicas, pode também ser penalizada mais tarde com alteração no colesterol e outros riscos”, avalia Drª Ianik.
Atividade física como aliada
Nem sempre, principalmente nas escolas públicas, a atividade física vem sendo vilipendiada na fase infantil, segundo a médica, que atende na clínica Clínica de Pediatria Dra. Narjara Chaves, mas também pelo Sistema Único de Saúde, no sistema público, a coisa ainda é mais difícil. “Às vezes tem educação física uma vez na semana. Para o adulto a gente pontua tanto que tem que fazer atividade física pelo menos três vezes na semana e as crianças estão ficando ali, de lado, sem se bater nessa tecla. É uma rotina que precisa ser em todo o âmbito, tanto no público, quanto no privado”, argumenta.
Se no setor público a especialista vê a pouca oferta de atividade física, no setor privado, ela observa a grande oferta de alimentos pouco ou nada saudáveis. “Inclusive tenho um relato de uma mãe que diz que o filho tem dificuldade de comer fruta e ela briga em casa para ele comer, mas na escola, o menino, que está na pré-adolescência, deixa de comer porque os outros colegas fazem bulling com ele por ele estar levando fruta como lanche. As escolas têm que ter a preocupação de ofertar um lanche como incentivo porque isso pesa pra uma criança. Eu até falei pra essa mãe: chame atenção, reúna os outros pais dos alunos, cobre da escola. A conclusão que eu chego é que a gente passou a fazer o errado com tanta frequência que o errado passou a ser certo. Então, o estranho é o que leva a fruta no lanche, o que não toma refrigerante, o que não come hambúrguer…”, diz.
Correria diária interfere
No mundo moderno onde os pais ficam mais ausentes em casa e o que é mais prático se torna mais comum é que reside o perigo. E o perigo é o alto preço que as crianças de hoje podem pagar em um futuro não muito distante.
“Os últimos anos vêm mostrando isso pra gente, temos criança com menos de 15 anos já apresentando pressão alta, diabetes. A gente precisa assumir essa responsabilidade, que é social e não apenas minha ou do meu filho. Então, a partir do momento que a criança estiver inserida no meio que a apoie em bons hábitos, que dê o exemplo, é muito mais fácil encaixar uma rotina saudável. Acho que dá sim para juntar família, escola…, não adiante em casa ela comer frutas se na escola ela não consegue ter acesso”, recomenda.
Mas a pergunta que todos fazemos é: como fazer com que a criança coma fruta? A médica responde que é preciso desconstruir para reconstruir um novo caminho. “O problema está lá atrás, não é de agora. Lá atrás quando você tenta inserir um tipo de fruta que a criança nega, a recomendação é insistir o máximo possível antes de passar pra outra. Esse trabalho tem que ser feito quando bebezinho mesmo. E é fácil? Não é. É um cabo de guerra. Normalmente nessas situações os pais precisam de ajuda tanto do endócrino pediatra, do nutricionista, e às vezes de um psicólogo. Dependendo da idade da criança você consegue negociar, mas aí depende muito da relação pai e filho. Se for uma menorzinha você pode fazer uma alimentação divertida para a criança se interessar, se for uma maiorzinha que tal tentar tirar o celular? (risos). Mas nunca desistir de dar. É difícil. Mas é pra isso que a gente está aqui, pra ajudar”, finaliza.
4 dicas que valem a pena
1- Não aconselho que as famílias levem as crianças para o supermercado, pois ela não tem condição de avaliar o que é bom ou não pra ela. E você sofrendo apres¬são do filho acaba cedendo;
2- Evite a comida pronta. Tudo aquilo que for pronto não é um alimento adequado, tipo bolinho empacotado, é delicioso, mas tem uma carga glicêmica muito alta. Os suquinhos de caixa são práticos, mas também tem essa carga alta;
3- Insira fruta no lanche. Fruta é sempre a primeira escolha porque a criança in¬gere fibra que ajuda a eliminar o colesterol;
4- As crianças precisam ser reeducadas no tipo de alimento que elas usam diariamente, porque o corpo cobra e infelizmente está cobrando cada vez mais cedo.
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