A Maçonaria pode ser considerada o melhor exemplo de instituição duradoura no mundo, surgida ainda na Idade Média, de entre pedreiros pertencentes às corporações de ofício (maçon, em francês), a ordem, que tem raízes simbólicas anteriores aos medievo, adotou ao longo dos séculos uma postura de “sociedade secreta” com protagonismo político, sendo responsável, na maioria das vezes indiretamente, pelas grandes revoluções que mudaram a geopolítica mundial entre os séculos XVIII e XIX.
Uma mistura de crença no Deus cristão e aspectos da alquimia, a Ordem dos Maçons Livres e Aceitos atingiu no século XX contornos de entidade filantrópica, mas ainda é cercada de mistérios que remontam, inclusive à supostas ligações conspiratórias, sendo abertamente rechaçada por igrejas cristãs, mesmo que adotem a crença no Deus triuno, expressa em um de seus maiores e mais famosos símbolos, o triângulo formado pelo compasso e esquadro com um G (God, Deus em inglês) no centro.
No dia 20 de agosto se comemora o Dia do Maçom, e O Imparcial foi conversar com um deles para entender melhor como funciona a Ordem no Maranhão e qual a sua influência atual na sociedade, onde ministros, desembargadores e o próprio presidente interino Michel Temer é maçom.
Maçonaria e política
Questionado sobre se ter um presidente maçom poderia facilitar que a Ordem readquirisse o poder e influência que possuía no Brasil, que teve a articulação de Independência feita por um príncipe maçom, José Maria Braga, a 31 anos membro da Loja Macônica Deus Pátria e Liberdade, explana que tudo que a organização quer é que ele use o que aprendeu na Maçonaria para olhar com mais “atenção às questões sociais”. “Não acredito nesse influência. Há vários políticos maçons, mas tudo que a Maçonaria quer é que o Temer execute o interesse e o bem da sociedade, e que seja mais humano em suas políticas públicas”.
Para Braga, a situação política do Brasil hoje é “difícil”, já que a sociedade não acredita mais nos representantes, mas não é papel da Maçonaria intervir diretamente. “Temos um problema de desigualdade muito grande, mas ele (Temer) não foi eleito pela Maçonaria, então tudo que esperamos é que seja um bom presidente e use o que aprendeu”, comentou.
O próprio Dia do Maçom, comemorado no Brasil em 20 de agosto, carrega uma forte ligação com a política do país. “Esse dia foi escolhido pois Gonçalves Dias discursou sobre a iminente Independência do Brasil na Loja Grande Maçônica do Rio de Janeiro uma semana antes do 7 de Setembro”, explicou José Maria Braga. O Dia Internacional do Maçom, por sua vez, é comemorado em 22 de fevereiro, mesmo dia do aniversário de George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos.
Maçonaria e Cristãos
Os princípios maçons remontam à ideia de igualdade entre os homens, amplamente difundida no Iluminismo, corrente filosófica e política do século XVII que teve entre seus fundadores pensadores como Voltaire, Francis Bacon, Thomas Hobbes, René Descartes, John Locke, Isaac Newton, Jean Jacques Rousseau, entre outros.
Entre essas ideias está a livre confissão religiosa e adoção de princípios pregados por Jesus Cristo, como o amor ao próximo e a caridade, no entanto a Maçonaria é abertamente rechaçada por lideranças e membros de igrejas cristãs protestantes, uma contradição, já que, dois dos mais expressivos líderes das igrejas Assembleia de Deus e Universal, os pastores Silas Malafaia e Edir Macedo, esse também bispo, são apontados como maçons.
“O Malafaia é sim maçom”, afirma José Maria. “Todos os evangélicos tem seus ritos e sua religiosidade, a Maçonaria também. Nós respeitamos todas as religiões, pois entendemos que o macro e micro cosmos foram criados pelo Arquiteto do Universo, Deus. Não somos uma religião, dessa forma não somos contra nenhuma”, frisou.
O Papa João Paulo II fez este atestado, em um documento onde a Igreja Católica apaziguou as duas instituições. A Sé Romana e a Maçonaria tiveram seus momentos de estranhamento, com o ápice em 1783, quando o Papa Clemente XII proibiu os católicos de se tornarem maçons.
Maçons maranhenses e uso de símbolos
Hoje a Maçonaria tem um caráter de sociedade discreta, um passo à frente em sua antiga classificação de sociedade secreta. Mas Braga lembra que seus ritos não são de interesse público. “Nossos rituais devem ser respeitados. Somos uma ordem antiga e cheia de símbolos e de filosofia”, explica o maçon. Ele ressalta que o fato de hoje ser comum ver em carros o símbolo maçom do triângulo, significa que aquela pessoa se orgulha de ser maçom e se orgulha de seu símbolo “elegante”.
O triângulo maçom é encontrado em construções e documentos históricos por todo o mundo, figurando inclusive no verso da nota de um Dólar americano. Essa aparição, carregada de mitos, tem uma explicação simples: três dos “pais fundadores” dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, George Washington e Benjamin Franklin eram maçons, e o triângulo ou pirâmide é o principal símbolo da organização.
No Maranhão a influência maçônica não foi diferente. Políticos, escritores, empresários e figuras do Direito do passado e do presente fazem parte da Ordem. “Podemos citar do passado o poeta Gonçalves Dias. Do presente é complicado citar políticos, uma vez que suas atuações nem sempre condizem com o que aprendem na Maçonaria. Mas podemos citar Edison Vidigal, e Jeferson Portela. Também o empresário e médico José Bonifácio, dono da UDI, é um maçom de destaque”.
Ele também cita o trabalho desenvolvido pelo auditor do Ministério do Trabalho no Maranhão, Lourival Cunha, a frente da Ong SOS Vidas, que faz trabalhos de conscientização por um trânsito seguro, apoia familiares de vítimas de acidentes e tem cobrado agilidade do poder público nas obras de duplicação da BR 135, por exemplo.
Mulheres e Maçonaria
As discussões sobre o feminismo, participação das mulheres em diversas esferas sociais e a igualdade de gênero não parece estar na agenda da Maçonaria, mesmo que essa seja a discussão mais em voga no mundo todo. A Ordem até hoje inteiramente formada por homens e não tem planos de mudar isso. Como frisou Fortes Braga, “é uma tradição, uma das leis de nossa instituição (o ingresso apenas de homens)”.
“Mas um homem só entra para a Maçonaria com o apoio de sua esposa. Elas são chamadas de Samaritanas e fazem suas reuniões de filantropia, entretanto não entram para os locais reservados onde os homens buscam evolução espiritual”, ressaltou o maçom.
Protagonismo histórico
O nome Maçonaria Livre se deve ao fato de na Idade Média, época de grandes construções de pedra, os pedreiros tivessem mais liberdade por viajarem à trabalho, coisa que não era permitida aos servos, ligados à terra e ao senhor feudal, como explica Eduardo Basto de Albuquerque, professor de história das religiões na Universidade Estadual de São Paulo.
Com o passar do tempo a Maçonaria cresceu, recebeu membros não ligados ao ofício de pedreiro, transformou-se em uma fraternidade, atraiu políticos e se ligou fortemente aos ideais iluministas do século XVIII, “tanto que a organização teve forte influência nos bastidores da Revolução Francesa, Independência dos Estados Unidos, além da Abolição da Escravatura, Independência e Proclamação da República no Brasil”, contou o historiador, em entrevista à revista Superinteressante. O próprio mote da Revolução Francesa “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” remete diretamente aos preceitos da Maçonaria e do Iluminismo.