Depois de quatro anos de negociações para um acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os colombianos decidiram não ratificar o acordo para encerrar o conflito que já dura 52 anos no país. A Agência Brasil conversou com alguns brasileiros que moram na Colômbia para entender os impactos do resultado e as possíveis causas que levaram à vitória do Não no plebiscito, realizado no dia 2 de outubro.
O catarinense Thiago Dal-Toe, mestre em Resolução de Conflitos e Paz Internacional, mora na Colômbia há dez anos e trabalhou ativamente pela campanha do Sim no plebiscito. Ele participou da campanha promovida por entidades da sociedade civil e partidos políticos, chamada Bogopaz. Para ele, é impensável para um país latino-americano seguir em uma guerra que já resultou em mais de 200 mil mortes.
“Esse país sofre muito com o narcotráfico, que esta incluído no acordo, e com a falta de confiança do capital internacional para investir em um país em guerra. Eles perdem muito o potencial de turismo que eles têm pela guerra e muitas multinacionais deixam de investir no país por medo de sequestros ou sabotagem aos postos de trabalho”, diz o brasileiro, que já trabalhou na Organização dos Estados Americanos (OEA) e no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A carioca Simone Pitta preside a entidade Aquarela Bogotá, que presta assistência à comunidade brasileira no país, e faz doutorado em Ciências Políticas na Universidad de Los Andes. Ela diz que é muito difícil para os brasileiros entenderem o que é um país com mais de 50 anos de guerra e avalia que a vitória do Sim seria a possibilidade de iniciar uma nova ordem política, social e econômica no país.
“Por mais que a gente tenha cidades com grandes índices de violência, como o Rio de Janeiro, é diferente de um país em guerra onde você tem gerações que passaram por isso. A geração do meu marido, por exemplo, não nasceu em paz. E as implicações disso não são só econômicas. O número de vítimas que a Colômbia tem, de vários tipos de violência, é de uma dimensão que se compara a guerras de grande intensidade”, avalia a brasileira, que mora há três anos no país é casada com um colombiano.
Mesmo como residentes permanentes na Colômbia, os brasileiros não podem votar em eleições de caráter nacional, a não ser que sejam naturalizados colombianos. Eles podem participar apenas de eleições municipais no país.
O professor e tradutor paulista Nuno Alves Ferreira se mudou há dois anos para a Colômbia, para trabalhar em um projeto de ensino em escolas públicas. Ele diz que seguramente votaria no Sim, se pudesse participar do plebiscito e considera a vitória do Não negativa, especialmente pelas oportunidades econômicas que o país perde, pelos que sofreram e sofrem com a guerra e pela divisão que o país entra neste momento. “A tristeza dos que esperavam pelo Não é realmente visível e forte em toda a cidade e em muitos ambientes. A agressividade com que as pessoas têm se tratado, quando falam desse tema também tem aumentado, no meu ponto de vista”, diz.