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Pressão sobre valor do combustíveis abre crise na Petrobras

Conselho da estatal se rebela contra interferência, ainda que a diretoria tenha autonomia para decidir sobre os valores cobrados pelos produtos, e segura decisão

Após aumento nas refinarias, postos de combustíveis já fazem reajuste de preço para o consumidor. O governo federal divulgou os índices de 6% para a gasolina e 4% para o diesel - Foto: OIMP/D.A Press
Desesperado por uma agenda positiva, o governo voltou a pressionar a Petrobras, desta vez para reduzir os preços dos combustíveis nas bombas e, com isso, aliviar os índices de inflação. A tentativa caiu como uma bomba no conselho de administração da estatal, que não quer colocar a perder a única forma de reconstituir, ao menos um pouco, o combalido caixa da petroleira, assolado pela corrupção e pela ingerência política. A diretoria, no entanto, deixou claro que a política de preços é um assunto de gestão e, portanto, ela tem a palavra final. No meio dessa polêmica, estão os consumidores brasileiros, que atualmente pagam a gasolina mais cara do mundo.
No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, quando o barril de petróleo superou os US$ 100 no mercado internacional, o governo não permitiu que a Petrobras aumentasse os preços nas bombas do país, segurando, assim, os índices de inflação. No período, segundo o diretor do Conselho Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, a defasagem provocou um prejuízo de R$ 100 bilhões à estatal. Agora, depois de o valor do barril de petróleo ter caído abaixo de US$ 30 com excesso de oferta no mercado mundial, e hoje estar cotado em pouco menos de US$ 40, o governo tenta manipular os preços do mercado interno novamente para conquistar a simpatia dos consumidores.
Ontem, o preço no Brasil pelo litro da gasolina estava 18% mais caro do que no mercado internacional e o do diesel, 60% maior, explicou Pires. Se considerar a média mensal, os índices são de 26% e 51% respectivamente. Tal defasagem já foi capaz de recompor o caixa da empresa (veja no quadro ao lado), mas ainda não compensou todo o prejuízo provocado no passado.
O conselho afirmou que a posição dos conselheiros da Petrobras é “afinada com o mercado”, ou seja, que a redução de preços abalaria a estratégia da companhia para reconquistar credibilidade. Após a polêmica, o presidente da companhia, Aldemir Bendine, encaminhou e-mail para os membros do conselho, afirmando: “Não houve qualquer decisão tomada no sentido de ajustar preços dos principais derivados”.
Na correspondência aos conselheiros, Bendine destacou que houve “debate” sobre o assunto, e que é dever da diretoria monitorar os custos e o comportamento do mercado. “São esses os fatores que norteiam nossa política de preços. Não há qualquer tipo de politização desse tema. Estamos todos aqui, diretores e conselheiros, com o objetivo de atender única e exclusivamente os interesses da Petrobras”, disse. Mas Bendine ressaltou a queda nas vendas da gasolina e do diesel no Brasil. “A retração do mercado consumidor causou o debate sobre a redução nos preços”, completou.
Oficialmente, a empresa enviou um comunicado: “A Petrobras informa que não há previsão, neste momento, de reajuste nos preços de comercialização de gasolina e diesel. Sobre o assunto, vale esclarecer que a companhia avalia permanentemente a competitividade de suas práticas e condições comerciais.”
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