Pediatria

Epilepsia: Acompanhamento é fundamental

Saiba um pouco mais sobre essa síndrome comum a várias doenças e como ela pode ser controlada.

Distúrbio de grande incidência na população pediátrica, a epilepsia é definida pela Organização Mundial de Saúde como uma “afecção crônica de etiologia diversa, caracterizada por crises repetidas, devidas a uma carga excessiva dos neurônios cerebrais, associada eventualmente com diversas manifestações clínicas, dependendo da região do cérebro acometida”. Essas crises epilépticas podem ser espontâneas ou provocadas.
Segundo a Dra. Patrícia da Silva Sousa, neurologista infantil/neurofisiologista clínica e responsável pela Neurofisiologia Clínica do Hospital São Domingos em parceria com Dr. José Lauletta Neto, coordenador da Neurologia, a incidência dessa afecção na população pediátrica é grande, uma vez que deve-se ecordar que 75% dos pacientes epilépticos iniciam seus sintomas antes dos 18 anos. As crises epilépticas representam um dos mais frequentes problemas neurológicos na infância. Entre 0,5% e 1% de crianças e adolescentes saudáveis apresentam uma crise epiléptica associada com um distúrbio metabólico agudo ou um insulto neurológico, muitos dos quais ocorrem no período neonatal. Cerca de 50% dos casos ocorrem em crianças menores de 5 anos de idade, este número aumenta consideravelmente se a criança tiver algum problema neurológico de base.
No Brasil, 1,3% da população sofre de epilepsia e 50% destes portadores são crianças.
Este número transforma as epilepsias em problema de saúde pública, já que esta taxa é ainda maior que a taxa de ocorrência de algumas doenças infecto-contagiosas como a Aids. Pois cerca de 20% dos casos são classificados como de difícil controle. Os 10% restantes, verdadeiramente resistentes à medicação, têm ainda a opção do tratamento cirúrgico.
 
Por que a Epilepsia é tão frequente na infância e na adolescência?
O sistema nervoso central (SNC) da criança desde antes do nascimento se encontra em mudança dinâmica constante. Apesar de sua formação começar nas primeiras semanas após a concepção, sua maturação continua até a idade adulta. A criança, como consequência destas mudanças ativas, pode desenvolver crises epilépticas de maneiras que não se apresentam no adulto. Por um lado, certas síndromes epilépticas aparecem somente em uma faixa específica de idades, por outro, as manifestações clínicas das crises se modificam com a idade. Por exemplo, existe uma incapacidade do cérebro do recém-nascido para desenvolver crises generalizadas, chamadas de tônico-clônicas, eles apresentam frequentemente as chamadas crises sutis. Por isso alguns tipos de epilepsia na infância são tão difíceis
de se chegar a um diagnóstico final, pois se apresentam como um “continuum” podendo se modificar tanto por sua apresentação clínica, quanto por sua resposta à medicação.
Quais crianças são mais suscetíveis de ter epilepsia?
Crianças que tenham um histórico familiar positivo para epilepsia em parentes de primeiro
e segundo graus; crianças prematuras ou que sofreram algum problema metabólico ou de oxigenação ao nascimento; crianças com alguma síndrome genética ou neurológica; crianças que sofreram traumatismo crânio-encefálico ou encefalites.
Como se faz o diagnóstico?
Na maioria das vezes, o diagnóstico clínico é soberano, e o tratamento e orientação aos familiares iniciados de maneira precoce podem modificar o curso desta epilepsia. No entanto, durante a investigação para ser traçado um prognóstico mais preciso, serão necessários exames laboratoriais, eletroencefalográficos e de imagem.
Quais são os tratamentos mais indicados para o controle da epilepsia?
 
São os chamados fármacos antiepilépticos, medicações desenvolvidas especialmente para o tratamento da epilepsia. Existem indicações precisas dependendo do tipo e síndrome epiléptica que o paciente apresente, associados ao reconhecimento dos fatores precipitantes das crises. Quando a epilepsia é refratária, ou seja, não responde às associações de medicações, outros tratamentos devem ser cogitados como: pulsoterapia com corticoides ou imunoglobulina, o uso do Canabidiol medicinal, a dieta cetogênica, o estimulador do nervo vago, ou a cirurgia de epilepsia.
Toda criança com convulsão febril vai ter epilepsia?
 
Não, nem toda convulsão febril vai evoluir para uma epilepsia. As crises febris acontecem por uma imaturidade do sistema nervoso central da criança entre 6 meses e 5 anos de idade. São classificadas em: crise febril simples quando duram menos de 15 minutos; não há alteração no exame neurológico da criança após a crise apenas sonolência breve; geralmente é uma crise única em 24h, do tipo tônico-clônica generalizada (convulsão), e estas crianças vão ficar livres do risco de crises após os 7 anos de idade. Já as chamadas crises febris complexas se caracterizam por duração de mais de 15 minutos, alteração no exame neurológico após a crise, recorrência em 24h, e as crises parciais (motoras focais:só em um lado do corpo; ou complexas: alteração do comportamento – paradas comportamentais) têm uma chance maior de evoluir para uma epilepsia.
 
Como a senhora está atuando em termos de Diagnóstico e Tratamento das Epilepsias no Maranhão?
Esperamos em breve ter um Centro para Tratamento das Epilepsias aqui no Maranhão que permita assistência tanto ao setor público, quanto privado. Os primeiros passos estão sendo dados já há algum tempo, atualmente sou a neurofisiologista clínica responsável pela monitorização eletroencefalográfica nas UTIs do Hospital Carlos Macieira. E por dois ambulatórios públicos: o ambulatório de Epilepsia de Difícil Controle na Infância do Hospital da Criança da Alemanha, onde acompanhamos cerca de 380 crianças, do estado do Maranhão, com epilepsia, e o ambulatório de Microcefalia por Síndrome da Zika Congênita atendido no Centro de Referência em Neurodesenvolvimento, Assistência e Reabilitação de Crianças (Ninar), onde implantamos o Serviço de Eletroencefalografia e atendemos cerca de 130 crianças das quais 80% estão evoluindo com epilepsia no primeiro ano de vida. No setor privado, temos um consultório especializado em acompanhamento de crianças e adolescentes com epilepsia e distúrbios do desenvolvimento, onde qualquer terapia medicamentosa pode ser realizada, o Centro de Diagnóstico Neurológico, e contamos a partir deste mês com a parceria da Dra. Ana Gabriella M. de Amorim (nutricionista) para realização de dieta cetogênica para pacientes com epilepsia refratária.
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