NOSSO PAPEL

O tempo nao apaga, por Neres Pinto

“Confesso que tomei um susto quando a equipe técnica colocou em funcionamento aquele equipamento que recebia as noticias como se fora uma máquina de datilografia escrevendo sozinha.”

Neres Pinto, editor de Esportes de O Imparcial

O tempo voa. Parece que foi ontem que cheguei aqui, mas ainda guardo muita coisa na memória. Muito jovem, tímido, inexperiente, mas com um propósito: realizar o sonho de ser jornalista. Como enfrentar tamanho desafio? Para alcançar este objetivo, logo assumi um compromisso comigo mesmo. Disciplina, dedicação e humildade teriam que estar à frente das minhas pretensões. Havia começado no rádio, onde já desempenhava as funções de redator de jornais falados, o suficiente para que o coordenador e locutor da Rádio Gurupi (emissora dos Diários Associados), Arnold Filho, acreditasse em meu trabalho. 

Então, começava ali, no casarão da Rua Afonso Pena, minha busca para colocar em prática uma vocação. O desejo era um dia fazer parte da equipe do jornal O Imparcial, onde também trabalhava o meu primeiro diretor de jornalismo, Fernando César, na Rádio Educadora, e outros colegas radialistas. Não demorou muito e lá estava eu redigindo as notícias nacionais, uma tarefa que não era tão fácil, devido às escassas ferramentas da época.

A indicação foi do radialista e jornalista Francisco de Oliveira Ramos, editor-geral, logo aprovada pelos diretores Almada Lima e Adirson Vasconcelos. Para levar aos leitores os fatos de maior destaque, tinha que estar ligado, atentamente, ao canal de acesso mais fácil: o noticiário das grandes emissoras de rádio do país.

Às vezes com boa qualidade de recepção, outras com sinais de recepção mais fracos (com interferência de rádio frequência, ruídos tradicionalmente chamados de RF), bem como a Voz da América, BBC de Londres, Rádio Central de Moscou e tantas outras rádios que transmitiam em ondas curtas.

“A tecnologia avançou. Aposentaram o telex, o teletipo e o telefoto. O Imparcial, sempre na vanguarda do jornalismo maranhense, aderiu à tecnologia moderna e foi um dos primeiros a ter suas páginas coloridas.”

Neres Pinto

Num período em que as telecomunicações ainda não tinham chegado ao Maranhão (não assistimos aos jogos da Copa de 70 ao vivo), o noticiário nacional era completado pela agência de notícias Meridional, dos Diários Associados, via malote. Chegava à redação sempre 24 ou 48 horas depois, sempre acompanhado das fotos. Com a implantação da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) em todo o país, algo novo chegaria para facilitar a captação do noticiário nacional e internacional: o telex, uma ferramenta fantástica, pela sua velocidade de transmissão de dados à época.

O tempo foi passando e, pelo fato de militar na crônica esportiva, logo veio a indicação feita pelo jornalista Moreira Serra, editor-geral, para que eu ocupasse o posto deixado pelo saudoso e competente Mauro Campos. Em princípio, recusei. Quem era eu para substituir um colega de renome, com a habilidade e experiência de Mauro? Mas, Moreira insistiu e acabei aceitando.

De editor de esportes acabei também sendo mais tarde o responsável pelo fechamento do Caderno B, que tinha em seu conteúdo matérias diversas, colunas sociais e material dos correspondentes do interior. Valeu a pena trabalhar e aprender com tanta gente talentosa e disposta até os dias atuais, entre os quais destaco o companheiro Haroldo Silva, chamado de “O Eclético”, pela sua capacidade de atuar em todas as áreas jornalísticas para as quais era convocado. Nesse período tivemos a oportunidade de entrevistar grandes astros do futebol local e nacional, entre eles, Zico, Rivelino, Roberto Dinamite, Zagalo, Telê Santana, Luxemburgo, Felipão e tantos outros.

Produzimos matérias de grande repercussão, uma das quais culminou com a CPI Nacional do Futebol, para apurar irregularidades cometidas dentro das federações na transferência de atletas com idades adulteradas, inclusive para o exterior. Os trabalhos da comissão que tinha o comando do deputado Aldo Rebelo, pela importância do assunto, começou por São Luís, de onde partiu a primeira denúncia publicada em O Imparcial e seguiu pelo Brasil afora, onde a prática também era comum no final dos anos 90.

A tecnologia avançou. Aposentaram o telex, o teletipo e o telefoto. O Imparcial, sempre na vanguarda do jornalismo maranhense, aderiu à tecnologia moderna e foi um dos primeiros a ter suas páginas coloridas. Motivo de orgulho para sua equipe e para seus leitores. Hoje, ao completar 90 anos, nosso jornal permanece jovem. A cada dia se reinventa para que possa assumir o peso da sua tradição.

Conquistou a mais alta credibilidade e confiança, graças ao compromisso com a verdade dos fatos, a ousadia e o pioneirismo, enfim, um produto que também é uma fonte de cultura, sempre muito preocupado com um modelo de comunicação moderna, realizando os anseios de seus leitores. O tempo voou rápido como um pássaro, mas O Imparcial nestas nove décadas não ficou para trás e segue firme a sua trajetória, servindo, inclusive, de inspiração para outros veículos de imprensa. Parabéns!

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