A NOTÍCIA

Especialistas comentam como chegar aos 90 anos de história

O jornal O Imparcial, que hoje completa 90 anos, já observou inúmeros momentos da sociedade no Maranhão e no Brasil, buscando, segundo sua linha editorial e nome de batismo, ouvir as várias versões de um fato

O mundo é polarizado e cheio de extremos. Norte e Sul, ricos e pobres, direita e esquerda, oposição e situação. O equilíbrio nesse cenário muitas vezes se confunde com não ter opinião. Onde o jornalismo pode então se colocar, em épocas de polos se repelindo, sem ser tachado de “isentão”, uma das alcunhas pejorativas em moda nas redes sociais no Brasil?
O jornal O Imparcial, que hoje completa 90 anos, já observou inúmeros momentos da sociedade no Maranhão e no Brasil, buscando, segundo sua linha editorial e nome de batismo, ouvir as várias versões de um fato, emitindo opinião, e se posicionando do lado do leitor, que busca em suas páginas um terceiro olhar sobre os fatos.
Em seu artigo para o Estadão “Bom jornalismo fascina e vende”, o doutor em Comunicação Carlos Aberto DiFranco diz que “essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. Jornalismo não é uma ciência exata e os jornalistas não são autômatos”. O mesmo reflete, entretanto, que “militância e jornalismo não combinam”.
DiFranco lembra que o princípio básico do “esforço de isenção” é “mínimo e incontornável”, essencial para que as notícias publicadas não sejam “um jogo de cena”. Para ele, o “jornalista ético esquadrinha a realidade, já o profissional preconceituoso constrói a história”.

11/07/2014.Crédito:Karlos Geromy/OIMP/D.A.Press.Brasil.São Luís-MA. Benedito Buzar, presidente da Academia Maranhense de Letras (AML).

Ser Justo é essencial

Mestre em Comunicação Multimídia, a maranhense Márcia Alencar alerta que a ausência de posicionamento ao se reportar uma notícia “só seria possível se robôs escrevem as matérias”, corroborando o assinalado por DiFranco. No entanto, segundo a professora, o jornalista tem de “primar pelo que é justo, pelo que é verdadeiro, ouvir os dois lados e ser honesto”, declara jornalista e professora. “A busca pela imparcialidade é um apelo ‘cultural’, e o jornalista é um ser social com escolhas, ideais, crenças e ações. Sendo a linha editorial de um veículo por si só tendenciosa”, declara.
Para onde se projetam essas escolhas e tendências, entretanto, é o X da questão. Em 90 anos de O Imparcial, o veículo tem se mostrado “fiel” ao que se propôs desde a fundação, pelo jornalista maranhense J. Pires, como conta o presidente da Academia Maranhense de Letras, jornalista e professor de Ciência Política, Benedito Buzar. Para ele, a própria escolha do nome foi acertada, refletindo os ideais fundamentais da instituição. “O Imparcial é um jornal tradicional, se firmou no estado correspondendo muito ao próprio nome. Quando J. Pires fundou O Imparcial, foi muito feliz na escolha desse nome, ao longo do tempo essa tem sido a linha mestra de comportamento do jornal. Hoje é muito difícil manter isso, um jornal não se bandear para um lado, uma facção, um grupo”, disse Buzar.
O fôlego de um sobrevivente
Com 90 anos, O Imparcial é hoje um senhor experiente, mas também que se renova, em meio à crise de identidade que os veículos impressos têm passado. Como ressaltou Buzar, “hoje o jornal impresso vive dias de inquietação. O on-line informa na hora, e então alguns jornais têm ficado perdidos, em que espaço é o deles, há um dilema muito grande”.
“A mídia impressa já vem encontrando meios de se posicionar. O caminho é oferecer um olhar novo e crítico sobre o que tem ocorrido na sociedade. Ao meu modo de ver, esse é o viés que tem de ser encontrado, e os grandes jornais já têm seguido esse modelo”. Ao on-line se deixa o factual, e o impresso passa à análise e prospecção dos fatos. E, a despeito dos críticos apocalípticos, que profetizam o fim do jornal impresso, Benedito Buzar é enfático: “O jornal vai sobreviver”.
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